Prestes a enfrentar CPI, MST recebe apoio de intelectuais do Brasil e do exterior

Eduardo Galeano, Boaventura Sousa Santos, Antonio Candido e Chico de Oliveira assinam manifesto criticando atuação da imprensa no noticiário sobre o movimento

Para os intelectuais, a imprensa omitiu a informação de que a fazenda da Cutrale tem, entre seus 30 mil hectares, 10 mil de terras públicas e outros 15 mil como áreas improdutivas (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Bloquear a reforma agrária. Para intelectuais do Brasil e do exterior, esse é o principal motivo dos grandes proprietários e de parte da imprensa ao apoiar a criação de uma CPI para investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A carta, cuja íntegra pode ser acessada aqui, lembra que a ocupação da propriedade da Cutrale, no interior de São Paulo, serviu de pretexto àqueles que esperavam uma razão para criticar o MST e barrar a revisão dos índices de produtividade, que pode dar novo andamento à reforma agrária no país ao rever a relação de áreas improdutivas. Para os intelectuais, a imprensa omitiu a informação de que a fazenda da Cutrale tem, entre seus 30 mil hectares, 10 mil de terras públicas e outros 15 mil como áreas improdutivas.

“Na ótica dos setores dominantes, pés de laranja arrancados em protesto representam uma imagem mais chocante do que as famílias que vivem em acampamentos precários desejando produzir alimentos”, escrevem historiadores, escritores, geógrafos e sociólogos como Eduardo Galeano, Boaventura Sousa Santos, Ana Esther Ceceña, Michael Lowi, Antonio Candido, Emir Sader, Plínio de Arruda Sampaio e Chico de Oliveira.

De acordo com o “Manifesto em defesa do MST”, o foco do debate agrário é deslocado dos responsáveis pela desigualdade para criminalizar os que lutam pelos direitos do povo. Recentemente, o Censo Agropecuário do IBGE mostrou que, nos últimos 20 anos, a estrutura de concentração de terras praticamente não se alterou no país, o que foi contestado pela Confederação Nacional de Agricultura. A CNA apresentou um estudo, feito em alguns assentamentos rurais, mostrando a suposta ineficácia da reforma agrária brasileira.

Os intelectuais que assinam o texto entendem que está em andamento uma ofensiva contra os direitos sociais da população brasileira. “O pesado operativo midiático-empresarial visa isolar e criminalizar o movimento social e enfraquecer suas bases de apoio. Sem resistências, as corporações agrícolas tentam bloquear, ainda mais severamente, a reforma agrária e impor um modelo agroexportador predatório em termos sociais e ambientais, como única alternativa para a agropecuária brasileira”, aponta outro trecho.