Para ‘devolver vida’ aos paulistanos, Dilma libera R$ 8 bi para mobilidade e moradia

Pacote prevê investimento federal em 99 dos 155 quilômetros de corredores de ônibus previstos por Fernando Haddad, que vê 'dia histórico' na ruptura do isolamento de São Paulo

Roberto Stuckert Filho/PR

Haddad e Dilma em evento na capital paulista em que a presidenta anunciou recursos para melhorar gestão urbana

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (31), na sede da prefeitura de São Paulo, que a liberação de R$ 8 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) visa a combater a desigualdade geográfica existente na cidade, que separa moradores da periferia dos habitantes das áreas centrais. “O tempo para as pessoas é sinônimo de vida. Então, tirar as pessoas do transporte e colocá-las na sua casa, no seu lazer, na escola, é transferir e devolver vida à população”, disse, durante discurso de quase 30 minutos na sede do Executivo paulistano.

“Isso é o processo de compensação da distribuição desigual do espaço urbano. Dos R$ 50 bilhões que vamos colocar também teremos empenho muito grande para que cidades tenham sistema de transporte compatível com a necessidade de sua população. Uma das questões mais importantes do Brasil é a questão do transporte coletivo urbano.”

Os recursos liberados para São Paulo são a primeira fatia de R$ 50 bilhões liberados pelo governo federal para mobilidade urbana depois das manifestações de junho, que tiveram início em São Paulo e no Rio de Janeiro contra as más condições do transporte público. Do total de R$ 8 bilhões encaminhados à maior cidade do país em termos de população, R$ 3 bilhões serão destinados à construção de 99 quilômetros de corredores de ônibus, frente a uma promessa de campanha do prefeito Fernando Haddad (PT) de construir 155 quilômetros. Segundo o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, isso vai permitir um ganho de eficiência operacional de 30%, o que abre espaço para uma redução na tarifa do ônibus, hoje em R$ 3.

Dilma aproveitou os resultados do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios, divulgados esta semana pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), para dizer que o mesmo avanço que o Brasil obteve em educação deve ser agora garantido em mobilidade urbana, tido por ela como um dos maiores problemas da atualidade. “Assim como fomos capazes de melhorar tudo isso ao longo desse processo, tenho certeza que nós, com o trabalho árduo que é característica dessa cidade, somos capazes de garantir a devolução do tempo às pessoas”, ressaltou. “Damos um passo muito efetivo na redução da desigualdade. Uns são obrigados a acordar às 4 e meia da manhã para chegar no trabalho às 7. Outros não precisam fazer isso. Mas todos, de alguma forma, são impedidos pelo trânsito.”

Além dos recursos para transporte, Dilma liberou R$ 1,5 bilhão para a construção de 20 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida, R$ 2,2 bilhões para a solução de problemas de moradia em áreas de mananciais às margens das represas Billings e Guarapiranga, e R$ 1,4 bilhão para drenagem.

Sem citações diretas ao antecessor, Gilberto Kassab (PSD), Haddad afirmou se tratar de uma data fundamental para São Paulo ao simbolizar a retomada das relações com o governo federal. “Gostaria de salientar e ressaltar o dia histórico que estamos vivendo na cidade de São Paulo. Sabemos que as relações federativas no Brasil nem sempre se pautam pelas melhores práticas”, disse, chamando o governador Geraldo Alckmin (PSDB), ausente, de um “grande amigo” da cidade.

“O maior desafio é, em primeiro lugar, colocar os interesses do cidadão acima dos interesses partidários. É olhar de frente para o problema e tentar equacionar com a melhor prática de parceria possível, deixando as divergências para o período eleitoral, que é o momento em que divergências devem ser explicitadas.”

Haddad retomou o tom do discurso adotado durante a campanha e no início do mandato ao afirmar que São Paulo tem de reconhecer seu papel fundamental no desenvolvimento do Brasil. “Somos grandes demais para nos isolarmos. Foi o principal equívoco de nosso passado entender que nossa grandeza nos dava a condição de nos isolarmos”, ressaltou, no início da cerimônia, que durou menos de uma hora. “O que está sendo anunciado aqui não é algo que diga respeito a duas pessoas que trabalharam juntas como ministros e que pertencem ao mesmo partido. O que está sendo anunciado aqui é que vamos buscar incansavelmente esse alinhamento que vai recolocar São Paulo no mapa do desenvolvimento do Brasil.”

O ministro das Cidades elogiou as parcerias entre as diferentes esferas do Executivo, enfatizando também que Dilma retomou um papel de planejamento que havia sido perdido, e que mesmo por Luiz Inácio Lula da Silva não teria recebido a devida atenção. “É preciso ter espírito democrático, republicano, colocando sempre em primeiro lugar o interesse da população. É isso que temos visto aqui, é isso que a senhora tem praticado como principal característica de seu governo. É fazer para qualquer brasileiro, independente de cor partidária. É fazer o que a senhora tem repetido sempre, que é a presidenta de todos os brasileiros.”