Dia seguinte

‘Seja qual for resultado, governo terá de buscar mais diálogo’, diz Humberto Costa

Senador defende que haja contato com todos os setores para que país saia da crise, além da reformulação do PT e da expansão de conversas e negociações “sem escolha de interlocutores”

Jefferson Rudy/Agência Senado

Costa: ‘PT preferiu se enquadrar nas formas de fazer política que existiam’

Brasília – O atual líder do governo no Senado, senador Humberto Costa (PT-PE), disse que seja qual for o resultado de domingo (17), na votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, tanto ela como um novo governo precisará buscar fortemente o diálogo com os movimentos sociais, empregados, trabalhadores e cidadãos de um modo geral, sem escolha de interlocutores. “Para superarmos a crise, precisamos buscar contatos com todos, desde o atual presidente da Câmara aos líderes oposicionistas”, afirmou, na hipótese de o impedimento não passar. “Se tiver de ser o vice-presidente Michel Temer, ele só conseguirá governar se fizer o mesmo”, disse.

Costa deu a declaração na noite de ontem (12), durante entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil, no qual fez uma avaliação dos governos do PT, afirmando que o partido precisa se “autorreformar”.

“Nós somos em grande parte responsáveis por esta situação que estamos vivendo hoje. O PT é um partido que se formou para ser um contraponto à cultura política que existia no Brasil, essa cultura autoritária, uma cultura muito íntima, às vezes até promíscua entre o poder econômico e o poder político.”

“Mas o PT facilmente se amoldou a esse desenho e preferiu se enquadrar nas formas de fazer política que existiam, em vez de insistir numa nova maneira, especialmente no que diz respeito à constituição de uma reforma política. Veja que estamos conquistando o financiamento eleitoral público e privado, mas individual, depois que estamos já há quase 12 anos no poder”, disse.

O senador destacou uma frase que, segundo ele, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem repetido diversas vezes nas conversas com os parlamentares da base aliada, nos últimos tempos: “Nós não precisávamos ter chegado a isso”. “Lula tem razão. Tínhamos ampla condição de, pelo diálogo político, pelo entendimento, não precisar viver uma situação como esta, uma situação em que estamos brigando para ter cerca de 200 votos numa Câmara dos Deputados que possui mais de 500 parlamentares”, destacou.

‘Muitos erros’

Costa reconheceu que o governo cometeu muitos erros e falhou na condução política desse diálogo permanente. “Erramos na relação com o Congresso Nacional, erramos na relação com a nossa base social, insistimos em coisas que já tinham sido demonstradas como equivocadas e, por isso, nós estamos vivendo esse momento. Mas nada sobrevive tanto tempo sem que possa se mudar.”

O senador disse acreditar que considera “perfeitamente possível fazermos um novo roteiro, um novo caminho a partir de agora, começando da economia”. Disse que o  momento é tão complicado que faz com que a crise política realimente a crise econômica, a econômica por sua vez alimente a crise política “e aí vive-se um ciclo vicioso no país”.

Ao comparar a situação do processo de impeachment atual com o do ex-presidente Fernando Collor, em 1992, afirmou que a situação é muito distinta. “O presidente Collor não tinha um partido político, não tinha respaldo na sociedade, não tinha movimentos organizados no seu governo e em apoio a ele, o que é muito diferente do que acontece hoje com a presidenta Dilma. Além do fato de ter havido uma comprovação de um crime de responsabilidade.”

“Hoje nós temos uma presidenta que, em meio a tantos e tantos políticos envolvidos em irregularidades e corrupção, é uma pessoa contra a qual não há qualquer denúncia consistente em que se possa enquadrá-la, que não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Ao mesmo tempo, ela tem um partido político forte, com larga base social e tem a seu favor os movimentos sociais organizados do Brasil. Então, a votação deste domingo será uma disputa muito mais acirrada do que aquela que aconteceu em 1992”, completou.

Presidencialismo de coalizão

Humberto Costa também disse que vê o caminho do Brasil a partir do cumprimento da Constituição Federal e por meio da democracia. “Isso significa que é preciso haver respeito à decisão das urnas em 2014, quando 54 milhões de brasileiros escolheram a presidenta Dilma Rousseff e a consideração de que nós vivemos num sistema presidencialista. Naturalmente que temos até que reformar esse sistema, porque da forma como nós vivemos, hoje esse modelo chamado ‘presidencialismo de coalizão’ está inteiramente esgotado. Porém, é o que aí está”, afirmou.

“Se nós quisermos recuperar a legitimidade do poder público, do governo, teremos que respeitar as leis e garantir a legitimidade do país.” Motivos pelos quais, segundo ele, o impeachment é um “caminho torto, um caminho que leva à quebra dessa normalidade, desse roteiro democrático e ao desrespeito à Constituição”.

O líder demonstra preocupação com o momento: “Vamos precisar fazer esse diálogo de uma forma bastante rápida, mas para isso temos a expectativa do ex-presidente Lula poder estar no nosso governo, comandando essa área das negociações políticas e com isso eu acho que nós vamos conseguir superar essa instabilidade”.

A entrevista foi concedida pelo senador Humberto Costa aos jornalistas Paulo Moreira Leite (âncora do programa Espaço Público), ao entrevistador Florestan Fernandes Júnior e à reportagem da Rede Brasil Atual.

Assista aqui ao vídeo do programa

http://tvbrasil.ebc.com.br/espacopublico/episodio/humberto-costa-culpa-sistema-politico-pela-crise