Sem tumulto

TSE critica Bolsonaro por vazamento e condena uso ‘mafioso’ das redes

Barroso informou que Justiça venceu ‘disputa comercial’ com montadoras para garantir urnas eletrônicas. E reafirmou que a questão do voto impresso está encerrada

Reprodução YouTube
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De Washington, Barroso comanda a abertura do ano judiciário: 'Nós administramos a quarta maior democracia do mundo'

São Paulo – Na abertura do ano judiciário e sob a expectativa das eleições presidenciais e parlamentares de outubro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, enfatizou o “combate à desinformação” e a segurança da votação. Criticou tentativas de “tumultuar” o processo e citou especificamente o presidente Jair Bolsonaro por vazamento de dados relativos a um inquérito sigiloso sobre ataque hacker. “Faltam adjetivos para qualificar a atitude deliberada de facilitar a exposição do processo eleitoral brasileiro a ataques de criminosos”, afirmou Barroso. Na última sexta-feira (28), o presidente da República descumpriu determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e não compareceu à Polícia Federal para prestar depoimento sobre o caso.

Barroso voltou a defender a urna eletrônica e a biometria: “Asseguram confiança, rapidez e eficiência na coleta e apuração de votos”. E acrescentou que “não há qualquer sentido” em tentar retomar a discussão sobre o chamado voto impresso, “um retrocesso que já assombrou o país no passado e volta e meia é ressuscitado”. Em agosto, a Câmara rejeitou proposta nesse sentido. “O Brasil está precisando de debate de ideias e não da repetição de bobagens”, disse Barroso. Segundo ele, a impressão de um “comprovante” acabaria com o sigilo do voto e seria útil apenas “ao traficante, ao miliciano, ao coronel local”.

Pós verdade

O presidente do TSE disse que o trabalho da imprensa e das agências de checagem de informação será especialmente importante “no mundo da pós verdade e dos fatos alternativos”. Ele informou ter tido uma “conversa altamente construtiva” com representantes do WhatsApp. Plataformas que querem atuar no Brasil, afirmou, precisam estar sujeitas à legislação e às autoridades locais. “Não podem se tornar espaço mafioso”, acrescentou, citando crimes como pedofilia, vendas de armas e drogas e ataques à democracia.

Barroso presidiu a sessão nesta terça (1º) em um quarto de hotel de Washington. Ele está na capital dos Estados Unidos para receber o relatório final da Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre as eleições brasileiras de 2020. Já se reuniu com o secretário-geral da entidade, Luis Almagro, e com o secretário de Fortalecimento da Democracia, Francisco Guerrero. “Nós administramos a quarta maior democracia do mundo, com cerca de 150 milhões de eleitores.”

Antes, esteve em Portugal, acompanhando a realização das eleições parlamentares do país europeu, vencidas pelos socialistas, no último domingo (30). “Um show de organização e de democracia”, definiu Barroso. “Debate público de qualidade, que não foi dominado pelo ódio e pela desinformação.”

Componentes em falta

Ele revelou que houve uma espécie de “disputa comercial” com as montadoras de veículos em busca dos componentes eletrônicos necessários para a confecção das urnas eletrônicas. Há uma escassez mundial de alguns itens, que inclusive atingiram a produção da indústria automobilística brasileira em 2021. “Foram meses de tensão e negociação”, disse Barroso, destacando um “esforço de diplomacia” para garantir os equipamentos.

Agora, a situação foi resolvida. O presidente do TSE lembrou que os códigos-fontes foram abertos em outubro a todos os partidos e à PF, entre outras organizações, com a realização de teste público de segurança. “Tudo aqui é transparente, mas sem ingenuidade. (…) A maior segurança das urnas é que elas nunca entram em rede.”