Na nuvem

PF consegue acesso a dados do celular que Anderson Torres esconde das investigações

Polícia Federal quer desvendar a misteriosa minuta encontrada na casa do ex-ministro de Bolsonaro com proposta concreta de golpe de Estado

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
O então ministro Anderson Torres e Jair Bolsonaro costumavam rezar, em eventos dentro dos palácios do governo

São Paulo – A Polícia Federal (PF) conseguiu acessar os dados do celular do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) Anderson Torres. Secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no governo de Ibaneis Rocha a partir de 1° de janeiro, Torres estava fora do Brasil no dia dos ataques aos Três Poderes, em 8 de janeiro. Ele teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e foi detido dia 14 daquele mês, quando desembarcava de volta da Florida, cidade dos EUA em que está o ex-presidente Jair Bolsonaro desde 30 de dezembro. Ele estava sem o aparelho e afirmou tê-lo “perdido ou esquecido” – a versão varia.

Autorizada pela prestadora de serviço utilizada pelo ex-ministro, a PF acessou os dados disponíveis em nuvem. A informação é do portal g1. Segundo a reportagem, agentes sem acesso ao aparelho afirmaram “de forma reservada” que os dados foram armazenados na conta da família e que não foram encontradas informações relevantes para o inquérito. Porém, acrescentaram que “não é possível afirmar se Torres apagou os dados.” 

Um dos principais focos das investigações da PF é a “minuta do golpe”. O documento encontrado na casa de Anderson Torres é uma proposta de decreto que instaurava estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que passaria, na prática, a ser controlado por uma junta militar que anularia a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.

TSE acelera ação

Na terça-feira (14), o plenário do TSE rejeitou um recurso da defesa de Bolsonaro, que queria excluir a minuta do golpe de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) contra ele no tribunal, protocolada pelo PDT. Nos bastidores de Brasília, a inelegibilidade do ex-governante em futura decisão do TSE, nesta ou outra das várias Aijes que tramitam na Corte, é dada como certa.

Após o fim da gestão Bolsonaro, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, hoje afastado, refutou todos os conselhos e alertas e nomeou Torres secretário do Distrito Federal.

O próprio Gilmar Mendes, ministro do STF, disse à GloboNews na terça-feira ter aconselhado o governador afastado a não nomear Anderson Torres. “Eu intuía que, assumindo a Secretaria de Segurança Pública, teria fricção, e talvez o Supremo tivesse que suspendê-lo das atividades”, disse Gilmar.

No dia 8 de janeiro, o responsável pela segurança em Brasília ignorou as ameaças de terrorismo cada vez mais claras e sequer estava na capital federal. Tinha viajado “em férias” para a cidade de Orlando.

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