Em debate, Haddad pede a Serra fim de ‘insinuações e truculência’; tucano rejeita

No encontro promovido pela Band, petista usa estratégia agressiva e insiste na associação entre Serra e Kassab

Serra, que lembrou do ex-ministro da Casa Civil, não gostou das citações ao prefeito Gilberto Kassab (Foto: Joel Silva/Folhapress)

São Paulo – No primeiro debate do segundo turno da eleição municipal de São Paulo, realizado pela Band na noite desta quinta-feira (18) e início da madrugada de sexta, o candidato Fernando Haddad (PT) usou uma estratégia surpreendente ao mostrar uma agressividade inesperada. Seu adversário, José Serra (PSDB), experiente em eleições e debates, se defendeu também atacando. 

Depois do primeiro bloco, em que responderam uma questão sobre segurança pública formulada pelo apresentador Boris Casoy, já no primeiro embate direto entre ambos, no segundo bloco, Haddad iniciou a segunda estratégia: associar Serra ao prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), cuja gestão é mal avaliada por cerca de 80% dos paulistanos.  

Diante de um oponente que introduziu questões morais desde a eleição presidencial de 2010 contra a então candidata petista Dilma Rousseff, quando usou o tema do aborto, e também em 2012, ao se valer do pastor Silas Malafaia para colocar na campanha o tema conhecido pejorativamente como “kit gay”, Haddad surpreendeu também ao se dirigir a Serra com um “um convite e uma proposta: deixar as insinuações e a truculência de lado. A população não merece uma campanha de alto nível?”, questionou o candidato do PT.

Mensalão e José Dirceu

Serra insistiu na associação de Fernando Haddad ao caso do mensalão, indiretamente, e de maneira direta ao ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu. Mas a estratégia esbarrou em um contra-ataque inesperado do petista. “Você tem obsessão pelo Zé Dirceu, talvez pela relação de amizade que manteve com ele durante décadas. Pelo amor de Deus, para de falar de pessoas que não estão participando da eleição”, disse Haddad. 

Serra rebateu: “Se tem alguém que faz jogo baixo e baixaria é o PT, estilo Zé Dirceu”, disse. Acusou Haddad de insistir em falar de Kassab, e o petista respondeu: “Falo do Kassab porque ele é o prefeito da cidade. Você quer que eu fale de quem? Estamos falando de políticas públicas. Não estou fazendo referências pessoais ao prefeito Kassab. Estou falando da gestão de Kassab. E isso faz parte da democracia.”

Obras

O tucano enumerou obras ou iniciativas que atribui a si (FAT, seguro desemprego, medicamentos genéricos, entre outros) questionando se são “para pobre ou para rico”, na tentativa de minimizar o estigma de que governa para a elite. “Depende de como leva a frente os problemas”, disse Haddad, para afirmar em seguida que o hospital do M’boi Mirim (zona sul de São Paulo), citado por Serra como obra sua, teve licitação feita pelo governo Marta Suplicy (PT).  “[Luiza] Erundina entregou seis hospitais e Marta licitou dois. E as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), por que  vocês não trouxeram para São Paulo?”, questionou. “Vocês não entregaram os três hospitais que prometeram”, lembrou Haddad, usando o verbo na terceira pessoa. 

O candidato do Partido dos Trabalhadores continuou na ofensiva ao acusar o adversário de mostrar obras do governo Alckmin “como se fossem suas” e de “descartar seus aliados, como fez com Fernando Henrique”, para insinuar que Serra estava querendo fugir da associação com o prefeito de São Paulo. Mas abriu uma brecha ao contra-ataque de Serra ao falar da Controlar, a taxa de inspeção cobrada dos proprietários de veículos. O tucano não perdeu a oportunidade e falou que Haddad e o PT são “especialistas em taxas”, lembrando a taxa do lixo da gestão de Marta Suplicy.

Um dos pontos em que Haddad mais insistiu foi a recusa do governo “Serra-Kassab” em usar as verbas do governo federal para trazer projetos em benefício da população, como o programa Minha Casa, Minha Vida. Serra negou. Como fez em entrevista na rádio CBN na quarta-feira (17), Fernando Haddad citou a verba de R$ 250 milhões que o Planalto teria disponível para a construção de creches na cidade e que não chegam por falta de terreno, segundo ele.

Haddad afirmou ainda que seu adversário vende ilusões. “Uma coisa é aquilo que você mostra no seu programa eleitoral. O mundo dos sonhos que você vende na televisão. Outra coisa é a realidade concreta da cidade. Veja o mapa eleitoral da cidade, veja quantos votos você tem nos bairros pobres”, atacou o candidato que muitos afirmaram tratar-se de um “poste” criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que, segundo pesquisa Ibope divulgada na quarta-feira (17), tem 60% contra 40% em votos válidos e se aproxima de ser o próximo prefeito da capital paulista.