Vannuchi

Em Davos e Cuba, Dilma acerta a mão; já o xadrez interno só se define em abril

Para analista, presidenta acertou ao anunciar, na Suíça, que investimentos bem-vindos devem levar em conta projetos nacionais e ao reforçar, em Cuba, laços latino-americanos

Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma, com Raúl Castro, na Celac, em Cuba: posição quase só brasileira de dialogar com todos os mundos

São Paulo – O cientista político Paulo Vannuchi observou ontem (29), em seu comentário na Rádio Brasil Atual, que alguns jornais preferiram dar mais ênfase à parada da presidenta Dilma Rousseff em Lisboa do que à sua intervenção em Davos, na Suíça. Isso porque, segundo ele, a presidenta “mandou bem” durante o Fórum Econômico Mundial. “Ela marcou um gol e deixou claro que o Brasil é um país que tem números consistentes, concretos, que tornam atraentes os investimentos. Que não quer investimentos feitos de maneira que os países se ajoelhem e que têm de ser, sim, algo de risco, que venham para ganhar dinheiro, mas também para cumprir objetivos do projeto nacional brasileiro.”

Por sua vez, a ida à 2ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac), em Cuba, teve – além do anúncio de acordos comerciais positivos para os dois países – simbologia semelhante à de Luiz Inácio Lula da Silva, de anos atrás, o primeiro e único presidente que foi simultaneamente a Davos e ao Fórum Social Mundial. “O gesto marca muito bem uma posição brasileira, e quase só brasileira em todo o planeta, de dialogar com todos os mundos. Os países da África, os países da América do Sul, mais à esquerda, e também dialogar exigindo um tratamento de igualdade com a Europa e com os Estados Unidos”, avalia Vannuchi – lembrando que a Celac nasceu em 2010, no México, onde se afirmou que seria a “última cúpula latino-americana sem Cuba”.

Em seguida, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou a reinclusão da ilha no bloco. Cuba estava foroadesde o início dos anos 1960 por imposição dos Estados Unidos. Na Celac, o país se reúne com outros 32 países das Américas – ficam fora só EUA e Canadá. “Isso é significativo porque, desde o final do século 19, a Doutrina Monroe considera a região território de retaguarda dos Estados Unidos. Recentemente, o secretário de Estado norte-americano John Kerry chegou a usar a palavra ‘quintal’, ao se referir à América Latina.”

Nesse sentido, avalia o comentarista, o Brasil faz bem em apresentar uma alternativa de intermediação, de moderação, dizendo que Cuba tem problemas “no campo dos direitos civis e políticos”, mas tem também invejáveis avanços nos direitos econômicos, sociais e culturais.

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2014

Em seu comentário desta quinta-feira (30), Paulo Vannuchi afirmou que a movimentação na busca de formação de alianças para as eleições de outubro consumirão ainda os próximos dois meses. “O tabuleiro geral para a disputa das eleições de outubro vai passar pelos acertos finais até abril, que é o prazo fatal. Esse jogo de alianças partidárias, eleitorais, de rupturas faz parte do xadrez que é o sistema político brasileiro. E estou usando a palavra xadrez sem qualquer duplo sentido”, disse.

Vannuchi critica o sistema político eleitoral brasileiro e pondera que o ambiente ideal seria contar com alianças erguidas sobre alicerces “mais firmes”, em torno de programas e de afinidade político-partidária. “Mas a verdade é que elas não são assim.”

O comentarista observa que é necessário que as esquerdas e as forças progressistas devem continuar se empenhando para mudar essa realidade, mas ressalva que no tabuleiro das disputas por projetos de poder, enquanto essa configuração não muda, “a questão das alianças tem de ser analisada assim: é a vida como a vida é. Vamos trabalhar para mudar isso, mas não podemos cometer o erro de ignorar o cenário atual”, o que inclui milhões de pessoas que são conservadoras, que não gostam de sindicatos, da luta dos sem-teto, ou acham que viciados em crack são bandidos a ser exterminados. “É preciso separar o projeto de justiça, de igualdade, daquilo que é a constatação do mundo real, o chão em que se está pisando.”

A situação das alianças no Rio de Janeiro é abordada com destaque pelo analista. Ele lembra que surgiu “firme” na campanha eleitoral de 2006, ano da reeleição de Lula. “O Rio de Janeiro, talvez com Pernambuco ao lado, foi o estado em que os recursos federais foram mais generosos. Por um lado porque havia toda uma perspectiva da Copa do Mundo este ano e das Olimpíadas em 2016 e a importância do Rio de Janeiro como uma cidade que é, em certa medida, de todos os brasileiros.”

Na ocasião, o atual governador Sérgio Cabral havia rompido com seu antecessor, Anthony Garotinho. “Veja como as alianças são alianças e desalianças.” Segundo Vannuchi, Cabral havia cogitado se posicionar numa espécie de duplo-palanque agora em 2014: estimular a candidatura de Lindbergh Ferias (PT) à sua sucessão, mas também apoiar Pezão, o seu vice, e que para tanto seria preciso “trabalhar com delicadeza” essa situação. “Ali por dezembro de 2012, em uma conversa, Cabral, questionado por Lula sobre esse compromisso anterior, disse com clareza que ele tinha mudado de posição e estava batendo de frente contra Lindbergh, que por sua vez partiu também para críticas públicas.”

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