contrariando expectativas

Parlamentares dizem que presidenta mantém ‘velho estilo’

Líderes da base reclamam que esperavam ouvir de Dilma explicações sobre escolha da equipe econômica, mas ela manteve o tom distante dos últimos anos. Petistas rebatem e prometem diálogo maior em 2015

Ichiro Guerra/arquivo Dilma 13

Presidenta pediu amadurecimento de todos quanto aos escolhidos para compor a equipe econômica

Brasília – Diante de todas as expectativas em relação ao segundo governo Dilma Rousseff, deputados e senadores da base aliada estão cada vez mais convencidos de que, caso a equipe ministerial tenha um perfil mais sintonizado com o Congresso, a relação entre Legislativo e Executivo poderá ser melhor em 2015. A presidenta, porém, na primeira reunião ampliada com sua base manteve o estilo de sempre.

A percepção, que a maioria evita expor oficialmente, sobretudo em um momento de decisão sobre os nomes a serem indicados por compor o primeiro escalão, ficou nítida na reunião de ontem (1º), no Palácio do Planalto. Dilma falou pouco, foi lacônica e deixou o foco principal do debate para seus ministros, a exemplo da postura adotada nos últimos quatro anos.

“Ela continua sendo a mesma de sempre. Para quem esperava maior abertura e tem pregado junto aos outros partidos que daqui por diante haverá mais diálogo, o encontro foi uma ducha de água fria”, disse um dos líderes partidários presentes. Segundo esse parlamentar, embora tenha ficado definida uma espécie de compromisso por parte da base em defender a aprovação do projeto que muda as metas de superávit primário hoje (2), quem foi ao Planalto imaginando que encontraria uma presidenta disposta a discorrer sobre questões referentes à escolha dos ministros saiu decepcionado.

Demonstrando insatisfação com os primeiros ministros anunciados, os que compareceram ao Planalto esperavam ouvir da presidenta alguma explicação semelhante à que ela deu na última sexta-feira (28) para os petistas, durante encontro do partido realizado em Fortaleza (CE). Ali, ela não apenas enfatizou que o seu governo precisa ser de coalizão e ter outros nomes que podem não agradar inicialmente aos correligionários, como também pediu o amadurecimento de todos quanto aos escolhidos para compor a equipe econômica.

Esse discurso não se repetiu na reunião com os demais partidos. Na opinião de um parlamentar petista, deputados e senadores entenderam que teria sido passado um recado por parte da presidenta de que a decisão final será dela, o que torna mais difícil para as lideranças petistas o trabalho de promoção desse entrosamento.

“Não foram discutidos outros assuntos, porque o foco era o projeto que muda o superávit. O pessoal saiu de lá com a promessa de que novos encontros serão realizados com maior frequência e é esse estreitamento de diálogo que esperamos. Não houve nada de anormal nisso”, rebateu o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS).

“O objetivo central da equipe de política econômica de Dilma é adotar medidas para sustentar a geração de emprego e renda, garantindo o presente e construindo um futuro melhor para 202 milhões de brasileiros. Precisamos ter isso em mente no momento”, disse a líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ), defendendo a estratégia de não terem sido tratados outros assuntos no encontro.

“O importante agora é dar ritmo à agenda do Congresso para dar conta das matérias que ficaram pendentes, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e o Orçamento para 2015. Nossa preocupação nesta semana é com esses pontos”, reiterou o líder do governo no Senado, senador José Pimentel (PT-CE).

Fator Berzoini

A notícia tida como animadora e comentada ao final da reunião foi a impressão passada para o grupo de que o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), atual ministro das Relações Institucionais, está mais fortalecido. Berzoini atuou como uma espécie de bombeiro e tratou não apenas de conduzir a conversa de forma mais equilibrada, discutindo estratégias para a votação da sessão do Congresso, como demonstrou que vai continuar fazendo parte da equipe (não se sabe se outra pasta).

O ministro disse a jornalistas que considera natural a tensão referente a esse período de indicação de cargos, lembrou que as conversas em reservado entre a presidenta e as legendas partidárias para discussão da reforma ministerial estão em andamento, mesmo o objetivo do encontro sendo outro. Como resultado, teve atuação elogiada e considerada melhor que a de Ideli Salvatti (a quem sucedeu) e da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil (substituída por Aloizio Mercadante).

Grupo da presidenta

Pesam ainda entre as definições a serem feitas a ratificação de nomes que são considerados praticamente certos dentro da nova equipe – pessoas consideradas muito próximas da presidenta. Muitas legendas, sobretudo o PMDB e uma ala do PT, acham que são nomes com perfis que não ajudam a base aliada a ter representatividade na discussão de políticas públicas referentes a cada pasta. Mas são pessoas de quem Dilma não abre mão de ter por perto.

