Pesada é a injustiça

Um assalariado mortal não sabe quanto de imposto embute o preço de um litro de gasolina, ou de leite. Mas ao encher o tanque do carro, ou a geladeira, terá pago o mesmo volume de impostos que o bilionário Eike Batista.

(Foto: Carlos Moura/CB)

Uma das expressões mais citadas, quando o assunto é imposto, é que a “carga tributária” brasileira é alta. Como a palavra “carga” dispensa explicações, sempre que ouve o apresentador do telejornal dizer isso o brasileiro já sente o peso no bolso. Um assalariado mortal não sabe quanto de imposto embute o preço de um litro de gasolina, ou de leite. Mas ao encher o tanque do carro, ou a geladeira, terá pago o mesmo volume de impostos que o bilionário Eike Batista. Esse trabalhador conhece bem o imposto retido na fonte que aparece todo mês em seu holerite. Uma segunda injustiça tributária: passou de R$ 1.637, o salário já sente os dentes do leão. E, se ele ganha algum a mais por conta de uma participação nos resultados, vem o leão e nhac! de novo – embora não faça o mesmo com os lucros distribuídos em forma de dividendos aos acionistas da mesma firma.

Nem só de salários vive a carga tributária, que corresponde a 35% de todas as riquezas produzidas no país, o PIB. Embora o leão mais famoso seja o da Receita, a “carga” é composta por mais de 60 tipos de imposto, taxa e contribuição recolhidos por estados e municípios, além da União. Dessas dezenas de mordidas, nenhuma incide sobre os detentores de grandes fortunas.

O maior problema do sistema tributário não é seu tamanho. O que incomoda é o fato de os impostos não reverterem em serviços públicos de qualidade, fazendo com que a classe média assalariada busque um plano de saúde ou escolas particulares. Mas o mais grave mesmo é a injustiça tributária. Chegam a ser demagógicas as campanhas de órgãos de imprensa para fazer as pessoas odiarem os impostos, que em qualquer país são necessários. Mas precisam ser justos e contribuir para uma melhor distribuição de renda. 

O crescimento conseguiu tirar da linha de pobreza 45 milhões de pessoas nos últimos dez anos. Por outro lado, tem proporcionado o surgimento de uma legião de milionários. Se não foi preciso inventar impostos para recepcionar os que migraram para a classe média, está mais que na hora de criar uma tributação diferente para os que desfrutam do mundo dos ricaços poderem compartilhar melhor com a cidadania suas elevadas taxas de satisfação.