Mais negacionismo

Dados da CGU embasaram ação da PF contra fraude da vacina de Bolsonaro em prefeitura de aliado

Em 13 de março, decisão da Controladoria Geral da União definiu que abriria os registros de vacinação do ex-presidente e as respectivas informações

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Operação Venire, da Polícia Federal, acordou Jair Bolsonaro em sua casa na manhã desta quarta-feira

São Paulo – A Operação Venire, da Polícia Federal, que acordou Jair Bolsonaro em sua casa na manhã desta quarta-feira (3), foi impulsionada por uma decisão da Controladoria-Geral da União (CGU). Em 13 de março o órgão definiu que abriria os registros sobre o cartão de vacina de Bolsonaro e os respectivos dados sobre data, local, laboratório de fabricação e nome do imunizante aplicado, se existentes.

As informações da CGU foram compartilhadas e ajudaram a montar a operação de busca e apreensão. A ação ocorre no âmbito do inquérito das milícias digitais, do qual o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é o relator.

A CGU entendeu que o acesso às informações que comprovariam as declarações voluntárias feitas pelo próprio Bolsonaro (de que não tomou a vacina) têm interesse público, por influenciar a política estatal de imunização do durante a pandemia. Leia a íntegra do Parecer.

Em posse das informações, a PF encontrou indícios de esquema pelo qual eram inseridos dados falsos nos sistemas do Programa Nacional de Imunizações e da Rede Nacional de Dados em Saúde. Documentos oficiais eram impressos e, depois disso, eram deletados do sistema.

Prefeitura bolsonarista

A chefe da central de vacinação de Duque de Caxias (RJ), Cláudia Helena da Costa Rodrigues, é apontada pela Polícia Federal como a responsável por retirar do sistema as informações das carteiras de vacinação de Jair Bolsonaro, de familiares e do ex-ajudante de ordens da Presidência República Mauro Cid, preso hoje pela Operação Venire.

Cláudia Helena – que já foi  ouvida pela PF – teria deletado as informações no dia 27 de dezembro. A “vacinação” de Bolsonaro e da filha Laura teriam sido adicionadas fraudulentamente ao sistema dia 21 de dezembro pelo então secretário de Governo do município de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, que foi preso hoje.

O objetivo, de acordo com a PF, era ter o certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos, para onde Bolsonaro foi no dia 30, pouco menos de dois dias antes de se encerrar seu mandato. Os EUA exigem a comprovante de vacina contra a covid-19 (o que deixará de ser exigido dia 11 de maio).

Na ocasião da fraude, o prefeito de Duque de Caxias era o bolsonarista Washington Reis, atual secretário estadual de Transporte do governo de Claudio Castro no Rio de Janeiro.

Em fevereiro, o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Carvalho, já havia afirmado que existia registro de vacinação de Jair Bolsonaro contra a covid-19 em seu no cartão. Na ocasião, Carvalho esclareceu que a investigação apurava se o cartão fora adulterado para incluir a dose.

Deputado federal é alvo

Além de prender, entre outros, três assessores próximos de Bolsonaro, incluindo seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, a operação da PF que apura o suposto esquema de fraudes teve como alvo o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ), por envolvimento no esquema. Gutemberg é irmão do ex-prefeito Washington Reis.

Entre os detidos estão ainda o policial militar Max Guilherme, que atuou na segurança de Bolsonaro, e o militar do Exército Sérgio Cordeiro, que também atuava na proteção pessoal do ex-presidente.


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