Parte do golpe

PRF escalou agentes de folga para bloqueios de rodovias em redutos eleitorais de Lula no 2º turno 

Documento interno da Polícia Rodoviária Federal revela que efetivo extra foi usado principalmente em regiões do Norte e Nordeste, no dia de votação, onde o então candidato Lula havia ganhado no primeiro turno das eleições, no ano passado

José Cruz/ABr
José Cruz/ABr
Nessas cidades e regiões a PRF deveria atrapalhar a chegada dos eleitores com as blitze, o que de fato aconteceu

São Paulo – Um documento interno da Polícia Rodoviária Federal (PRF) revela que a corporação aumentou seu contingente, com agentes que deveriam estar de folga, para trabalhar nos bloqueios de rodovias em estados onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia vencido no primeiro turno de seu adversário, na época presidente, Jair Bolsonaro (PL). 

De acordo com o documento, divulgado nesta segunda-feira (17), pelo portal UOL, o efetivo extra foi usado principalmente em regiões do Norte e Nordeste, conhecidos redutos eleitorais de Lula. Houve um reforço no Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Tocantins, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. 

Por conta da ação da PRF, o dia de votação, 30 de outubro, foi marcado por denúncias de tentativas de dificultar ou impedir eleitores de chegarem às urnas. Nas redes sociais, eleitores relatavam que eram abordados por agentes que questionavam o voto. Caso fosse Bolsonaro, o veículo recebia o aval para seguir viagem. Enquanto que a blitz e o tempo de parada eram maiores para quem respondia ser eleitor de Lula. 

Diretor bolsonarista

Na ocasião, o Supremo Tribunal Federal (STF) havia proibido operações que afetassem o transporte de eleitores, gratuito no segundo dia das eleições em várias cidades do país. Mesmo assim, foram realizados bloqueios em todos os estados, sobretudo nos das regiões Norte e Nordeste. As ações de bloqueio foram ordenadas pelo diretor-geral da PRF Silvinei Vasques que chegou a postar em seus redes sociais um pedido de voto em Bolsonaro. Ele foi questionado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que acabou ainda ampliando o horário para as pessoas que já estavam no local de votação. 

Vasques acabou sendo demitido em dezembro do ano passado e atualmente é réu por improbidade administrativa devido à operação. Ao todo, os bloqueios no segundo turno eleitoral custaram R$ 1,3 milhão, segundo a reportagem. A Polícia Federal também passou a investigar o acesso. No último dia 4, conforme reportou a RBA, as apurações da PF levaram também ao nome da então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a delegada federal Marília Alencar.

Ligação com Anderson Torres

No departamento da delegada foi elaborado um mapa detalhando as localidades em que Lula havia vencido o primeiro turno. Nessas cidades e regiões a PRF deveria atrapalhar a chegada dos eleitores com as blitze, o que de fato aconteceu. As investigações também levaram ao nome do ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Anderson Torres. 

Torres viajou dias antes do pleito para a Bahia, o segundo estado em que a PFR mais gastou com a ação. De acordo com o UOL, foram R$ 107,1 mil pagos em Minas Gerais e R$ 93,6 mil na Bahia. Analistas da área jurídica também indicam que a participação de Torres em toda a trama aponta para o Palácio do Planalto. 

A Polícia Rodoviária Federal alega, contudo, que o foco das ações era evitar possíveis crimes eleitorais. O saldo final, segundo a corporação, teria sido: 50 prisões, mais de R$ 4 milhões apreendidos (R$ 2,5 milhões no Pará) e “40 ocorrências relacionadas aos crimes eleitorais, 65% destas ocorreram nos estados do Nordeste e Pará”, diz o documento interno. 


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