Tucanos prestigiam festa da Força, que vê ‘insatisfação controlável’ no governo

Paulinho recebe Alckmin e Serra, diz que PSDB está revendo seus erros, mas descarta sair da base governista

São Paulo – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-governador e ex-candidato à Presidência José Serra foram os destaques do lançamento de livro sobre os 20 anos da Força Sindical, na noite de segunda-feira (17), em uma livraria da capital. A presença dos tucanos reforça a política de aproximação do PSDB com a central, presidida pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, que comanda o PDT paulista. Em seu rápido pronunciamento,  Alckmin destacou a importância da “organização dos trabalhadores” e disse, sem dar detalhes, que é preciso “oxigenar” o PSDB. Paulinho disse que há certa insatisfação do PDT dentro do governo, entre outros fatores, pelo “esvaziamento” do Ministério do Trabalho (o ministro Carlos Lupi é um dos líderes do PDT). “É uma insatisfação ainda controlável”, afirmou.

Não havia líderes do PT no evento – entre outros partidos, o vereador paulistano Jamil Murad (PCdoB) passou pelo lançamento, que reuniu dezenas de sindicalistas e ex-sindicalistas. Como Antônio Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho e da Previdência (no governo Collor), hoje assessor da Força. Das demais centrais, os nomes mais conhecidos eram da União Geral dos Trabalhadores: Francisco Canindé Pegado, secretário-geral, e Rubens Romano, ex-presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo e atual presidente do sindicato dos aposentados da central. A UGT tem se articulado com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD). A CUT não mandou representante, mas um ex-vice-presidente, José Lopez Feijóo, estava lá, porém na condição de assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República. 

Na mesa, se revezando nos autógrafos, Paulinho e seu antecessor, Luiz Antônio de Medeiros, fundador da central, em março de 1991, além de João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral, que presidiu a Força algumas vezes como interino. Ex-secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Medeiros ocupa hoje o cargo de adjunto na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho, em São Paulo.

Erros

“O PSDB errou muito nos últimos anos, mas está revendo a história dele”, afirmou Paulinho, que admite certo incômodo no PDT com o assédio tucano. Mas acredita que a reaproximação pode influenciar o PSDB em determinadas votações. “Não adianta só disputar o movimento sindical, tem de votar com o movimento sindical no Congresso.”

Sobre a relação com o governo – o PDT integra a base governista –, o deputado reclamou da equipe econômica e pediu mudanças de rumo, “para que a presidenta Dilma Rousseff não ‘jogue fora’ o patrimônio adquirido no movimento sindical.” “(A gestão Dilma) Não tem uma política de aproximação com os trabalhadores”, disse Paulinho, que no livro declara incômodo o reajuste dado este ano para o salário mínimo. Mas, segundo ele, a insatisfação interna não é “nada a ponto de romper” com o governo. No plano doméstico, Paulinho, que pleiteia concorrer à prefeitura paulistana, afirmou que não abriria mão de sua pré-candidatura em favor de uma chapa organizada pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD), que esteve rapidamente no evento, assim como o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Paulinho se preparava para ir embora quando Serra chegou, às 20h50. Dez minutos depois, foi a vez de Alckmin aparecer. O governador falou protocolarmente, destacando “a capilaridade no país todo” da Força Sindical e a liderança de Paulinho – que apoiou o tucano nas eleições presidenciais de 2006.

“Temos de estar próximos dos trabalhadores, da organização dos trabalhadores”, repetia o governador, que em seguida foi tomar um cafezinho na livraria. De repente, um aviso às espantadas funcionárias da cozinha: “O Serra quer pão de queijo”. E a iguaria típica da terra do senador Aécio Neves (PSDB-MG) chegou quente ao balcão, a ponto de queimar levemente alguns dedos do ex-governador.

Segundo o secretário sindical do PSDB, Antonio de Sousa Ramalho, um dos vices da Força e presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo, Serra está “entusiasmado” com o projeto de ampliação do partido no movimento sindical, “até para andar com a gente pelo Brasil”.

Ele informou que já existem núcleos sindicais tucanos em 11 estados e a meta é atingir todas as unidades da federação até maio do ano que vem. “O Sérgio Guerra (presidente nacional do partido) está investindo muito nisso. Ele abraçou isso pra valer, colocou a estrutura do partido”, disse Ramalho, responsável pela reaproximação entre Paulinho e Serra. Em 2010, o presidente da Força declarou que o tucano era um político “sem diálogo com o movimento social”.

Os sindicalistas do PSDB pretendem promover reuniões bimestrais com Guerra, para reforçar os laços do partido com o movimento sindical. Em São Paulo, a ideia é fazer encontros semanais com Alckmin, que tem um sindicalista – Davi Zaia (Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul), do PPS – na Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho. Além de Ramalho, a Força tem outro vice filiado ao PSDB: Melquíades de Araújo, da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo.

Visões

O livro sobre a Força traz prefácios dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. O tom dos textos revela um pouco da política e da visão de cada um em relação ao sindicalismo. FHC destacou o fato de estar presente no congresso de fundação da central, em 8 de março de 1991, porque, segundo ele, o Brasil precisava de “um movimento sindical moderno, interessado não apenas na gritaria e no discurso radical – para não dizer histérico –, mas também preocupado com conquistas reais na melhoria de vida dos trabalhadores”. Mais adiante, o sociólogo diz que depois da queda do Muro de Berlim o que interessava aos trabalhadores era “mais pragmatismo e menos discurso socialista”.

Lula preferiu ressaltar a importância da organização sindical e da participação das centrais na discussão de políticas do governo. “Na verdade, foram parceiras na implementação do novo modelo de desenvolvimento que levou o Brasil – desta vez com destaque para os trabalhadores e para o povo pobre – a dar o enorme salto de qualidade que conhecemos e a ocupar um novo lugar no mundo.”

Feijóo destacou o fato de as centrais atuarem juntas em muitas ocasiões, apesar de muitas “divergências históricas e irreconciliáveis”, como frisou. “É muito positivo que as centrais se unam na ação”, afirmou. E as disputas, acrescentou, permite que o trabalhador faça sua opção. “O que as pessoas não percebem é que o espaço que antes o Lula personificava, neste momento se institucionalizou como mesa de negociação”, disse o representante do governo, destacando o fórum nacional da construção civil e a mesa permanente das centrais sindicais, que também ampliaram espaço no Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI).

Sobre a relação entre sindicatos e governo durante momentos de greve, tema de análise nos jornais, Feijóo afirmou que “a imprensa precisa aprender a não ser contraditória em seus argumentos”. As greves, segundo ele, nunca deixaram de acontecer. “Qual é a novidade?”, questionou, referindo-se às paralisações e aos conflitos decorrentes desses movimentos. “Negociação é um processo de disputa. Isso também vale para o governo. A diferença é que o governo não recebe os movimentos sociais com a polícia.”