Ambiguidade

No Senado, ministro da Defesa não esclarece papel das Forças Armadas nas eleições

Na mesma audiência, general Paulo Sérgio se disse a favor da democracia ao mesmo tempo que sustentou as suspeitas de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas

Reprodução/TV Senado
Reprodução/TV Senado
Ministro sugeriu uma espécie de votação paralela como “teste de integridade”

São Paulo – Em audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, manifestou posição ambígua sobre o sistema eleitoral e as eleições de outubro, e o papel das Forças Armadas no processo. Em dado momento, pareceu se colocar distante da postura de Jair Bolsonaro e a favor da democracia. Em outros, indicou que alimenta as mesmas “dúvidas” ou ameaças do chefe sobre as urnas eletrônicas.

Convocada pelo senador bolsonarista Eduardo Girão (Podemos-CE), a audiência serviu para o general falar sobre o que supõe ser o papel das Forças Armadas nas eleições. “Em absoluto, jamais, em tempo algum, seremos revisores de eleições. Tudo que a gente tem feito é seguindo rigorosamente as resoluções do TSE”, disse o ministro. ““O protagonista é o Tribunal Superior Eleitoral, o protagonista é o povo brasileiro”, garantiu.

Ele declarou ainda que fica “bastante chateado, como ministro, como membro das Forças Armadas”, com as suspeitas que põem em dúvida o compromisso dos militares com a democracia. “É por vezes ouvir e ler ‘ataque à democracia’ como se nós estivéssemos atacando a democracia, não mostrando um produto acabado de algo interessante para o sistema eleitoral brasileiro que é essa parte técnica.”

“O que a gente deseja neste momento é paz social. Um momento muito sensível, uma polarização muito grande. Todos temos que estar juntos e unidos para que tenhamos transparência e confiabilidade para uma eleição tranquila”, afirmou ainda o ministro.

Votação paralela

Mas, em outros momentos, o general alimenta as suspeitas, como se quisesse reforçar as ameaças de Bolsonaro. Ele sugeriu uma espécie de votação paralela como “teste de integridade” das urnas eletrônicas em 2 de outubro. A votação seria na urna eletrônica, como de praxe, mas seria instalada uma segunda urna para efeito de teste e ainda uma votação em cédula de papel para verificar se o que o equipamento eletrônico registrou é o mesmo que foi marcado fisicamente.

“A gente propõe uma pequena alteração no que está estabelecido, sendo coerente com a resolução do TSE. Ela prevê o teste das urnas em condições normais de uso. Como seria esse teste? Urnas seriam escolhidas, só que em vez de levar para a sede do Tribunal Regional Eleitoral, essa urna seria colocada em paralelo na seção eleitoral”, disse o coronel Marcelo Sousa, também do Ministério da Defesa, na comissão.