Dengue

Troca de prefeitos e novo vírus contribuíram para aumento da dengue no centro-sul

A chegada de um novo subtipo do vírus é outro fator que contribui para o aumento dos casos. Há quatro tipos em circulação. Minas, Paraná e Goiás têm número maior de ocorrências

Vieira G. J., Inst. Oswaldo Cruz

Sem vacina contra dengue, a única forma de prevenção é combater o mosquito transmissor

São Paulo – A interrupção dos programas de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue, está entre as principais causas do aumento da incidência da doença nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Os estados de Minas Gerais, Paraná, Goiás, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro concentram a maior parte dos casos registrados em todo o país e tiveram aumento da transmissão em comparação ao ano passado.

De acordo com o coordenador-geral do Programa Nacional de Controle da Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho, a troca de prefeitos em muitos municípios interrompeu ações preventivas e de combate ao vetor. “Foi um momento de transição, que pode ter ocasionado a descontinuidade de ações como limpeza da cidade e visitas dos agentes”, afirmou.

O estado com mais ocorrências é Minas Gerais, que só em abril registrou 32.074 casos, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), subordinada ao Ministério da Saúde. O número é mais que o dobro do segundo colocado, o Paraná, com 14.558. O governo mineiro registrou dengue em praticamente todo o estado, com destaque para o Vale do Aço, o Triângulo Mineiro, o Norte de Minas e a Zona da Mata, os dois últimos que tradicionalmente não tinham muitos casos registrados. Até abril, a doença matou mais de 50 pessoas no estado.

“Além do sorotipo 4 temos também o 1 circulando em Minas Gerais. Fora isso, a maioria dos municípios trocou de prefeito, o que impediu a continuidade das ações de prevenção com a troca de suas equipes”, argumenta a coordenadora de Zoonoses da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, Mariana Gontijo. Apesar da queda considerável no número de casos no estado entre março e abril, que chegou a atingir 77.659, a expectativa é que o controle da doença leve ainda algum tempo. “Tivemos um número elevado de casos”, diz Mariana.

De acordo com ela, já foram contratados mil agentes de prevenção e será oferecida assistência para os municípios, como a capacitação de médicos e enfermeiros e a produção de material educativo de ações preventivas. Um levantamento do governo estadual apontou que entre 70% e 80% dos focos da doença estavam dentro dos domicílios.

Sexto colocado no ranking dos estados com maior número de casos da doença, o Rio de Janeiro tem um terço de seus municípios com epidemia de dengue. Já foram registradas 18 mortes. Entre eles estão Búzios, Cabo Frio, Volta Redonda, Resende, Barra Mansa, Paraty e Nova Friburgo. O subtipo 4 é o vírus predominante, identificado em mais de 90% dos casos. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, 90% dos focos do Aedes estão nas casas.

Embora o estado de São Paulo não esteja entre os mais afetados nos últimos dois meses, há cidades com surtos na Baixada Santista e no Interior. Santos registrou 8.012 casos confirmados, com cinco mortes; em Praia Grande, 5.800 registros, sem morte; em Cubatão morreram três pessoas e foram confirmados 2.597 casos. Em Limeira, na região de Campinas, até o final de abril foram notificados 504 casos. Na vizinha Sumaré, a doença matou um homem de 58 anos.

A circulação de um novo tipo do vírus, o sorotipo 4, para o qual a população brasileira ainda não tem resistência, é outro motivo do aumento da incidência da doença. “Ele chegou ao país pelas fronteiras no Norte e, devido ao deslocamento das pessoas, se espalhou pelas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste”, afirmou Coelho.

Segundo pesquisas, circulam ao mesmo tempo diferentes linhagens de vírus da dengue, o que dificulta o desenvolvimento de vacinas. Existem, ao todo, seis tipos do vírus.

