Operação da PF investiga R$ 600 mil em desvios no Distrito Federal
Operação da Polícia Federal obteve gravação feita por secretário que mostra José Roberto Arruda (DEM) recebendo R$ 400 mil. Desvios investigados chegariam a R$ 600 mil
Publicado 27/11/2009 - 15h41
Governo nega busca e apreensão na residência oficial de Arruda, mas não deve se pronunciar a respeito (Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)
Um inquérito da Polícia Federal aponta desvios de verbas em obras, licitações e contratos de informática de secretarias do governo do Distrito Federal que somam R$ 600 mil. O agravante são gravações em vídeo que mostram o governador, José Roberto Arruda (DEM-DF), e outros integrantes do governo do Distrito Federal, recebendo maços de dinheiro no valor de R$ 400 mil.
Rumores sobre a iminência de um escândalo político envolvendo o Executivo e o Legislativo do DF e até da existência do vídeo circulavam por Brasília há alguns dias. Arruda chegou a ser cotado como candidato a vice na chapa à Presidência da República encabeçada pelo PSDB – provavelmente o governador de São Paulo, José Serra, ou o de Minas Gerais, Aécio Neves.
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A Operação Caixa de Pandora foi deflagrada na manhã desta sexta-feira (27). Pelo menos três deputados distritais, secretários de governo e um conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Segundo reportagem do Último Segundo, o secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, foi o autor da gravação.
Os R$ 400 mil recebidos por Arruda, conforme gravação em vídeo, deveriam ser repassados ao chefe da Casa Civil do governo, José Geraldo Maciel. A partir do órgão é que o dinheiro “seria dissipado em diversos pagamentos menores a pessoas ainda não identificadas”, segundo o despacho do STJ. Outros R$ 200 mil teriam o mesmo destino.
Em nota divulgada há pouco, o STJ diz que as investigações sobre o repasse dos recursos obtidos de forma ilícita foram “reforçadas pela delação de um ex-secretário de estado do Distrito Federal”. O ex-secretário – cujo nome não é revelado na nota – teria aceitado que equipamentos de escuta fossem colocados em suas roupas para que ele pudesse gravar negociações com outros participantes do esquema.
Como o inquérito corre em segredo de Justiça, os nomes dos envolvidos não foram divulgados, mas o STJ garante que o ex-secretário foi colocado no programa de proteção de testemunhas da Polícia Federal. O trabalho teria como motivação o abrandamento da pena.
Ainda de acordo com a nota, para manter o sigilo da operação até que ela fosse deflagrada, o ministro Fernando Gonçalves, relator do processo, tomou o cuidado de proibir que qualquer informação fosse repassada à imprensa. Além disso, Gonçalves também impediu que os policiais envolvidos nas operações de busca e apreensão se vestissem de forma a chamar a atenção ou usassem armamentos pesados.
Foram executados mandados de busca e apreensão em residências, locais de trabalho e sedes de empresas de 16 pessoas físicas e jurídicas. Os documentos e equipamentos foram apreendidos para descobrir provas e indícios de eventual vínculo entre os investigados.
Toda a operação foi acompanhada por procuradores do Ministério Público Federal e ocorreu simultaneamente em 24 locais diferentes, sendo 21 no Distrito Federal, um em Goiânia e dois em Belo Horizonte. Isso incluiu secretarias do governo e gabinetes de deputados da Câmara Legislativa. Nenhum pedido de prisão foi emitido.
Arruda negou, por meio da assessoria de imprensa do governo, ter ocorrido busca e apreensão em sua residência oficial. Declarou ainda que colabora com a investigação. Não deve haver pronunciamento oficial sobre o mérito da investigação.
Oposição espera informações
Segundo o deputado distrital Paulo Tadeu (PT-DF), a oposição está perplexa com as informações noticiadas pela imprensa. Os parlamentares não receberam informações oficiais da Polícia Federal e aguardam os dados para definir a estratégia de ação.
“Sinceramente, fomos pegos de surpresa”, admite. “Neste momento, temos a avaliação de que o fato de a Polícia Federa ter desencadeado uma operação de busca e apreensão em gabinetes da Camara e na casa do governador mostra que é muito grave. Mas precisamos coletar informações”, pondera.
Na visão do opositor, qualquer análise mais detalhada corre o risco de errar. “É muito difícil fazer um pronunciamento sem correr o risco de ou ser muito light ou condenar precipitadamente, há muitos boatos”, lamenta.
A bancada do PT faz uma reunião ainda nesta sexta-feira para definir os encaminhamentos. O pedido de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) não está descartada. É possível ainda que as irregularidades apuradas pela PF tenham relação com denúncias que motivaram um pedido de CPI para investigar fraudes em licitações de empresas de tecnologia.