Discurso

Em São Paulo, Marina e Campos adaptam discursos para justificar aliança

Ex-ministra diz que alta aprovação de Campos mostra que alianças, em Pernambuco, não são fisiológicas. Governador defende agronegócio sustentável para tentar romper problema criado pela recém-filiada

Marcelo D’Sants/Frame/Folhapress

Marina e Campos seguem tentando pisar as terras da terceira via na disputa eleitoral de 2014

São Paulo – O primeiro encontro organizado por integrantes de PSB e Rede Sustentabilidade para debater a convergência de discursos em torno da candidatura ao Palácio do Planalto terminou com adaptações de Eduardo Campos e Marina Silva para dar conta das bandeiras dos dois lados.

De um lado, o governador de Pernambuco e presidente do PSB trabalhou para continuar a desfazer o mal-estar criado pela recém-filiada, que fez críticas aos produtores rurais, provocando o rompimento de alianças que estavam sendo costuradas por Campos com vistas a 2014. “Não temos nenhum preconceito com os que vivem e produzem no campo, pelo contrário, vemos a necessidade dessa aproximação com o que defendemos porque há uma expectativa enorme com o Brasil no mundo afora”, disse, já incorporando à fala uma temática até há pouco periférica em seu discurso: a questão ambiental. “O agronegócio é responsável por 25% do PIB, 25% do emprego. Nós queremos fazer isso com sustentabilidade, porque o mundo não quer comprar nada de quem não respeite os valores que ele está em busca.”

Já Marina seguiu em sua tentativa de justificar a migração para o PSB, após ao menos três anos de seguidas críticas a todos os partidos que considera tradicionais. Após naufragar a tentativa de ter o registro da Rede aceito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a ex-senadora juntou-se a Campos, e passou a defender que, no caso do governo de Pernambuco, o oferecimento de cargos no Executivo não se dá simplesmente para obter em troca apoio no Legislativo, mas por uma questão programática.

A ex-ministra do Meio Ambiente disse que as alianças feitas durante os sete anos da gestão de Campos são justificadas pela boa avaliação de seu mandato. “Se fosse puramente fisiológico, ele não seria o governador mais bem avaliado de nosso país”, afirmou a jornalistas após o evento, na Lapa, zona oeste da capital. Marina não explicou se o mesmo raciocínio valia para o governo Lula, o mais bem avaliado da recente história brasileira, e que ela deixou em 2008 em meio a divergências sobre a questão ambiental.

O objetivo do evento, que reuniu militantes políticos, acadêmicos, empresários e lideranças sociais e culturais foi discutir a elaboração de um programa comum às duas siglas.

O governo de Campos tinha até o início deste mês 3.536 funcionários comissionados e tem em sua base de apoio 14 partidos. Porém, o governador adotou o discurso contra o fisiologismo após selar aliança com Marina. A ideia é captar os votos do eleitorado que procura uma terceira via na disputa, polarizada há duas décadas entre PT e PSDB.

A respeito do peso das alianças, Campos disse aos jornalistas que há uma distinção entre ocupação de cargos em função de programas e pela imposição de partidos. “Nós não podemos achar que uma pessoa, por ter filiação partidária, não pode ocupar uma função pública. Porque aí é um outro tipo de preconceito”, disse. “É preciso fazer uma distinção por cargos ocupados em uma prefeitura, um governo de estado ou no governo federal só pelo fato de ter uma filiação partidária e fazer uma ocupação e, a partir dela, se discutir a política.”

Os dois políticos afirmaram que, se eleitos, irão governar com os melhores quadros dos principais partidos do país. “Nós estamos dizendo que queremos governar com os melhores do PT, os melhores do PMDB, os melhores do PSDB. Acredito que eles existem em todos os partidos. É nessa visão que apostamos. E estamos dizendo antes para que ninguém diga depois: ‘Vocês agora que ganharam estão aí conversando com o Lula, estão aí conversando com Fernando Henrique’. Estamos dizendo antes para que a sociedade tenha direito de escolher”, discursou Marina.

“Quando eu falo que vamos fazer uma aliança programática não significa que se vai governar sozinho. Nenhum partido tem condições de governar sozinho. E nem é democrático. A diferença é quando isso é fora da ideia de programa”, definiu Marina.

O documento que norteou a discussão tenta enquadrar o tema do desenvolvimento sustentável em algo não restrito à proteção do meio ambiente e elege a educação como eixo de um desenvolvimento mais justo. O texto reconhece os avanços nas últimas duas décadas no país, como o combate à inflação e à desigualdade social, mas propõe um modelo de progresso mais humano, o que “implica questionar as prioridades e os métodos de ação do Estado”.

O esboço menciona a necessidade de uma reforma política e propõe “democratizar a democracia”, uma expressão tipicamente de Marina. É taxativo em dizer que o atual sistema é “impregnado de práticas atrasadas, permeadas por uma persistente cultura patrimonialista e acordos circunstanciais de ocupação de postos de poder, o que ocasiona o afastamento da população”.

Para os militantes que debateram o texto em grupos de trabalho, é preciso aprofundar o debate sobre a reforma política e participação direta da população, enfatizar as políticas culturais como fundamentais para o desenvolvimento sustentável do país e incluir a reforma urbana como eixo do programa.