Contrato

Na contramão de Dilma, governo da Bahia contrata serviços do Google

Empresa ajudou Estados Unidos a espionar cidadãos e agora deve gerenciar dados da Secretaria de Saúde

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Apesar de contar com o programa Expresso.BA, ‘uma ferramenta desenvolvida em software livre ágil e segura’, Secretaria da Saúde da Bahia pretende ir de Google

São Paulo – Na contramão da tendência nacional de tentar fechar portas à espionagem, o governo da Bahia deseja contratar o Google para gerenciar dados sigilosos da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). A decisão é tomada enquanto, no plano federal, a presidenta Dilma Rousseff quer rapidez para que o Congresso aprove o Marco Civil da Internet e determina que repartições públicas usem unicamente e-mails do Serviço de Processamento de Dados (Serpro), menos vulnerável a bisbilhotagem

Por meio de uma licitação que teve fim na última quarta-feira (30), o governo baiano pretende contratar uma empresa privada que adquira 5 mil licenças do serviço Google Apps for Bussiness com a finalidade de otimizar os serviços de troca de informações e organização de dados internos. O gigante da internet foi protagonista do escândalo de espionagem revelado pelo ex-agente da Agência Nacional de Segurança dos EUA, Edward Snowden.

Após adquirir as licenças, a empresa deverá dar suporte e treinamento de oito horas por dia, em cinco dias da semana, a todos os servidores da Sesab que passem a usar o serviço. O contrato será válido por 12 meses, extensivos para até 60, ao custo anual de R$ 7,5 milhões, uma vez que cada licença custa R$ 125,16, de acordo com o edital.

No pacote de serviços, a Sesab passará a contar com expertises da Google a exemplo de Gmail, Google Docs e Google Drive. Uma das possibilidades é criar endereços de e-mail personalizados e com a facilidade de manter domínios já consagrados, mas com os serviços internos do Google que já caíram no gosto dos usuários do sistema. A corporação norte-americana afirma oferecer ainda servidores descentralizados, o que diminui a possibilidade de perder dados com panes em máquinas.

Além de contrariar o que defende o Planalto, a contratação do serviço do Google vai também no caminho contrário à oferta e à disponibilidade de ferramentas técnicas dentro de casa. Semelhante à Serpro, o governo possui a Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb), órgão criado em 1973 e que teve entre seus seis primeiros clientes na história, além da própria Sesab, o IBGE e Banco do Nordeste.

A empresa pública dispõe de corpo técnico habilitado para desenvolver soluções de tecnologia, a exemplo de “data center, provimento de internet, gerenciamento e desenvolvimento de sistemas, gestão de projetos, núcleo de impressão e segurança da informação”, de acordo com o próprio site oficial do órgão. E também trabalha com o programa Expresso.BA, uma variação do mesmo serviço antiespionagem obrigatório no governo federal. Ele é descrito pela empresa como “uma ferramenta desenvolvida em software livre ágil e segura” e que cria um “centro de excelência e institui um novo padrão em ferramenta de software livre (…) (que) não agrega ao seu valor custos com aquisição e manutenção de licenças”.

A quem aderiu à versão local do programa estão disponíveis os serviços de e-mail, mensageiro instantâneo interno, agenda corporativa compartilhada, acesso aos dados remotamente e também por meio de smartphones e tablets, catálogo de endereços e banco de boletins administrativos institucionais do governo. No plano federal, a ferramenta foi rebatizada “Expresso V3” e está sendo implantada em todos os órgãos da administração direta e indireta por meio de cronograma.

A licitação foi publicada no Diário Oficial da Bahia no último dia 17 e, na quarta (30), houve o pregão para definir o vencedor. A Sesab, porém, não divulgou ainda se houve interessados e, se houve, quem levou o certame. De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, não há nada errado com o processo licitatório nem moral, nem tecnicamente, e que a Sesab tem suas próprias necessidades.

O órgão afirmou também que as secretarias não têm obrigação de contratar com a Prodeb e que todas as pastas que mexem com dados sigilosos e lógicas de segurança têm um banco de dados e corpo técnico próprios. A necessidade de adoção do serviço do Google, por sua vez, decorreu de avaliação técnica feita pelo setor competente e que as necessidades do órgão são de gerenciamento e tráfego interno de informações.

Também por meio de assessoria de imprensa, a Prodeb informou que não se posicionará oficialmente sobre o caso. O órgão de comunicação da pasta sinalizou conhecer o processo licitatório, mas argumentou que o diretor da empresa, Álvaro dos Santos, está em viagem oficial desde a última semana e que o gestor não poderia comentar as decisões internas da Sesab por não serem de sua competência.