Ao lado do ‘médico’ Serra, Paulinho da Força ‘brinca’ de oposição

No ano passado, deputado federal e presidente da Força Sindical afirmou que o ex-governador 'não gosta de trabalhador'. Agora, ele vê nova relação e atribui críticas a 'exageros' dos dois lados

São Paulo – O deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), presidente da Força Sindical, demonstrou, nesta sexta-feira (7), que pretende deixar de lado as críticas feitas no passado ao ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O sindicalista aproveitou palestra ao lado do tucano para “descobrir” que está na oposição ao governo Dilma Rousseff.

“Fiz uma série de críticas durante a campanha (a Serra). E depois, recentemente, tive uma reunião com o Serra em que colocamos os pingos nos ‘is’. Exageramos de um lado, e também tinha exagero com ele de outro. Superamos isso e hoje temos uma relação muito boa”, garantiu o parlamentar quando questionado sobre as críticas que havia feito a José Serra em 2010.

Antes do início oficial da campanha eleitoral, Paulinho afirmou que “minha especialidade é bater no Serra”, a quem chamou de “esse sujeito”, e lembrou as sucessivas manifestações reprimidas pela Polícia Militar quando o tucano comandava o governo de São Paulo. “Conheço o Serra, já estive do outro lado, esse sujeito nunca gostou do trabalhador”, acusou em outra ocasião.

O tucano, por sua vez, também tem um histórico de críticas a Paulinho da Força. Em 2008, quando integrantes das polícias Civil e Militar de São Paulo se enfrentaram em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, o então governador acusou o deputado de estar por trás do conflito por conta de interesses eleitorais.

Nesta sexta, o parlamentar quis dar por encerrada a fase de atritos. Durante palestra na qual Serra opinou sobre inúmeros assuntos, Paulinho teceu elogios e, ao fim, afirmou que se trata do “principal nome da oposição”, o que pressupõe deixar em segundo ou terceiro lugares o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de quem o PDT e a Força também vêm se aproximando.

“Descobri que tô na oposição”, brincou Paulinho. “Você (Serra) falou o que estamos falando há muito tempo para o governo. Essa questão da desindustrialização estamos avisando há muito tempo”, aplaudiu, após ouvir a fala de Serra a respeito de economia. Mais tarde, ele explicou que se trata de uma brincadeira por conta da afinidade na avaliação dos problemas que afetam o Brasil. “Nosso discurso é para consertar”, garantiu, reafirmando-se integrante da base do governo Dilma.

Em agosto, um grupo de membros da Força aderiu ao PSDB de Minas Gerais e de São Paulo, no que alguns analistas chamaram de “braço sindical” tucano. Em um desses eventos, Paulinho havia dito que continua com a avaliação de que “o PSDB se afastou dos trabalhadores”, apontando que a visão é compartilhada por diretores da própria legenda. Para reverter o movimento e “reconstruir esta base social do PSDB” seria necessário, segundo ele, “não só se reaproximar, mas votar com os trabalhadores”. A referência eram questões que tramitam no Congresso Nacional, como a redução da jornada máxima de trabalho de 44 para 40 horas semanais e o estabelecimento de regras para frear a terceirização.

Apesar do histórico recente, o elogio a Serra não chega a ser uma novidade. Paulinho apoiou o tucano em 2004, na candidatura à prefeitura de São Paulo. Em seguida, rompeu e passou a integrar em definitivo a base do governo federal, então comandado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O PDT manteve, no período, apoio ao governo estadual comandado pelo tucano a partir de 2007. Agora, faz um novo movimento na direção oposta no momento em que tece críticas à política econômica do Palácio do Planalto e em que se estremeceu a relação com a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

A reaproximação não passa pelo estudo de currículo. Ao abrir a palestra, Paulinho confundiu a área de formação de Serra. “Embora seja da área de saúde, entende muito de economia. É um médico que entende de economia”, afirmou. Alertado em seguida, deu-se conta de que havia cometido uma gafe: “É o contrário?” É o contrário.

 

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