Encontro

Governo se articula para ter maior proximidade e diálogo com base aliada

Estratégia é ampliar número de reuniões de Dilma com deputados e senadores. Encontro no Alvorada deve intensificar ações pela defesa da democracia e pelo reconhecimento do resultado eleitoral

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Dilma começará a traçar estratégia para enfrentar oposição maior e quadro de redução da base aliada

Brasília – Os reflexos do resultado das urnas no Congresso Nacional começam a ser sentidos, na prática, a partir de hoje (6), com o encontro a ser realizado no inicio da noite entre a presidenta Dilma Rousseff, parlamentares e governadores do PT. Pela manhã, movimentação semelhante já foi observada em São Paulo, durante reunião de senadores com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A retomada das conversas e dessa aproximação com os parlamentares (principalmente os deputados) faz parte da estratégia do governo para manter unida a base aliada e evitar perder terreno, num Congresso que a partir de 2015 terá 18 deputados petistas a menos e a redução de 36 parlamentares das legendas que dão apoio ao Executivo.

Por conta disso, o recado que está sendo passado, tanto por Lula como por Dilma e sua equipe, é: o governo procurará ter mais diálogo com deputados e senadores, aumentará o número de reuniões como esta e os responsáveis pela articulação política terão de se desdobrar para atender aos pedidos de audiências e reuniões solicitadas por parlamentares nos ministérios. O intuito é evitar o retorno de críticas como as que foram feitas nos últimos quatro anos no Congresso de que houve pouca disposição à negociação.

Outras estratégias, que já foram antecipadas por dirigentes do PT em reunião da bancada esta semana, são uma preocupação maior de fazer andar ações de defesa da democracia no Legislativo, sobretudo diante das últimas manifestações, que pediram intervenção militar no país e o impeachment de Dilma, atenção e esforço para que possa caminhar a reforma política, e mais proximidade com os pedidos feitos pelas ruas. Esse trabalho não ficará apenas na seara do PT, devendo se estender para reuniões da presidenta, a partir da próxima semana, com integrantes das demais legendas.

Diálogo

“Além de confraternizar, a reunião representa um gesto do governo rumo ao diálogo que a presidenta Dilma já havia declarado logo após o resultado da eleição”, avalia o líder do PT na Câmara, Vicente Paulo da Silva, Vicentinho (SP).  “No novo mandato, que começa em janeiro de 2015, a bancada deve ser protagonista no nosso governo. Queremos dar opinião. Queremos ajudar cada vez mais o nosso País.”

Segundo o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), o encontro dos senadores com  Lula teve como foco fazer um balanço das eleições e traçar as estratégias do PT no âmbito do Congresso Nacional a partir de agora, inclusive, como reconhecimento de que houve uma qualificação da bancada de oposição. “Nossa perspectiva é de um governo bastante legitimado, que tem um compromisso com mudanças e que apresentou inclusive os caminhos para isso”, afirmou, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

“Queremos consolidar relacionamento dentro dessa bancada de apoio ao governo”, afirmou. “Naturalmente que tivemos, do ponto de vista da oposição, uma qualificação da bancada. Sabemos que isso vai tornar o debate mais rico, mais duro, mas também isso abre a possibilidade de negociação em torno de temas e propostas.”

Eleições

Outro ponto forte das conversas dos últimos dias, que tem como pano de fundo o fortalecimento da base aliada no Congresso, é a discussão, desde agora, da eleição para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado. A intenção é aparar ao máximo as divisões hoje existentes no PMDB, e em partidos como PP e PTB, sobretudo depois das declarações feitas ontem pelos oposicionistas de que pretendem se unir num bloco bem estruturado. Uma preocupação pode ser sentida de forma mais imediata a partir das votações observadas no Congresso Nacional desde a última semana, nas quais o governo saiu derrotado.

Como se não bastasse a derrubada do decreto que instituiu a Política Nacional de Participação Social, os parlamentares aprovaram hoje a convocação de dois ministros e convites a outros quatro para que prestem esclarecimentos sobre programas e denúncias feitas sobre suas pastas.

Dos dois ministros convocados – Neri Geller (Agricultura) e Edison Lobão (Minas e Energia) –, caberá a Geller falar sobre fraudes no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o controle de vacinas de febre aftosa. Já Lobão foi convocado para dar explicações sobre a compra, pela Eletrobras, de 51% das ações da Companhia Energética de Goiás – Distribuição (Celg-D).

Orçamento

Foram chamados também, mas na forma de convites, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para falar da proposta orçamentária para 2015; e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, para conversar sobre os termos de acordo firmado entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o governo venezuelano.

Além deles dois, foi enviado convite para o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, com o objetivo de serem discutidos com ele temas como  a criação de um novo banco de novo banco de desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e as declarações de Dilma sugerindo o diálogo como alternativa para conter o avanço do terrorismo islâmico no Oriente Médio.

Por fim, os parlamentares convidaram o ministro da Saúde, Arthur Chioro, para dar esclarecimentos sobre denúncias apuradas pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar em relação ao Laboratório Labogen. Com exceção da audiência que contará com a presença de Chioro, ainda não marcada, todas as demais que terão a participação destes ministros estão programadas para acontecer até o final de novembro.

Convites de audiências com ministros são constantes na Câmara e no Senado, mas, depois que a pauta da Câmara ficou trancada para votações por falta de consenso, na ultima terça-feira, e com a ameaça de derrubada de mais matérias de interesse do Executivo, tanto o governo como os parlamentares que dão sustentação ao Planalto puseram as barbas de molho.

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