cumplicidade

Professor defende responsabilização das Forças Armadas nos atos terroristas de Brasília

Em entrevista à ‘Rádio Brasil Atual’, cientista político Cláudio Couto, da FGV, diz que militares acolheram golpistas e os protegeram da prisão após destruir a Praça dos Três Poderes

Marcelo Camargo / ABr
Marcelo Camargo / ABr
Na tarde do domingo, 8 de janeiro, apoiadores de Jair Bolsonaro destruíram parte do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal

São Paulo – O cientista político Cláudio Couto defende a responsabilização dos integrantes das Forças Armadas envolvidos nos atos terroristas bolsonaristas do dia 8. Professor da pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Couto avalia que há conivência e cumplicidade dos militares na invasão que destruiu o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) para protestar contra a vitória legítima do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“É preciso atribuir a responsabilidade das Forças Armadas nesse episódio lamentável. A intentona bolsoanarista, que tentou uma ruptura no regime democrático, contou com a conivência, senão a cumplicidade, das Forças Armadas brasileiras, que recepcionaram esses golpistas durante meses acampados diante dos quarteis”, disse Couto ao jornalista Rafael Garcia, da Rádio Brasil Atual.

O envolvimento, segundo destacou o cientista político, fica claro com a participação de militares da reserva e mesmo de parentes de militares, como o caso da mulher do ex-comandante do Exército e general da reserva Eduardo Villas Bôas, Maria Aparecida Villas Bôas, que frequentava o acampamento bolsonarista em frente ao QG de Brasília.

Forças Armadas: 8 mil postos no governo Bolsonaro

E também com a proteção aos terroristas, para que não fossem presos. “No dia da intentona tentaram impedir que os vândalos fossem presos nos prédios e depois nos quarteis. Situação para enlamear a já péssima história das Forças Armadas no Brasil, chupim da Nação, que mataram mais brasileiros que estrangeiros. Bolsonaro, o mau militar, era o seu principal representante”‘, afirmou.

Para Cláudio Couto, a responsabilização tem de incluir outros crimes praticados pelos militares, especialmente no âmbito do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele lembrou que quadros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ocuparam 8 mil cargos na administração federal, inclusive ministérios.

“Fizeram a lambança que fizeram no Ministério da Saúde, deram palpite sobre tudo. É óbvio que tem de ser chamado à responsabilidade como qualquer pessoa. Não quiseram ser governo? Que agora respondam como governo. Quem é governo tem de responder pelos seus atos. Se são criminosos, têm de responder como criminoso que são”, afirmou.

Responsabilização das FA fortalece a democracia

Ele frisou que o momento não é de Justiça de transição, já que não há transição de um regime para outro. Portanto, a Justiça se faz dentro do processo político e vale para todos, que devem responder pelos seus atos. “Os militares estão presentes nisso. Não dá para ficar com xororô, com mimimi, achar que eles estão acima dos demais, que nada os pode atingir. Eles são pessoas iguais às outras. E tem uma responsabilidade adicional: carregam as armas do estado brasileiro, pagas pelo suor do contribuinte, para zelar pelos interesses do país, não os seus próprios interesses”, afirmou.

O professor da destacou ainda que a responsabilização dos integrantes das Forças Armadas envolvidos nos atos terroristas é importante também para fortalecer a democracia brasileira. “Se isso não acontecer, mostra que alguns são mais iguais que outros perante a lei, que conseguem fazer coisas e passar impunes, o que não pode acontecer. Por isso tem de ser chamados à responsabilidade.”

E defendeu que militares, policiais e integrantes do Ministério Público e do Judiciário ingressem na vida política somente após cumprimento de um período de quarentena superior a quatro anos, no mínimo. “Todos que operam diretamente portando armas ou ordenando que elas sejam usadas têm de ter quarentena. Não é pedir baixa hoje e começar a fazer campanha política eleitoral no dia seguinte usando a arma, a farda ou a toga.”

Confira a íntegra da entrevista


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