Maternidade

Cidade de São Paulo vai ampliar atendimento para gestantes dependentes químicas

Ideia é firmar parceria para encaminhar mulheres grávidas que vivem nas ruas ao Amparo Maternal, instituição que há 74 anos abriga e presta atendimento médico e psicológico para as futuras mães

Amparo Maternal/ Divulgação

Em média, 1.200 mulheres em situação de rua são atendidas por ano no Amparo Maternal

São Paulo – A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo prevê expandir o atendimento a dependentes químicos potencializando serviços específicos para gestantes. O secretário-adjunto da pasta, Paulo de Tarso Puccini, declarou à RBA que o órgão pretende firmar uma parceira com a maternidade Amparo Maternal para encaminhar mulheres grávidas abordadas nas tendas de acolhimento a moradores de rua, montadas no centro da cidade pela prefeitura.

O prefeito Fernando Haddad afirmou esta semana, durante entrevista coletiva sobre a reforma da educação municipal, que o enfrentamento da dependência química no município está passado de “uma lógica de repressão policial e atendimento” para “saúde pública e monitoramento com inteligência”. Segundo ele, serão instaladas câmeras na região central de São Paulo para tentar combater o tráfico de drogas.

A gerente do Centro de Acolhida do Amparo Maternal, Jakelini Dominici, diz que não há “nenhuma barreira” para a parceria. “Existimos há 74 anos e recebemos muitas mulheres encaminhadas pela prefeitura. É só mandar para cá”, brincou. A maternidade, ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS), realiza uma média de 172 pré-natais por mês, além de 1.502 consultas de emergência obstétrica e 11.623 exames de análises clinicas e de imagens. Em média, a equipe realiza 625 partos mensais, a maioria normal.

A parceira da prefeitura, no entanto, será prioritariamente com o centro de acolhida: uma casa que abriga gestantes em situação de rua até seis meses após o parto, oferecendo atendimento médico, psicológico, psiquiátrico e oficinas de inglês, informática e artesanato, além das refeições e do enxoval.

“Elas podem vir via CREAs (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) ou podem chegar aqui na porta que nós acolhemos. Ela só precisa estar grávida. Com o bebê no colo não temos como abrigar”, diz Jakelini. Segundo ela, a maioria das mulheres abrigadas são dependentes químicas. “Elas estão sem família, na rua. Ficam de abrigo em abrigo até chegarem aqui.”

O Amparo Maternal, no entanto, não é um centro de reabilitação para dependentes químicos. “A droga é uma conseqüência. A gente entra com o apoio, análise e psiquiatra. Quando no pré-natal o médico identifica a questão da droga, ele já entra com medicação. E nós, com palestras.” A casa tem capacidade para abrigar até 100 mulheres ao mesmo tempo. Em média, 1.200 são atendidas por ano no centro de acolhida.

Os casos mais crônicos de dependência, em especial de crack, encontram mais dificuldade de permanecer no centro. Em geral, as mulheres não se adaptam às regras da casa e acabam voltando para a rua. “Tem o caso de uma que deixou o RG comigo, foi fazer o exame e quando voltei não estava mais lá, não chegou nem o resultado. Algumas vêm só para almoçar e vão embora”, conta a assistente social Adriana Pinto dos Santos. “Nosso foco, no entanto, é motivar a superação e a retomada de consciência. E isso acontece bastante.”

É o caso de Amanda*, de 27, que chegou gestante ao Amparo Maternal e hoje vive na casa com a filha, Renata*, de três meses. Natural de Belém do Pará e mãe de mais dois filhos, que estão sob a guarda de outras famílias, Amanda tem um histórico de prostituição e dependência química.

“Em Belém eu trabalhava como manicure de dia e à noite como garota de programa, porque eu não me sentia satisfeita com o que ganhava. Tinha que comprar coisas para a minha filha e muito era para a droga” – que ela consumia com o companheiro. A convite de uma amiga, Amanda veio para a cidade de Santos (SP), onde permaneceu por um ano, com a promessa de lucrar mais com a prostituição, “Estou há três em São Paulo e não uso mais drogas.”

Na capital paulista, ela trabalhou como prostituta no centro da cidade. “Era um prédio de nove andares, só disso. Passam 300 homens por dia lá. O famoso ‘vintão’”. Devido às condições insalubres do local, ela chegou a morar com dois companheiros e hoje não sabe ao certo qual deles é o pai do bebê. Com assessoria do Amparo, ela entrou com um processo de reconhecimento de paternidade junto à Defensoria Pública. Agora, Amanda quer retomar os estudos, interrompidos na oitava série, e conseguir um trabalho.

“O que vemos muitas vezes é que as histórias se repetem: o que aconteceu com a avó acontece mais ou menos com a mãe e as filhas. Mas aqui temos muitas superações. São mulheres que arrumam trabalho, que voltam para a família que recriam seus laços e seguem uma vida centrada e plena”, conta a assistente social.

O Amparo Maternal fica na rua Loefgreen, 1901, na Vila Clementino. A instituição aceita doações de alimentos não perecíveis, fraldas descartáveis (R ou P), cotonetes, sabonete líquido infantil algodão, roupas de bebê (P, M ou G) e roupas de gestante. É possível entrar em contato pelo telefone 5089-8275 e pelo e-mail [email protected]

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