Apesar de ainda preocupante, o número de casos caiu em todo o país entre março e abril. Segundo o Ministério da Saúde, nas três primeiras semanas do último mês, a incidência da dengue começou a diminuir em todas as regiões do país em comparação com o mesmo período de março.

Sintomas

Dengue Clássica – Febre alta com início súbito, forte dor de cabeça, dor atrás dos olhos, que piora com o seu movimento, perda do paladar e apetite, manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, náuseas e vômitos, tonturas, cansaço extremo, moleza e dor no corpo, nos ossos e articulações.

Dengue Hemorrágica – Os sintomas são os mesmos do tipo comum. A diferença é que quando a febre diminui, surgem os sinais de alerta: dores abdominais fortes e contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sangramento pela, boca e gengivas, manchas vermelhas na pele, sonolência, agitação e confusão mental, sede excessiva e boca seca, pulso fraco, dificuldade respiratória e perda da consciência.

Neste ano, o pico da transmissão ocorreu na primeira semana de março, quando foram registrados 84.122 casos. A partir deste período, houve uma redução progressiva, com o registro de 35.351 casos na segunda semana de abril, o que representa uma redução de 58%. Essa tendência é observada em todas as regiões que tiveram transmissão intensa durante o ano.

No Centro-Oeste, que tem a sazonalidade antecipada, o pico da transmissão ocorreu antes, na última semana de janeiro. “A queda se deve ao clima seco. Vamos agora fazer um balanço da epidemia e nos preparar para 2014”, diz Coelho. “É importante não baixar a guarda. Agora que os prefeitos já sentaram em suas cadeiras e formaram suas equipes é preciso reforçar as ações”.

De acordo com a entomologista Denise Valle, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a dengue é um desafio porque o combate ao mosquito transmissor ainda é a única forma de prevenir a doença para a qual ainda não existe vacina. “Gestores da saúde têm sua responsabilidade, claro, mas a prevenção da doença depende também de saneamento, sensibilização, da educação, do envolvimento da população. É uma questão de higiene pública, que não pode ser toda creditada na conta da saúde”, disse.

Vacina

Estão em andamento pesquisas para obtenção de imunizantes contra os tipos de vírus causadores da dengue. Segundo a Sociedade Brasileira de Doenças Tropicais, o Laboratório de Far-Manguinhos, da Fiocruz, juntamente com o laboratório multinacional inglês GlaxoSmithKluine (GSK), trabalham no desenvolvimento de vacina com vírus mortos.

O Instituto Butantan, de São Paulo, pesquisa vacina com vírus geneticamente modificados. Ambas ainda estão nas fases iniciais. A mais adiantada é a do laboratório privado francês Sanofi, já em testes em diversos países, inclusive o Brasil. Até agora, a vacina tem provocado resposta imunológica aos quatro tipos dos vírus causadores, porém com maior eficácia em três delas. Se tudo continuar dando certo, a vacina deverá começar a ser produzida a partir de 2014 ou 2015.

O coordenador do Programa de Controle da Dengue, afirma que é difícil controlar a doença porque as ações de prevenção exigem participação de todos. “Para prevenir diabetes, por exemplo, as ações individuais têm impacto. Mas com a dengue é diferente. Você pode tomar todas as medidas de prevenção na sua casa, mas se seu vizinho não tomar você corre o risco de ser infectado. Temos que induzir uma mudança de comportamento.”

“Mas isso não tira a responsabilidade do poder público, nas ações de prevenção e na limpeza pública”, afirma. “O mosquito se reproduz em depósitos artificiais, o que faz com que ele esteja próximo aos humanos, diferente de outros mosquitos, que procuram lagos naturais.”

No final de 2012, o Ministério da Saúde repassou aos municípios R$ 172 milhões que deveriam ser aplicados em ações de prevenção. “São os estados e os municípios que devem desenvolvê-las, por exemplo, contratando agentes de prevenção, fazendo campanhas publicitárias e adquirindo kits de diagnóstico.”

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