CPMI do golpe

Exército ‘impediu’ ação contra acampamento, diz coronel da PM

Após tentativa de evitar depoimento, Jorge Naime acusou o general Dutra de impedir ação da PM para desmobilizar acampamento golpista em Brasília

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Além de culpar o Exército por proteger acampamento, Naime também tentou justificar omissão da PM nos ataques de 12 de dezembro

São Paulo – O coronel Jorge Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento Operacional (DOP) da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) afirmou que o Exército impediu ações policiais para desmobilizar o acampamento golpista em frente ao Quartel-General em Brasília. Naime está preso desde fevereiro, acusado de omissão nos ataques golpistas de 8 de Janeiro.

Em depoimento nesta segunda-feira (26) à CPMI do Golpe, Naime afirmou que participou de uma reunião no dia 28 de dezembro de 2022 para acertar a desmobilização do acampamento. No entanto, no dia seguinte, já com a tropa mobilizada, foi impedido. De acordo com o coronel, o ex-chefe do Comando Militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, seria o responsável pela ordem em contrário.

“Ele disse, inclusive, que a gente trouxe efetivo demais. É difícil”, reclamou o depoente. “A gente foi impedido. Não conseguimos fazer. A PM ficou num descrédito muito grande. Estamos falando de 29 de dezembro, o que motivava mais ainda a gente querer acabar. A gente foi impedido pelo Exército Brasileiro. O transmissor da ordem foi o general Dutra”.

Ainda na sexta-feira (23), a defesa de Naime entrou com um habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para não comparecer à CPMI. O ministro Alexandre de Moraes, no entanto, negou o pedido. Com efeito, o coronel também apresentou um atestado médico, alegando falta de condições psicológicas para depor. Ele passou por uma avaliação pela junta médica do Senado e, ainda antes do resultado, decidiu comparecer à comissão.

Licença no dia 8

Naime também afirmou que não estava escalado para trabalhar no dia 8 de janeiro, porque estava doente. Disse que combinou com seu superior que trabalharia até a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1º de janeiro. “Estava de licença, porque estava doente. Tirei licença para fazer exames, estava pré-diabético”, falou. Apesar de não estar no expediente do dia, ele foi chamado e compareceu à Praça dos Três Poderes. Nesse sentido, ele disse que ficou “impressionado” com a facilidade com que os bolsonaristas conseguiram invadir os prédios públicos, praticamente sem encontrarem resistência por parte dos policiais.

Além disso, o coronel afirmou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria avisado as forças policiais sobre a invasão apenas às 10h daquele dia. No entanto, conforme o depoente, o núcleo de inteligência do DOP não teve acesso a esses alertas.

“O que me causa estranheza é que no dia 8, às 10 horas da manhã, a Abin informa claramente que tinha uma confirmação de invasão de prédios públicos. Se essa informação chegou ao nível de comandante e secretário geral, eles não tomaram a providência”, disse.

12 de dezembro

A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA) também questionou Naime sobre a atuação da PMDF em 12 de dezembro. No dia da diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília. Eles ainda atearam fogo em cinco ônibus e três carros durante a noite de terror na capital federal. Apesar do cenário de guerra, ninguém foi preso.

“Quando a gente encerrou a ação de choque, começamos a de busca e captura. Acabou que não prendemos ninguém porque estavam no hotel. Subiram e foram para os seus quartos”, declarou Naime. Pressionado pela senadora, entretanto, o coronel alegou dificuldades para identificar o “inimigo”. De acordo com o policial, os bolsonaristas utilizaram “táticas de guerrilha”.

“Não estamos num campo de batalha. No campo de batalha, a gente sabe qual a farda do inimigo. Tinha crianças, pessoas saindo do serviço, pessoas andando na rua misturadas com pessoas praticando vandalismo”, disse. Sobre a acusação de omissão também no dia 12, o coronel disse que prefere responder por dano ao patrimônio público do que “acertar algum inocente”.


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