Fazem parte desse grupo a ministra de Desenvolvimento Social, Tereza Campello, o ex-secretário particular da presidenta, Gilles Azevedo, o ex-ministro de Desenvolvimento Agrário Miguel Rosseto, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner e a ministra de Planejamento (cuja substituição por Nelson Barbosa já foi anunciada), Miriam Belchior.

Tereza Campello, economista, além de competente, costuma não interferir em questões políticas na condução da sua pasta. É discreta e conhece a presidenta desde a época em que ambas moravam em Porto Alegre (RS) e ela articulava a realização do Fórum Social Mundial na capital gaúcha. Dilma costuma elogiar a ministra afirmando que seu trabalho, pela seriedade, ajudou a fazer com que os programas de redução da desigualdade ajudassem a personificar e fortalecer o governo.

Amigo da presidenta há 25 anos, Gilles Azevedo, cotado para a Secretaria de Ação Estratégica (SAE), seria uma espécie de “coringa” dentro do governo e considerado um assessor que, por ter em comum com a presidenta gostos, origem política e forma de trabalhar, costuma acalmá-la e tranquilizá-la. Azevedo conhece a presidenta desde a época em que os dois militavam no PDT, no Rio Grande do Sul.

Dilma também tem confidenciado a alguns ministros que quer tê-lo em algum cargo estratégico neste mandato, pela habilidade demonstrada, por exemplo, quando conduziu crises políticas observadas no segundo governo do ex-presidente Lula – como na questão dos cartões corporativos denunciada pela oposição, em 2008, e em discussões sobre vários projetos desenvolvidos no Ministério de Minas e Energia (quando a presidenta era a titular da pasta).

Miguel Rosseto, que deixou o ministério de Desenvolvimento Agrário para participar de forma mais atuante da campanha pela reeleição, tem um bom relacionamento com ela desde a época em que foi vice-governador do Rio Grande do Sul e ela, secretária de Minas, Energia e de Comunicações. Rosseto tem a tarefa de ajudar a estreitar o relacionamento do Planalto com a sociedade organizada, por meio de contatos com movimentos sociais com os quais está acostumado a lidar, ao longo da vida política e, sobretudo, no período em que atuou como ministro.

Outra que deve ficar no governo é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Não se sabe ainda em qual cargo, mas já foi colocada pela presidenta a intenção de mantê-la próxima. Dilma considera que Miriam soube coordenar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) de forma firme e ao mesmo tempo dinâmica – programa que a ministra passou a acompanhar em substituição à própria presidenta, quando esta saiu do governo, em 2010, para candidatar-se ao seu primeiro governo.

Jaques Wagner sempre foi considerado um bom negociador. Deixou boa marca como ministro do Trabalho e, sobretudo, das Relações Institucionais, cargo que deixou para disputar o governo da Bahia em 2006. Pode, em qualquer que seja a pasta que venha a ocupar reforçar a interlocução entre governo, políticos, sobretudo governadores, e setores estratégicos da sociedade. O contato entre ambos é intenso desde 2006 quando pertenceram ao primeiro escalão do governo Lula.

Uma das dúvidas observada nos dois últimos dias diz respeito à indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para o ministério da Agricultura. O nome provocou várias declarações irritadas por parte de aliados, movimentos sociais e até empresários voltados para o setor, como os donos da Friboi. A senadora se dá muito bem com a presidenta desde 2010, período em que Dilma foi acometida por um câncer no sistema linfático e disse ter ficado comovida com o tom de uma carta recebida de Kátia desejando-lhe “força, coragem e fé”.

As palavras, na época saídas de uma parlamentar que declarava apoio ao opositor de Dilma, José Serra, do PSDB, pareceram sinceras e desinteressadas. Hoje, segundo assessores da senadora, ambas conversam bastante sobre temas que englobam desde itens de maquiagem à maneira como a presidenta deve aparecer para a imprensa durante entrevistas coletivas. No Senado, Kátia Abreu é considerada uma das poucas parlamentares que tem acesso direto a Dilma.

Transformar isso, no entanto, em convite para ocupar um ministério ainda é considerado um tabu, tanto entre os petistas como entre lideranças de outros partidos. A atuação das senadora à frente da bancada ruralista e da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, que representa o setor, tem forte simbologia negativa para os movimentos sociais ligados à luta no campo, às causas indígenas e ambientais.

No último fim de semana, artigo da senadora elogiando o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante posicionamento adotado por ele em relação à demarcação de terras indígenas, serviu de munição para seus desafetos ponderarem junto à presidenta sobre o anticlímax a ser criado em face da sua nomeação. Há quem diga que, a despeito de todas as articulações, ela corre o risco de permanecer no Senado. Outros, consideram que sua nomeação para a Agricultura é irrevogável.

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