Ameaça bolsonarista

Terroristas usam declarações de Bolsonaro, Flávio e Mourão para incitar novos atos golpistas

AGU aponta ameaça de novos atos criminosos, nesta quarta (11), e aciona o STF contra possíveis invasões. Governo Lula reforça segurança de todo o país diante de eventuais novas convocações de manifestações golpistas de bolsonaristas

Marcelo Camargo/ABr
Marcelo Camargo/ABr
AGU cobra do STF a adoção de medidas imediatas para impedir os ataques bolsonaristas como os realizados no último domingo (8), em Brasília

São Paulo – Terroristas bolsonaristas, que se mobilizam por meio de grupos de mensagem no Telegram e WhatsApp, estão usando declarações e publicações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores para incitar novos atos golpistas pelo país nesta quarta-feira (11). 

Ainda na tarde de ontem (10), o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) detectou novas ameaças de golpe em mensagens que anunciam uma “Mega Manifestação Nacional pela Retomada do Poder”, para hoje. O monitoramento digital, feito por órgãos de inteligência da União, indica que estão sendo convocados novas arruaças em todo o país, incluindo a capital federal, a partir das 18h. 

De acordo com um levantamento feito pelo site da Revista Fórum, os bolsonaristas ficaram ainda mais inflamados depois que Bolsonaro publicou um vídeo de um homem identificado como doutor Felipe Gimenez em que ele afirma que “Lula não foi eleito, mas escolhido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”. A postagem foi feita na página do Facebook do ex-presidente na noite de ontem, mas apagada logo em seguida. Porém, segundo a reportagem, o pouco tempo em que ficou no ar foi suficiente para que o vídeo começasse a ser replicado por outros perfis bolsonaristas. 

Discurso golpista

Os golpistas também estão utilizando do discurso de Flávio Bolsonaro, justificando seu voto contrário à intervenção federal no Distrito Federal, para incitar novos atos terroristas. Em votação nesta terça, o senador foi um dos oito, entre 81 parlamentares, que se posicionaram contra o decreto presidencial. Ao justificar seu voto, o filho de Bolsonaro ecoou o discurso dos golpistas de que o terrorismo foi praticado por “infiltrados ligados à esquerda”. Na ocasião, ele ainda atacou o interventor Ricardo Cappelli, nomeado pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. 

Um tuíte do ex-vice presidente Hamilton Mourão, eleito senador, criticando o que classificou como “detenção indiscriminada” de golpistas que ficaram acampados durante mais de 60 dias em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, levados para triagem pela Polícia Federal, também é usado como argumento pelos golpistas. Na rede social, Mourão acusou, sem provas, que 1.200 pessoas estavam “confinadas em condições precárias” nas instalações da PF. O que, segundo ele, mostrava que “o novo Governo, coerente com suas raízes marxistas-leninistas, age de forma amadora, desumana e ilegal”, escreveu. 

A convocação de novos ataques também leva em conta as críticas ao mandato de prisão do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, nomeado no início do ano secretário de Segurança Pública do DF.

AGU recorre ao STF

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu, contudo, ao ministro do STF Alexandre de Moraes que adote medidas imediatas para impedir os ataques bolsonaristas como os realizados no último domingo (8), em Brasília, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo. 

“Vê-se, da postagem acima registrada (convocação), que o país se encontra na iminência de entrar com grave situação, novamente, após os trágicos eventos do domingo, 8, quando o mundo, estarrecido, assistiu à tentativa de completa destruição do patrimônio material e imaterial, além de todo o simbolismo que carregam as instituições democráticas”, diz a petição da AGU, assinada pelo advogado-geral da União, Jorge Messias. 

“As instituições, novamente, são chamadas a reagir”, acrescenta o documento. De acordo com o órgão, o chamamento bolsonarista configura “nova tentativa de ameaça ao estado democrático de direito, o qual deve ser salvaguardado e protegido, evitando-se para tanto o abuso do direito de reunião, usado como ilegal e inconstitucional invólucro para verdadeiros atos atentatórios”. Messias também solicita a adoção, por parte do STF, de “medidas imediatas, preventivas e necessárias”, em especial das forças de segurança pública. 

Segurança é reforçada

Assim como sejam rechaçadas tentativas de bloqueios de avenidas ou rodovias, além da invasão de prédios públicos pelo país. A petição ainda inclui o pagamento de multa para pessoas jurídicas e físicas que descumprirem a decisão. Além de prisão em flagrante e o bloqueio de contas de usuários do aplicativo de mensagens Telegram. 

Em reunião na noite desta terça, o gabinete de crise do Palácio do Planalto decidiu que haverá reforça da segurança tanto em Brasília como nas outras capitais onde extremistas prometem mais arruaça. “Tem medidas para esta quarta de reforço da segurança em todo o país uma vez que circularam cards de novas manifestações. Então por precaução a segurança na Esplanada dos Ministérios, nas cidades e no país como um todo”, disse à CNN o ministro da Casa Civil, Rui Costa.