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Jornalistas amigos, entrevistas forjadas e assassino vizinho: supostas ligações bolsonaristas com o caso Marielle

Enquanto avançam as investigações sobre o assassinato de Marielle Franco, elementos tangenciam a vida do ex-presidente

Tomaz Silva/EBC
Tomaz Silva/EBC
"A Polícia Federal, que trabalha com independência técnica, tem todos os cuidados legais para garantir uma investigação bem feita"

São Paulo – As investigações sobre o caso do assassinato da vereadora Marielle Franco avançam e, cada vez mais, tangenciam a vida do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ronie Lessa, vizinho de Bolsonaro, foi apontado por Élcio Franco, envolvido no caso, como assassino de Marielle. Franco foi transferido na noite de ontem (25) para o presídio da Papuda, em Brasília. Enquanto isso, informações do DCM dão conta de que Bolsonaro ensaiou respostas sobre o caso em entrevistas para a TV Bandeirantes e para o SBT.

Nesta semana, um vídeo flagrou o jornalista Caiã Messina, da TV Bandeirantes, falando para Bolsonaro ficar tranquilo durante uma entrevista. “Estamos entre amigos, todos aqui votaram em você”, disse. No mesmo dia, o apresentador de um telejornal da emissora, Eduardo Oinegue, criticou o avanço das investigações a partir da delação premiada de Franco. Oinegue criticou o ministro da Justiça, Flávio Dino, por seu afinco nas investigações.

Bolsonaristas contra a polícia

“Será que ele vai se cansar ou a gente vai se cansar dele?”, disse Oinegue. Dino, por sua vez, não se intimidou. Hoje, ele rebateu as críticas e defendeu a independência da Polícia Federal, que toca as investigações. Os avanços coincidem com a saída de Bolsonaro da presidência. O ex-presidente foi largamente acusado de aparelhar a PF em seu benefício. As críticas vieram inclusive de aliados, como do ex-ministro, ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União Brasil).

“Nós temos uma orientação clara. A Polícia Federal, que trabalha com independência técnica, tem todos os cuidados legais para garantir uma investigação bem feita, [que] indica que só há revelação do conteúdo de uma delação ou colaboração quando há a chamada prova de confirmação ou corroboração”, disse Dino, em entrevista coletiva. “A partir da narrativa de um dos autores, que é o senhor Élcio, há a produção de outras provas, que confirmam aquilo que ele está narrando, afirmando. A Polícia Federal e o Ministério Público trabalham com outros anexos à delação”, completou.

Quem também criticou o ataque de Oinegue contra a Justiça foi a jornalista Barbara Gância. “Oinegue, Oinegue… Quando é assim, faz como o Boechat e o Datena. Bata o pé no chão e diga que você se recusa a entrar no ar pra papagaiar uma merda desse quilate”, disse.

Falsa simetria lavajatista

As críticas contra as ações da PF que buscam trazer à luz as razões do assassinato se alastram entre bolsonaristas. As principais dão conta de que delação não seria prova. Adeptos da Operação Lava Jato também criticaram. Eles tentam fazer uma falsa comparação com acusações sem provas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), explica as diferenças.

“Vamos deixar bem claras as diferenças. Informações de Élcio Franco corroboram as provas já existentes. Diferente da República de Curitiba que prendia e depois quando não encontrava provas forçava confissões. Caso Marielle não é convicção, nem um PowerPoint. Mais respeito”, disse, após criticas do ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado cassado, Deltan Dallagnol.

Perto de casa

O jornalista Leandro Demori, ex-The Intercept e atual A Grande Guerra, recorda que não há provas de envolvimento do clã Bolsonaro com o caso. Mas que há indícios que devem ser apurados. Até porque, até o momento, apenas figuras pequenas foram implicadas no caso. E, ainda à época dos fatos, o ex-ministro Raul Jungmann, durante o governo Michel Temer (MDB), disse abertamente que havia certeza de que “poderosos estavam envolvidos”.

“Ninguém sabe se a família Bolsonaro tem envolvimento no caso Marielle. O que existe, há anos, são indícios materiais evidentes para que a família Bolsonaro seja investigada no caso Marielle. Pra saber, tem que investigar”, defende o jornalista. Por fim, Demori fez uma linha do tempo com algumas suspeitas que devem ser alvo de investidas da PF.


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