Mundo de contrastes

Quantas vezes já se ouviu que o Brasil é um país de recursos abundantes, mas injusto? É fato que, desde os anos 1940, houve uma mudança de perfil da economia […]

Quantas vezes já se ouviu que o Brasil é um país de recursos abundantes, mas injusto? É fato que, desde os anos 1940, houve uma mudança de perfil da economia brasileira, com deslocamento gradativo da mão de obra do campo para a cidade, desenvolvimento da indústria e de um operariado urbano. A rigor, isso já acontecia desde o início do século, com a influência de imigrantes, principalmente espanhóis e italianos, que deu corpo à organização dos sindicatos, sob inspiração socialista (e depois comunista, sob o impacto da Revolução Russa) e anarquista. 

Ainda na primeira metade do século passado, ganhavam força expressões como reforma agrária e fim dos latifúndios. Dentro da ditadura do Estado Novo, Getúlio Vargas criou o arcabouço que ainda hoje serve de base para grande parte do nosso universo trabalhista e sindical. Veio outra ditadura, os movimentos sociais foram sufocados, e os bens produzidos por todos continuaram sendo divididos entre poucos. Situação que começou a mudar apenas em um período muito recente da história. 

Toda a digressão se justifica com a passagem do 1º de Maio, data histórica do trabalho e do trabalhador. Aqui no Brasil se discutem reformas na legislação para – argumentam alguns – adequá-la à realidade do mundo atual. É preciso saber se os de sempre continua­rão tendo os privilégios de sempre ou se as mudanças virão para distribuir a riqueza de forma mais justa.

Esta edição trata desse contraste entre o mundo moderno, desenvolvido, competitivo, e o dia a dia sofrido de milhares de trabalhadores país afora. Um setor que busca concorrer no exterior ainda precisa dar melhores condições a quem produz essa riqueza. Assim como o próprio país precisa tratar de outra maneira cidadãos e não permitir que tantos conflitos ambientais se espalhem por todas as regiões, outro tema da edição, assim como a China.

A presidenta Dilma acaba de voltar de lá, dando sequência ao processo de transformação geopolítica que inclui privilegiar as relações com países em desenvolvimento ou com os quais o Brasil deveria ter maior proximidade, por pura identificação de realidades. Mas a simples aproximação Brasil-China não significa adesão imediata a políticas praticadas pelo gigante asiático. No mês em que se celebram os trabalhadores e seus direitos, há que se defender, ainda mais, a prática incansável da liberdade.