Tô vendo uma esperança

Lula cita Betinho e Henfil ao lançar fábrica de remédios para hemofilia

Planta da Hemobrás na região metropolitana do Recife vai suprir 100% da demanda do SUS pelo Hemo-8r, medicamento para o tratamento de hemofílicos

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Com profilaxia e tratamento, portadores da hemofilia já podem ter vida saudável e ativa, lembrou Lula

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou hoje a primeira fábrica do Brasil a produzir o Hemo-8r, medicamento para o tratamento da hemofilia tipo A. Localizada em Goiana, Pernambuco, no Complexo Industrial da Hemobrás, a unidade vai produzir 1,2 bilhão de unidades do fator VIII recombinante – Hemo-8r – por ano.

O presidente então lembrou do cartunista, jornalista e escritor Henfil e do sociólogo Hebert de Souza, o Betinho. Juntamente com o músico Chico Mário, os três irmãos morreram vítimas do HIV que contraíram em transfusões de sangue que precisava fazer, por serem hemofílicos.

“Há 36 anos a gente perdeu um companheiro da mais alta importância para a cultura brasileira, que era o companheiro Henfil. E a 27 anos a gente perdia o Betinho, o irmão dele, que foi um cara que motivou a música O Bêbado e o Equilibrista, cantada por Elis Regina”, disse Lula. 

“Esses companheiros eram hemofílicos. Tive o prazer de conviver muito com eles. Lembro de andar na casa do Henfil. Não tinha nada na parede que pudesse cair, nada que ele pudesse se machucar, porque qualquer coisinha, demorava meses e meses para se recuperar”, relembrou.

“Era um tempo em que as pessoas com hemofilia sofriam com a falta de tratamento profilático, constantes internações e transfusões de sangue. Uma época em que não tínhamos ainda o rigor de hoje na coleta e destinação das doações de sangue. Perdemos vidas precocemente por não termos tratamento adequado aos portadores de hemofilia”.

O tratamento

Em 2005, durante o seu primeiro mandato, Lula criou a Hemobrás. A estatal foi concebida com o objetivo de desenvolver e produzir medicamentos hemoderivados e biotecnológicos para atender prioritariamente ao tratamento dos hemofílicos.

Nesse sentido, Lula citou que já nos anos 2000 nasceu um “companheiro” pernambucano que foi diagnosticado com hemofilia aos 4 meses de idade. Atualmente, graças ao tratamento adequado, ele tem uma vida saudável e ativa e é um dos trabalhadores da Hemobrás.

A hemofilia do tipo A atinge atualmente cerca de 12 milhões de pessoas no país. Assim, a nova unidade deve suprir 100% da demanda do SUS pelo medicamento que auxilia na coagulação do sangue, tornando o Brasil autossustentável. A previsão é que remédio chegue ao SUS a partir de setembro.

Ao mesmo tempo, estimativa é que a nova unidade da Hemobrás deve criar cerca de 2 mil empregos na região. Com investimento de aproximadamente R$ 1,4 bilhão, é a maior fábrica de medicamentos hemoderivados da América Latina, com capacidade para processar até 500 mil litros de plasma ao ano.

O Hemo-8r já é fornecido para o SUS pela Hemobrás por meio de uma parceria com a farmacêutica japonesa Takeda. Com a produção totalmente nacional, a expectativa é que haja redução de 30% no preço do remédio, e consequentemente o aumento da oferta do medicamento no país.

Grandeza do SUS

Além do combate à hemofilia, Lula ressaltou a importância do SUS para o desenvolvimento econômico do país. A Hemobrás, segundo ele, é exemplo do que pode vir a ser o complexo industrial da Saúde no Brasil. Isso porque o SUS serve justamente como grande demandante de medicamentos, vacinas e equipamentos. “A gente não tem porque não acreditar que a gente pode ter um polo industrial na área da Saúde, para competir com qualquer país do mundo, por mais rico que seja”.

O presidente destacou ainda que 99% dos transplantes de órgãos no Brasil – “inclusive de gente rica” – são feitos pelo sistema público. Disse, no entanto, que a população só ouve falar do SUS quando a imprensa noticia a fila por atendimento, ou no caso de um paciente que morreu por falta de tratamento.

Mais medicamentos

Antes de Lula, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, saudou o seu colega Alexandre Padilha (Relações Institucionais). Foi durante a gestão dele no Ministério da Saúde que teve início a parceria com os japoneses para a produção do fator VIII recombinante.

“Essa parceria que nos permite hoje, com a transferência de tecnologia, fazer o Brasil ter a autonomia na produção desse medicamento”. Ressaltou que se trata de um medicamento biológico que requer muita tecnologia e conhecimento. Nísia disse ainda que a Hemobrás ainda vai inaugurar outras plantas que vão produzir imunoglobulina e albumina. “A Hemobrás existe com força hoje é um símbolo da ciência e tecnologia no Brasil”.


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