Pagando o terror

Mais de 100 empresas são suspeitas de financiar terrorismo bolsonarista

Advocacia-Geral da União pedirá bloqueio de bens dos investigados. Segundo o ministro da Justiça, Flávio Dino, muitas empresas são ligadas ao agronegócio

Secom/Reprodução
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Empresas forneceram dinheiro para bancar os ônibus e financiaram a permanência dos terroristas que, por dois meses, ficaram acampados no QG do Exército, diz a AGU

São Paulo – Mais de 100 empresas são suspeitas de financiar a tentativa de golpe de Estado em Brasília, no último domingo (8). De acordo com investigações da Advocacia-Geral da União (AGU), centenas de pessoas jurídicas forneceram dinheiro para bancar ônibus que transportaram apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) para a capital federal. Assim como financiaram a permanência dos acampados em frente ao Quartel-General do Exército, que desencadearam os atos de terrorismo bolsonarista. 

A AGU divulgou que apresentará, nesta terça-feira (10), medidas cautelares na Justiça Federal do Distrito Federal pedindo bloqueio de bens dessas empresas. De acordo com o órgão, um dos objetivos do bloqueio de bens é utilizar esses recursos para cobrir os gastos na restauração do patrimônio público e cultural, vandalizado na invasão às sedes dos três poderes. 

Os nomes que fazem parte grupo privado ainda não foram divulgados. A AGU, contudo, informou que as empresas estão distribuídas em vários estados, mas a maioria delas estão sediadas em Mato Grosso e Santa Catarina. Ontem (9), o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que a Polícia Federal já havia identificado financiadores dos atos em 10 estados. E que a muitas empresas seriam ligadas ao agronegócio. 

Financiamento conhecido

Essa não é a primeira vez que empresários bolsonaristas são suspeitos de financiar manifestações antidemocráticas. Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também apontaram participação do setor no vandalismo do dia 12, após diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A suspeita é que alguns deles são os mesmos já investigados no inquérito das milícias digitais, conduzido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. 

A sindicância investiga indícios de atuação de um grupo organizado para atentar contra a democracia e o Estado Democrático de Direito. Em setembro do ano passado, a RBA também reportou a participação de empresários bolsonaristas na organização dos atos no 7 de setembro. Convocadas por Bolsonaro, as manifestações sequestraram as comemorações pelo bicentenário da independência. Desse modo, se tornaram atos de campanha do então candidato à reeleição, que acabou derrotado nas urnas. 

Ainda durante a campanha eleitoral, no final de agosto, um grupo de oito empresários bolsonaristas foi flagrado conspirando um golpe de Estado em caso de vitória do petista, em outubro. Em um grupo privado de mensagens no WhatsApp, eles insuflaram um golpe. Além de sugerir o pagamento de bônus aos funcionários de suas empresas para que votassem de acordo com os interesses patronais. Na época, Moraes também determinou o bloqueio das contas bancárias e das redes sociais dos empresários. 

Ligação com o desmatamento

Entre os envolvidos estavam Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii; André Tissot, do grupo Serra; e Meyer Nigri, da Tecnisa. Todos eles foram alvos também de mandados de busca e apreensão por suspeita de discutir, organizar ou financiar atos antidemocráticos. 

Pouco depois, um levantamento da Repórter Brasil – um dos principais centros de informações sobre combate ao trabalho escravo e aos danos socioambientais no país – mostrou que dois dos oito empresários bolsonaristas que defenderam um golpe de Estado contra Lula têm também ligação com o desmatamento na Amazônia Legal e no Sul do país. É o caso de Luiz André Tissot, que compra madeira de fornecedores que desmatam ilegalmente a Amazônia. E de Morongo, da Mormaii, autuado por infrações de desmatamento, em 2011, em Santa Catarina. 


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