Homem de confiança?

PF investiga se operação da PRF que bloqueou estradas na eleição aponta para Bolsonaro

Tese é que Anderson Torres não poderia construir teia tão complexa por vontade própria e sem autorização. Acima dele, só havia o presidente

Clauber Cleber Caetano/PR
Clauber Cleber Caetano/PR
PF quer saber se a participação de Torres em toda a trama aponta para o Palácio do Planalto

São Paulo – A situação do ex-ministro da Justiça Anderson Torres se complica a cada dia mais.  O documento com a lista de cidades nas quais a Polícia Rodoviária Federal (PRF) deveria “agir” com efetivo reforçado em 30 de outubro de 2022 (dia do segundo turno das eleições presidenciais) mapeava todos os estados da região Nordeste.

O inquérito da Polícia Federal que investiga o ex-ministro na operação da PRF que bloqueou vias da região no segundo turno tem também Jair Bolsonaro (PL) como objeto das apurações. Os agentes querem saber se o ex-presidente teve participação na ação nas estradas naquele dia, segundo Bela Megale, do jornal O Globo.

Anderson Torres recebeu boletim para orquestrar ações da PRF onde Lula teve mais votos

Assim como a PF, analistas da área jurídica indicam que a participação de Torres em toda a trama aponta para o Palácio do Planalto, dado que o ministro era homem de confiança de Bolsonaro e não poderia estar construindo uma teia de intervenções da PRF com essa complexidade por vontade própria e sem autorização. Acima dele, só havia o presidente.

Documento construído no Ministério

As investigações da Polícia Federal (PF) já levaram os agentes à então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a delegada federal Marília Alencar.

No departamento da delegada foi elaborado um mapa detalhando as localidades em que o então favorito a ser eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), havia vencido o primeiro turno. Nessas cidades e regiões a PRF deveria atrapalhar a chegada dos eleitores com as blitze, o que de fato aconteceu.

No dia do segundo turno, eleitores em todo o Nordeste passaram a denunciar nas redes sociais que ações da PRF nas estradas da região estavam paralisando a viagem de automóveis e ônibus que se dirigiam a locais de votação, o que impedia as pessoas de chegarem onde votariam e também provocava lentidão no trânsito.

Coincidências

Anderson Torres está preso desde 14 de janeiro, data em que chegou ao Brasil proveniente de Orlando, na Florida, onde coincidentemente também estava Jair Bolsonarom, que havia saído do país em 30 de dezembro. Torres trocou o advogado na semana passada.

Ele destituiu Rodrigo Roca, indicado por Flávio Bolsonaro, e contratou Eumar Novacki, ex-chefe da Casa Civil de Ibaneis Rocha e ex-secretário-executivo do Ministério da Agricultura com Michel Temer. A ideia foi ter um defensor desvinculado do clã Bolsonaro.

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