Medo do comunismo?

Presidente do Superior Tribunal Militar diz que ‘não existe comunismo no Brasil’ e esquerda ‘quer um país melhor’

Tenente-brigadeiro-do-ar Francisco Joseli Parente Camelo também negou que Lula seja um “comunista”, como disseminado pela extrema direita e por Bolsonaro. “Não existe no Brasil essa ideia de comunismo, o comunismo acabou”, afirmou

STM/Reprodução
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"O presidente Lula é um sindicalista, não vejo o presidente jamais como um comunista. Por que as pessoas têm uma mania de pensar que ser de esquerda é ser comunista? Isso não existe", afirmou

São Paulo – O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministro Francisco Joseli Camelo, afirmou que não existe comunismo no Brasil e que a esquerda “quer o melhor para o país”. O tenente-brigadeiro-do-ar concedeu entrevista à BandNews TV, ontem (26), e rebateu que o país seja comunista sob o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Nós vivemos outros tempos, o mundo mudou, não há mais divisão (entre capitalismo e comunismo). Não existe no Brasil essa ideia de comunismo, o comunismo acabou. O presidente Lula é um sindicalista, não vejo o presidente jamais como um comunista. Por que as pessoas têm uma mania de pensar que ser de esquerda é ser comunista? Isso não existe”, defendeu o presidente do STM.

As declarações do militar desmentem as fake news alardeadas nos últimos anos pela extrema direita e o ex-presidente Jair Bolsonaro para criar uma realidade paralela de suposta ameaça de implantação do regime soviético no Brasil. A crença fez com que, por exemplo, apoiadores do ex-presidente ficassem meses pedindo intervenção militar em frente aos quartéis diante da vitória de Lula.

Esquerda quer o melhor pelo país

Na entrevista, Francisco não apenas contestou a falácia do “medo comunista” como garantiu que a esquerda busca melhorias no país. “Ser de esquerda é realmente querer um Brasil melhor, mais solidário, mais próximo, que pense no mais pobre. É tudo isso que a esquerda pensa. Então, ser de esquerda não é ser comunista. E o comunismo para mim não existe em nosso país”, repetiu. No comando do STM desde janeiro de 2023, o ministro ressaltou que não tem preferência política porque os militares “não têm partido”.

O presidente do STM é um dos defensores do projeto de lei que visa a despolitizar as Forças Armadas. A proposta estabelece que militares que queiram seguir na vida política e disputar eleições sejam enviados compulsoriamente para a reserva. “Não somos nem de esquerda, nem de direita. Nós queremos o melhor para o Brasil. Nós queremos a sociedade brasileira viva, feliz como sempre foi. Queremos que a pacificação volte ao nosso país”, argumentou.

Sessenta anos do golpe

Francisco, por outro lado, também repetiu o revisionismo histórico dos bolsonaristas, ao se referir ao golpe civil-militar de 1964 como uma “revolução necessária naquele momento”. Quando, na verdade, o então presidente João Goulart foi deposto do cargo por tentar avançar com as necessárias reformas de base e ser contrário à implementação de medidas liberais que aprofundariam a concentração de renda em prol da modernização da economia.

O que justificou a associação das velhas oligarquias aos interesses estadunidenses, com o golpe conhecido, que completa 60 anos no próximo dia 1º de abril. O presidente do STM alegou que “os militares não devem ter constrangimento com 1964, mas também não há o que comemorar”. “Aquilo aconteceu e a gente não quer que aquilo volte a acontecer. A sociedade brasileira não aceita uma ruptura democrática, temos que trabalhar pela democracia”, finalizou o ministro.

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Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima