Tragédias climáticas

‘Governo federal não colocou limites para ajudar’, afirma Márcio França sobre tragédia das chuvas no litoral norte

Governo federal organiza ações para evitar tragédias relacionadas com o clima, como a do litoral de São Paulo, e reafirma importância da presença do Estado frente aos problemas sociais

Jornal da USP/Flickr
Jornal da USP/Flickr
Causados pelas emissões de gases de efeito estufa, em sua maioria pelos países ricos, os eventos extremos, como as enchentes, afetam em especial as populações mais vuleráveis dos países pobres

São Paulo – O governo federal empenhou, até o momento, R$ 60 milhões para ajudar a mitigar problemas relacionados com as chuvas no litoral norte de São Paulo. Desde domingo (19), ministros de Estado estão no local. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) interrompeu folga para também estar presente. Amanhã (25) chega à região o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). “É importante as pessoas saberem que o governo federal não colocou limites para ajudar”, afirmou o ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França.

França explicou, em entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (24), as diretrizes para enfrentamento de tragédias e eventos climáticos extremos. A ideia é mudar a lógica de atuar após a tragédia e trabalhar de forma mais ativa para a prevenção. Eventos climáticos extremos são e serão cada vez mais frequentes, resultado da ação humana e das mudanças climáticas. Então, cabe ao governo federal liderar ações em parceria com estados e municípios para impedir vítimas. Entre as principais iniciativas, a retirada de pessoas de locais de risco, além da instalação de sistemas de alerta.

União de esforços

“A mensagem do governo Lula é de união dos esforços e funcionamento enquanto sistema nacional. É uma dinâmica nova, a união dos esforços para enfrentarmos problemas que continuarão acontecendo. Às vezes, só muda o endereço. Temos milhares de pessoas vivendo em áreas de risco e um agravamento da situação das mudanças climáticas”, disse o ministro do Desenvolvimento Regional, chefe da Defesa Civil, Waldez Góes.

Góes participou da entrevista coletiva ao lado de França e da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, no Porto de Santos. “Vamos aprimorar o monitoramento, pactuar com todos os níveis de poder, estruturar sistemas de alerta. Precisamos de alertas estruturados, sirenes nas áreas de maior risco. É tecnologia e educação. Precisamos nos reeducar para esses sistemas”, completou.

Eventos extremos

O ministro reforçou o fato de que o momento global é delicado. As consequências das mudanças climáticas são cada vez mais notáveis, e o Brasil precisa se preparar. “Temos uma força-tarefa aqui e outra no Rio Grande do Sul com 320 municípios sofrendo com a estiagem. Dos quais 200 reconhecemos a emergência e estamos apoiando. Mais de 1.300 municípios recebendo apoio e resposta da Defesa Civil. Secas, enchentes, chuvas, deslizamento. O governo está mobilizado e presente.”

Já a ministra Sonia reforçou a relevância de uma coordenação nacional e de apoio à população mais vulnerável. “Eventos como esse exigem do poder público o manejamento de ocupação consciente e responsável. Precisamos prever os fenômenos das mudanças climáticas. Enchentes e estiagem. Isso faz com que nos preocupemos muito. Temos territórios indígenas, como a Rio Silveira, que foi atingida pelas enchentes. Viemos para acompanhar no local a necessidade deles neste momento. Vamos buscar junto a Defesa Civil para apoiarmos naquilo que nos couber.”

Papel do Estado

Por fim, Márcio França, que é da região da Baixada Santista, falou sobre o encontro que teve com prefeitos do litoral e do Vale do Ribeira. Ele explicou que todos os chefes de executivos municipais estão elaborando pedidos ao governo federal, que devem apresentar em 15 dias. “Deputados federais, estaduais e prefeitos apresentaram sugestões e emergências para a Defesa Civil. A Defesa Civil vai tratar de casos de gente que perdeu a casa. O restante ficará a encargo do Ministério das Cidades; as estradas, do Ministério dos Transportes”, afirmou.

“Ficou decidido que daqui a 15 dias os prefeitos e deputados vão a Brasília para fazermos um checklist do que eles pleitearam. O objetivo do presidente Lula é que reformulemos a fórmula anterior de deixar acontecer para então tomarmos conta. Estamos aqui para evitar que as coisas aconteçam. O verão continua. Muita gente continua descendo a serra. Não tem como impedir veranistas que passam a temporada aqui. Então, estamos fazendo nossa parte”, completou.

Porto de Santos

Outro tema em destaque da entrevista foi a relevância do porto de Santos. França reforçou a importância de mantê-lo público. O governo estadual, de Tarcísio de Freitas (PL), estuda privatizá-lo. Um erro, na visão do ministro. Ele alertou que, após as chuvas no litoral norte, haveria risco de desabastecimento de combustível em São Paulo se o porto não fosse público.

“Temos 121 quilômetros de dutos da Petrobras entre São Sebastião e Cubatão. Estamos verificando se existem danos. Se existir, embarcações da Petrobras não poderão aportar em São Sebastião, terão de vir para Santos, que é um porto público. Mais uma vez, reforçamos a importância de termos um porto público. Se não tivéssemos, não teríamos como colocar navios da Petrobras. Se não, ficaríamos desabastecidos de gasolina, por exemplo, em todo o estado de São Paulo. Imagina o caos.”