2º turno para governador

Na Bahia, Jerônimo busca 1,8 milhão de votos que foram para Lula no estado, mas não para ele

A meio ponto percentual de vencer no primeiro turno, com vantagem de 9 sobre ACM Neto, Jerônimo cria estratégia para fortalecer o embate nacionalizado do estado

Jerônimo Rodrigues/Twitter/Reprodução
Jerônimo Rodrigues/Twitter/Reprodução
Jerônimo Rodrigues (PT) obteve 49,45% dos votos válidos contra 40,8% do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil)

São Paulo – Após ultrapassar na reta final e ficar em primeiro na disputa pelo governo da Bahia, a campanha do engenheiro e ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues (PT) quer criar um ambiente de plebiscito e nacional o pleito no estado para buscar uma fatia dos 1,8 milhão de eleitores que votaram no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para presidente, mas não no candidato petista para governador. 

De acordo com informações do jornal Folha de S.Paulo, o PT vai intensificar a associação de Jerônimo a Lula neste segundo turno, cuja expectativa é “ampliar bastante” a votação, conforme destacou o atual governador da Bahia, Rui Costa (PT). Em campanha marcada por reviravoltas, o ex-secretário quase venceu no primeiro turno, no último domingo (2). O petista obteve 49,45% dos votos válidos, contra 40,8% do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Antes favorito na disputa, ACM Neto acabou terminando em segundo lugar com uma diferença de 700 mil votos para Jerônimo. Ao mesmo tempo, lidar com um movimento em que vinha em queda e seu adversário, em alta.

A avaliação do atual governador é que o candidato do União Brasil perca ainda parte da capilaridade que tinha com as candidaturas a deputado estadual e federal. Além disso, ontem (4), o candidato a governador Kleber Rosa (Psol), que acabou em quarto na corrida, anunciou apoio a Jerônimo. 

Otimismo e cautela

“É um clima de vitória, clima de festa, porque, para todos os efeitos, a eleição estaria morta hoje, segundo outro lado. E não foi isso, nós colocamos quase 10 pontos sobre aquele que seria, nas pesquisas, o preferido”, celebrou o candidato ao governo da Bahia ainda no domingo. Jerônimo assumiu a campanha pelo executivo estadual em março com o desafio de se tornar conhecido do eleitorado. De agosto para meados de setembro, o ex-secretário conseguiu, contudo, fazer a diferença entre ele o ex-prefeito cair de 38 pontos percentuais para 17 nas pesquisas. 

Nas urnas, o petista superou as expectativas ao ficar perto de levar já no primeiro turno por cerca de 45 mil votos. Apesar do otimismo, a campanha de Jerônimo também destaca estar “pé no chão”. ACM Neto conseguiu, por exemplo, mais votos em sete das 10 maiores cidades baianas. Por outro lado, a própria campanha do candidato do reconhece que a diferença entre os dois ficou aquém do que era projetado, principalmente em Salvador. Na capital, o ex-prefeito conseguiu vantagem de 225 mil votos, o equivalente a 16 pontos percentuais. Por outro lado, Lula teve mais de 1 milhão de votos na cidade – 67%, sendo 43 pontos percentuais à frente de Bolsonaro.

Carlismo versus petistas

No segundo turno, a equipe de ACM Neto afirma estar confiante nos embates diretos com o petista nos debates, embora o ex-prefeito tenha participado de apenas um, quando começou a cair nas pesquisas. Outra aposta da campanha do União Brasil é se manter neutra sobre a disputa para presidência da República. Ela estima que metade dos 3,3 milhões de votos recebidos por ACM Neto no domingo foram de eleitores de Lula. O que torna improvável um apoio do ex-prefeito a Bolsonaro. O candidato do União Brasil ganhou em todas as zonas eleitorais de Salvador, assim como o ex-presidente. 

A disputa entre Jerônimo e ACM Neto também repete um enfrentamento histórico entre o chamado carlismo e o petismo na Bahia, que ocorre há 24 anos. Uma polarização iniciada pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), avô do candidato. O grupo político da família comandou o estado por 16 anos, de 1991 a 2006. Já o PT venceu as quatro eleições seguintes desde então.