Implicações palacianas

Fraude na carteira de vacinação de Bolsonaro pode ser a ponta de ‘um novelo’, diz Wadih Damous

Mauro Cid é investigado por lavagem de dinheiro após PF apreender R$ 190 mil em espécie na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro

Reprodução/Youtube
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Cid detalhou que o dinheiro da venda dos relógios foi depositado na conta de seu pai e logo depois sacado e entregue nas mãos de Bolsonaro

São Paulo – As investigações em torno do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, preso na semana passada pela Polícia Federal, apontam para desdobramentos imprevisíveis que comprometem cada vez mais o ex-presidente da República. A Polícia Federal (PF) quer saber o que pode estar por trás da grande quantidade de dinheiro em espécie na casa do militar. O tenente-coronel já é investigado por lavagem de dinheiro.

Na semana passada os agentes encontraram US$ 35 mil e R$ 16 mil na residência do braço direito de Bolsonaro, o que daria um total de cerca de R$ 190 mil. Ele foi preso na Operação Venire pela suspeita de fraudar cartões de vacinação, mas as investigações policiais parecem demonstrar que essa fraude – que já é gave em si mesma – é apenas a ponta de um iceberg.

Ou um “novelo” que começa a ser desenrolado, na expressão usada pelo secretário Nacional do Consumidor, Wadih Damous, em entrevista à TVT. Para ele, Mauro Cid é “muito mais do que ajudante de ordens, era o alterego” do ex-chefe de governo. Tanto que tinha senha de cartão e pagava contas pessoais do chefe e da esposa, Michelle. “A tese da defesa (de que Bolsonaro não nada a ver com as supostas condutas de Cid) terá que ser muito bem demonstrada”, diz Damous.

Além do dinheiro, a PF encontrou uma conta bancária em nome do ex-ajudante de ordens nos Estados Unidos. A PF irá apurar a origem do dinheiro e deve pedir a quebra de sigilo de Cid para ter acesso às movimentações dessa conta no exterior.

Investigação

Damous classifica a situação de Cid como um “mosaico” que parece ser desvendado a partir da fraude da vacina. Por que, por exemplo, Bolsonaro decretou  100 anos de sigilo para o cartão de  vacinação? Para o secretário, é quando o decreto de 100 anos, inconstitucional, é revogado, que se descobre que a questão da carteira de vacinação pode ser a ponta de “um novelo”.

“Em investigações desse porte, você mira num alvo e acerta outros que não estavam previstos”, avalia Damous. Para ele, tudo o que vem sendo revelado pode mostrar os elos de um projeto de golpe de Estado. “Tenho impressão de que a investigação vai mostrar isso.”

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Na opinião de Damous, que é advogado, é preciso ter cuidado ante análises, considerando que, segundo a Constituição, qualquer cidadão deve ser considerado inocente até prova em contrário. “Mas os indícios contra Bolsonaro são de evidência solar”, diz.

A saída do ex-presidente do país às pressas em 30 de janeiro, antes da posse de Lula, parece estar vinculada à falsificação. A partir do momento em que deixa de ser presidente, Bolsonaro precisaria se garantir com um atestado de vacinação nos Estados Unidos.

A defesa e aliados do ex-presidente têm dito que, se ele não se vacinou e sempre disse isso, por que falsificaria um atestado? O que se busca provar é que possivelmente ele precisaria do atestado nos EUA. Então, “ele se beneficiou da falsificação do atestado lá, com o agravante de ter praticado crime (nos Estados Unidos) com um documento falsificado”.

Questões sobre Mauro Cid

“Por que (o ajudante de ordens) faria isso sem ser comandado por Bolsonaro? Por que teria falsificado atestado de vacina do chefe e também da filha? O que justificaria isso?”, questiona Damous. Aqui se configuraria outro crime, o de corrupção de menor: “expor a filha de 12 anos (sob a tutela do Estatuto da Criança e do Adolescente) a ação fraudulenta”, explica o secretário. “É uma investigação de largo alcance.”

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“Se se chegar no curso da investigação à apuração de que Bolsonaro estaria envolvido nessas tentativas, efetivadas, de falsificação, tenho impressão de que jamais terá acontecido um episódio na história do Brasil com esse cenário de organização e associação criminosa contando com a participação de um presidente da República.”