Gleisi critica ‘aliança espúria’ entre Bolsonaro e embaixador de Israel
Presidenta do PT acusa o embaixador de se intrometer na política interna do país, após encontro com bolsonaristas. Para Lindbergh, Daniel Zonshine “cruzou a linha do aceitável” e deveria ser expulso
Publicado 09/11/2023 - 17h30
São Paulo – A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), criticou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, após o diplomata realizar uma reunião no Congresso Nacional com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de parlamentares aliados. Para Gleisi, Zonshine intrometeu-se “indevidamente” mais uma vez em assuntos internos do país. Principal opositor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro não apenas não detém mandato, como está inelegível.
Durante a reunião, o diplomata exibiu imagens veiculadas por Israel sobre o ataque atribuído ao grupo Hamas, no mês passado. A embaixada israelense alega que enviou convites a todos os deputados, independentemente de posição ideológica. No entanto, parlamentares de PT, Psol e PV dizem que não foram chamados.
Nesse sentido, Gleisi classificou como “totalmente condenável” o que chamou de “manipulação do conflito”. “A aliança espúria entre Bolsonaro e o embaixador de Israel é mais repugnante ainda porque envolve a segurança e a vida de cidadãos brasileiros mantidos sob cerco e ameaça no massacre militar na região da Faixa de Gaza”, disse a deputada, pelas redes sociais.
1)Mais uma vez o embaixador de Israel no Brasil intrometeu-se indevidamente na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro, realizado em pleno Congresso Nacional.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) November 9, 2023
2)É totalmente condenável a manipulação que fazem de um conflito em que a…
Ao final do encontro, Daniel Zonshine se intrometeu novamente, ao comentar uma ação da Polícia Federal (PF) que prendeu dois homens suspeitos de ter ligação com o grupo Hezbollah. “O interesse do Hezbollah em qualquer lugar do mundo é matar os judeus. Se escolheram o Brasil, é porque tem gente que os ajuda.”
“O Brasil não admite que questionem nossa soberania. Esta é a lição que o embaixador de Israel não entendeu. O tempo da subserviência acabou junto com o mandato de Jair Bolsonaro, que prestava continência para a bandeira dos Estados Unidos e fez do Brasil um pária entre as nações”, rebateu Gleisi, pelas redes sociais.
Expulsão do embaixador
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) foi além, e reivindicou a expulsão do embaixador de Israel. Também pelas redes sociais, ele afirmou que Zonshine “passou do limite” e que o Itamaraty deveria requisitar a retirada do embaixador do Brasil.
PASSOU DO LIMITE
— Lindbergh Farias (@lindberghfarias) November 9, 2023
O embaixador de Israel, Daniel Zonshein, cruzou a linha do aceitável.
Criticou publicamente Lula e o governo, que desde o início do conflito só pregam e trabalham pela PAZ, e agora se reúne com Bolsonaro e bolsonaristas pra fazer política?
Devia estar…
Não é a primeira vez que o embaixador entra em rota de colisão com o atual governo. No mês passado, durante a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, Zonshine chegou a dizer que o governo brasileiro não havia se manifestado de maneira “suficientemente enfática” contra o ataque do Hamas. Por causa dessa declaração, o Itamaraty convocou Zonshine a dar explicações. Ele havia criticado inclusive o PT, que aprovou uma resolução condenando os ataques do Hamas contra civis e a violência empregada pelo Exército de Israel.
Ao mesmo tempo, o governo brasileiro trabalha para repatriar os 34 brasileiros que estão presos no enclave palestino. A cada dia, vem ganhando força a impressão de que Israel vem utilizando a situação dos brasileiros em Gaza para retaliar o governo Lula, por não ter se alinhado automaticamente aos israelenses.
Em comunicado divulgado ontem (8), a Embaixada de Israel no Brasil negou qualquer intenção de atrasar a saída dos brasileiros. No entanto, a aproximação com o bolsonarismo vem erodindo a credibilidade da representação de Israel no país.
De acordo com a jornalista Daniela Lima, do portal g1, diplomatas e auxiliares do presidente Lula avaliam que Daniel Zonshine “não é interlocutor” adequado do governo brasileiro para essa crise. Apesar disso, a orientação é não reagir impulsivamente e dar prioridade ao pragmatismo até a repatriação dos brasileiros.