Indefinida, disputa pelo Senado no RJ ganha contornos nacionais

Enquanto Lula pede voto para Crivella e Lindberg na TV, Picciani tenta colher frutos de imagens de arquivo de Lula (Foto: Reprodução) Rio de Janeiro – Com a reeleição do […]

Enquanto Lula pede voto para Crivella e Lindberg na TV, Picciani tenta colher frutos de imagens de arquivo de Lula (Foto: Reprodução)

Rio de Janeiro – Com a reeleição do governador Sérgio Cabral (PMDB) no primeiro turno praticamente assegurada, segundo os institutos de pesquisa, a última semana de campanha eleitoral no Rio de Janeiro promete ser de guerra pelas duas vagas em disputa para o Senado. A subida dos candidatos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo de setembro foi acompanhada pela queda do ex-prefeito Cesar Maia (DEM), maior aliado do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, no Rio. Esta dinâmica deu à briga pelas duas vagas de senador no estado um caráter nacional, já que a eventual derrota de Cesar seria o maior símbolo do “novo Senado” com o qual um eventual governo da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, contaria.

Cesar Maia foi o primeiro a apostar na nacionalização da campanha no Rio ao fazer um apelo aos eleitores fluminenses para que deem a ele seus votos para “impedir que Dilma e o PT tenham maioria constitucional no Senado”. Durante entrevista concedida sábado (25) ao jornal O Globo, o ex-prefeito voltou a tocar no assunto. “O PT tem a expectativa de obter uma perigosa maioria constitucional para que, num ‘kit chavista’, possa alterar a Constituição. O que o PT quer é maioria constitucional, e o que queremos é que ele não tenha essa maioria no Congresso, mas fundamentalmente no Senado”, disse.

Outros aspectos do discurso nacional da aliança DEM-PSDB e de José Serra também foram mais fortemente incorporados por Maia assim que sua queda nas pesquisas começou a ser detectada. Desde então, as críticas do candidato do DEM deixaram as questões regionais e se concentraram em temas como o “esquerdismo” do III Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e a suposta posição de Dilma e do PT contra a liberdade da imprensa. Em sua ofensiva na última semana, em busca de recuperar terreno e ganhar votos entre os antipetistas, Cesar chegou a comparar Lula com o dirigente nazista Heinrich Himmler, chefe da SS – polícia do regime comandado por Adolf Hitler.

Apesar da afinidade de discurso com Serra, Cesar abandonou o candidato tucano à Presidência, que sequer aparece em sua propaganda na televisão. O candidato do DEM ao Senado compensa a falta da companhia aparentemente indesejada de Serra com mensagens de apoio gravadas por Aécio Neves, candidato ao Senado por Minas Gerais, e Geraldo Alckmin, candidato ao Governo de São Paulo. Além destes, apareceram na tevê pedindo votos para o Maia mensagens de Caetano Veloso e Paulo Coelho.

Briga por Lula

Em direção inversa a Cesar Maia, os três candidatos ao Senado que fazem parte da base de apoio ao governo Lula – Lindberg Farias (PT), Jorge Picciani (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB) – buscam realçar a proximidade com o presidente e também com Dilma. Nesse campo, uma outra batalha é travada, desta vez pelo apoio de Lula. Fiel ao que prometera no início da campanha, Lula continua a pedir votos para Lindberg e Crivella, mesmo com este último não fazendo parte da coligação estadual.

A Picciani, que tem o firme apoio do governador Sérgio Cabral, Lula somente permitiu que usasse sua imagem, sem declaração formal de apoio, nas duas últimas semanas de campanha na TV. O peemedebista ainda luta por um engajamento mais explícito de Lula em sua campanha, mas o que aconteceu na última semana foi o surgimento de novas e contundentes mensagens do presidente em apoio a Lindberg e Crivella.

Ao lado do senador do PRB, Lula não poupa elogios a Crivella: “Estou aqui com um companheiro que eu poderia colocar o nome dele de lealdade. Este homem votou com o governo naquilo que o governo precisava para mudar o Brasil”, disse. De mãos dadas com Crivella, Lula declara seu apoio e cita o vice-presidente José Alencar, que também é do PRB: “Meu apoio a você – e o apoio do José Alencar – é uma questão de gratidão pelo compromisso que você teve comigo durante todo o teu mandato e todo o meu mandato. Por isso, eu acho que um estado que tem o privilégio de ter um homem do caráter do companheiro Crivella deve elegê-lo senador”.

Orgulho e lágrimas

Lindberg também exibiu nova mensagem de apoio gravada por Lula, na qual o presidente, sentado ao seu lado, lembra que os dois se conheceram há 18 anos, “na famosa luta pelo impeachment”, quando o candidato petista ao Senado era presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). “Esse jovem foi um extraordinário prefeito de Nova Iguaçu e agora está dando um salto importante para ajudar o Brasil e ajudar o Rio de Janeiro”, disse. Após afirmar que “a gente passa a vida inteira procurando pessoas corretas para confiar e votar”, Lula pede a todos que “têm carinho” por ele que votem em Lindberg. “O Rio de Janeiro e o Brasil vão ganhar com isso e a Dilma vai ter mais um senador a apoiá-la”, diz o presidente.

Com os olhos rasos d’água, Lindberg, que em determinado momento chega a beijar a mão do presidente, se declara fã de Lula: “Dá orgulho ver tudo o que você está fazendo por este país. A vida das pessoas está mudando, jovens e filhos de trabalhadores estão entrando na universidade. Uma coisa eu aprendi com o senhor e vou levar para o Senado: a gente só melhora a vida de todo mundo quando faz pelas pessoas que mais precisam”.

Arquivo e Cabral

Sem contar com o apoio explícito de Lula, Picciani usa imagens de arquivo para mostrar sua proximidade com o presidente. Em sua propaganda, após um locutor afirmar que “estar com Lula agora, todo mundo está, mas não foi assim em 2002”, Picciani exibe imagens de um ato de apoio a primeira candidatura vitoriosa de Lula à Presidência, realizado no Rio de Janeiro. “Quero agradecer ao deputado Picciani a corajosa militância do PMDB”, afirma Lula, ainda de barba preta.

Com poucas esperanças de conseguir uma maior participação de Lula nesta reta de chegada da campanha, Picciani tem em Cabral seu maior trunfo para conquistar uma das vagas fluminenses no Senado. Na semana passada, o governador reuniu 79 prefeitos do interior em um ato de apoio político a Picciani que contou também com a presença de Lindberg. Na televisão, Cabral foi outro que assumiu o tom nacional da campanha no Rio e passou a indagar aos eleitores, em clara alusão a Cesar Maia: “Para que colocar em Brasília um senador que só vai querer brigar com o governo Dilma?”.

Pesquisas

Na mais recente pesquisa de opinião para o Senado, divulgada pelo Ibope na sexta-feira (24), Lindberg aparece com 37% das intenções de voto, em empate técnico com Crivella (34%). Maia e Picciani surgem empatados em terceiro, com 23% cada. Um dia antes, o Datafolha divulgou o resultado de uma pesquisa que mostra Crivella em primeiro lugar, com 42% das intenções de voto, seguido por Lindberg (40%). Cesar surge em terceiro lugar com 26% e Picciani em quarto com 20% das intenções de voto. Ambos os institutos identificaram uma indefinição em torno de 50% para o segundo voto para senador, dado que torna ainda aberta a eleição deste ano no Rio.