Afronta

Gleisi critica ‘aliança espúria’ entre Bolsonaro e embaixador de Israel

Presidenta do PT acusa o embaixador de se intrometer na política interna do país, após encontro com bolsonaristas. Para Lindbergh, Daniel Zonshine “cruzou a linha do aceitável” e deveria ser expulso

Reprodução/X
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Além do encontro com o inelegível, embaixador de Israel disse que "tem gente que ajuda" o Hezbollah no Brasil

São Paulo – A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), criticou o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, após o diplomata realizar uma reunião no Congresso Nacional com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de parlamentares aliados. Para Gleisi, Zonshine intrometeu-se “indevidamente” mais uma vez em assuntos internos do país. Principal opositor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro não apenas não detém mandato, como está inelegível.

Durante a reunião, o diplomata exibiu imagens veiculadas por Israel sobre o ataque atribuído ao grupo Hamas, no mês passado. A embaixada israelense alega que enviou convites a todos os deputados, independentemente de posição ideológica. No entanto, parlamentares de PT, Psol e PV dizem que não foram chamados.

Nesse sentido, Gleisi classificou como “totalmente condenável” o que chamou de “manipulação do conflito”. “A aliança espúria entre Bolsonaro e o embaixador de Israel é mais repugnante ainda porque envolve a segurança e a vida de cidadãos brasileiros mantidos sob cerco e ameaça no massacre militar na região da Faixa de Gaza”, disse a deputada, pelas redes sociais.

Ao final do encontro, Daniel Zonshine se intrometeu novamente, ao comentar uma ação da Polícia Federal (PF) que prendeu dois homens suspeitos de ter ligação com o grupo Hezbollah. “O interesse do Hezbollah em qualquer lugar do mundo é matar os judeus. Se escolheram o Brasil, é porque tem gente que os ajuda.”

“O Brasil não admite que questionem nossa soberania. Esta é a lição que o embaixador de Israel não entendeu. O tempo da subserviência acabou junto com o mandato de Jair Bolsonaro, que prestava continência para a bandeira dos Estados Unidos e fez do Brasil um pária entre as nações”, rebateu Gleisi, pelas redes sociais.

Expulsão do embaixador

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) foi além, e reivindicou a expulsão do embaixador de Israel. Também pelas redes sociais, ele afirmou que Zonshine “passou do limite” e que o Itamaraty deveria requisitar a retirada do embaixador do Brasil.

Não é a primeira vez que o embaixador entra em rota de colisão com o atual governo. No mês passado, durante a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, Zonshine chegou a dizer que o governo brasileiro não havia se manifestado de maneira “suficientemente enfática” contra o ataque do Hamas. Por causa dessa declaração, o Itamaraty convocou Zonshine a dar explicações. Ele havia criticado inclusive o PT, que aprovou uma resolução condenando os ataques do Hamas contra civis e a violência empregada pelo Exército de Israel.

Ao mesmo tempo, o governo brasileiro trabalha para repatriar os 34 brasileiros que estão presos no enclave palestino. A cada dia, vem ganhando força a impressão de que Israel vem utilizando a situação dos brasileiros em Gaza para retaliar o governo Lula, por não ter se alinhado automaticamente aos israelenses.

Em comunicado divulgado ontem (8), a Embaixada de Israel no Brasil negou qualquer intenção de atrasar a saída dos brasileiros. No entanto, a aproximação com o bolsonarismo vem erodindo a credibilidade da representação de Israel no país.

De acordo com a jornalista Daniela Lima, do portal g1, diplomatas e auxiliares do presidente Lula avaliam que Daniel Zonshine “não é interlocutor” adequado do governo brasileiro para essa crise. Apesar disso, a orientação é não reagir impulsivamente e dar prioridade ao pragmatismo até a repatriação dos brasileiros.