Sem licença para matar

Governo Tarcísio recua e diz que vai manter câmeras nos uniformes de PMs

Manutenção do programa que reduziu drasticamente a letalidade policial é anunciada uma semana após forte reação. Até o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania pediu a manutenção e ampliação da política exitosa

GOVSP/Divulgação
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Estudos mostram que o uso de câmeras reduzem a letalidade policial

São Paulo – O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) recuou e deverá manter as câmeras nos uniformes dos PMs de São Paulo. Nesta terça-feira (10), em entrevista à TV Globo, o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite negou o fim do programa Olho Vivo.

“Não iremos acabar com o programa Olho Vivo das câmeras. Não iremos. É o meu compromisso e do governador”, disse o secretário Derrite.

O secretário afirmou ainda que pretende ampliar as funcionalidades da câmera. “Ela foi instalada com uma intenção de fiscalização e controle, que é aceitável, tem sua funcionalidade. Nós queremos, além da fiscalização e controle, acoplar à câmera do policial ferramentas que vão combater o crime, como por exemplo, leitura de placa de veículos roubados. Isso pode ser instalado na câmera”, disse.

Derrite e Tarcísio defenderam o fim do uso de câmeras por PMs

Na semana passada, porém, Derrite afirmou a uma rádio de Sorocaba que a revisão do programa seria uma de suas primeiras medidas. Junto com o governador Tarcísio de Freitas, o secretário criticou o uso da câmera durante toda a campanha eleitoral.

Ex-policial militar que atuou na Rota e próximo da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Derrite é formado em Direito e oficial da reserva da Polícia Militar. Ele chegou a dizer que “o governo de São Paulo era inimigo da polícia ao compartilhar uma manchete de um jornal sobre o uso de câmeras nas fardas”.

O anúncio do fim do programa Olho Vivo despertou muita reação contrária. Motivou desde manifesto de procuradores até nota do governo federal. Isso porque a suspensão do programa ou a retirada das câmeras poderia ser vista pelos agentes da PM como uma “licença para matar”.

Governo Lula pede ampliação do programa Olho Vivo

Afinal, dados de dezembro da própria Secretária de Segurança Pública paulista apontam redução de 65,6% da letalidade policial nos 60 batalhões inseridos na operação Olho Vivo. O dado se refere ao período anterior à implementação da medida, em 2021.

O Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania do governo Lula (PT) também se mobilizou pela manutenção do Olho Vivo. Na nota, a pasta destacou que relatório da Fundação Getúlio Vargas e da USP conclui que o programa Olho Vivo reduziu em 57% o número de mortes decorrentes de intervenção policial. 

“O sucesso dessa política demonstrado pela ciência faz com que ela não apenas tenha que ser reforçada e ampliada nas regiões em que é aplicada, mas também que seja estendida a todas as unidades da federação”, diz trecho da nota.


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