Eleições municipais em Minas Gerais têm balanço dividido

Vitorioso em três de quatro cidades no segundo turno, PMDB quer candidato próprio em 2014, PT deve fortalecer oposição e PSDB almeja concretizar aliança de Aécio com Eduardo Campos

O ruralista Paulo Piau foi eleito em Uberaba e o partido dele, PMDB, quer voo solo em 2014 (Foto: Antônio Cruz. Agência Brasil)

Belo Horizonte – O PMDB sai vitorioso no segundo turno das eleições municipais em Minas Gerais. A legenda, da base governista no âmbito federal, conseguiu eleger prefeitos nas duas cidades que disputaram – com Bruno Siqueira, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Paulo Piau, em Uberaba, no Triângulo Mineiro–. O partido também tem representante na chapa majoritária vencedora em Montes Claros. Lá, venceu Ruy Muniz, do PRB, tendo como vice o peemedebista José Vicente. Apesar de não concorrer diretamente no pleito de ontem (28), o PSDB do senador Aécio Neves também comemora os resultados, com a vitória de aliados em três dos quatro municípios que ainda não haviam definido o nome da futura administração.

Em Contagem, terceira maior cidade mineira, Carlin Moura (PCdoB) contou com a ajuda dos tucanos e derrotou o petista Durval Ângelo com aproximadamente 66% dos eleitores que compareceram às urnas neste domingo. O PSDB também esteve presente em Montes Claros, no norte do estado. Ruy Muniz, que recebeu o apoio de Aécio, venceu Paulo Guedes, do PT. Em disputa acirrada, foi eleito com 56% dos votos válidos.

Em Juiz de Fora, o PMDB não projetou seu alinhamento da esfera nacional e disputou a prefeitura contra Margarida Salomão, do PT. Representando a legenda, Bruno Siqueira conquistou o cargo com 57% dos votos válidos. No entanto, Margarida não vai ficar sem mandato. Com seu colega Gilmar Machado eleito, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, ela se torna deputada federal como primeira suplente do partido.

Quem também assume cadeira no Legislativo Federal é o ex-ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos do governo Lula, Nilmário Miranda (PT). Com a vitória de Paulo Piau (PMDB) sobre Antonio Lerin (PSB) por 51% dos votos, o petista assume o cargo do novo prefeito como deputado federal da coligação do PT. Nilmário, por sinal, é um dos nomes do partido na disputa pelo governo estadual em 2014. Em entrevista à Rede Brasil Atual, ele desconversou sobre a possibilidade de nomeação, mas o político possui influência entre os petistas e já concorreu duas vezes ao cargo de governador, em 2002 e 2006.

De olho em 2014

Chegado ao fim das eleições municipais, o cenário para o pleito de 2014 já está sendo montado. Após 20 anos, o PT está de fora da administração de Belo Horizonte, mas continua forte no interior do estado. Conseguindo eleger 114 prefeitos, os petistas comemoram a vitória de importantes cidades, como Uberlândia – segundo maior município mineiro –, Ribeirão das Neves e Ipatinga. Seu principal aliado, o PMDB, também tem presença marcada em 119 colégios eleitorais. “O PT teve grandes vitórias e também derrotas. Mas, em Minas, a situação é equilibrada. As derrotas do partido não foram necessariamente vitórias do Aécio, nosso principal adversário”, avalia Nilmário Miranda. Para o futuro deputado federal, a grande lição de 2012 foi a reestruturação dos partidários petistas. “O importante foi que o PT recuperou unidade. Esta eleição é a volta por cima do PT. Voltamos unidos, bem posicionados.”

Apesar de os petistas contarem com o apoio do PMDB nas eleições de Belo Horizonte – que deve continuar sendo aliado estratégico da oposição na capital –, eles não podem contar com a certeza deste alinhamento para todo o estado. De acordo com o presidente do PMDB mineiro e deputado federal Antônio Andrade, a legenda ainda não definiu sua posição para os próximos anos e, otimista com as vitórias em 2012, planeja lançar candidatura própria para o governo estadual. “O caminho do partido é de centro-esquerda, mas isso não quer dizer que vamos necessariamente apoiar o PT. Eu defendo a candidatura própria do PMDB para o cargo de governador”, afirma. Andrade explica que os possíveis nomes ainda estão sendo negociados e é incisivo quanto às influências de outros partidos. “A decisão do PMDB quem vai tomar é o próprio partido. Nós não temos obrigação de caminhar para A ou B. Não temos este tipo de compromisso. Trabalhamos todo esse período sem compromissos e sem troca de favores.”

Para analistas políticos, as eleições em Minas Gerais ajudaram a moldar os polos da disputa que será orquestrada daqui a dois anos. O fim da aliança entre PT, PSDB e PSB em Belo Horizonte simbolizou o acirramento entre Aécio Neves – principal nome tucano para disputar, em 2014, o governo federal – e a presidenta Dilma Rousseff. Em todo o Estado, o PSDB sai majoritário, com 142 prefeitos eleitos. Mesmo de fora do segundo turno, Aécio fez questão de apoiar os nomes que disputavam contra os petistas, inclusive com PCdoB em Contagem e PMDB em Juiz de Fora.

Para o senador, liderança da oposição, o pleito também foi uma oportunidade de aproximação com o PSB de Eduardo Campos. Porém, apesar de Marcio Lacerda administrar ao lado dos tucanos em Belo Horizonte, os comunistas, de uma maneira geral, podem ser uma incógnita para as eleições de 2014. Se o prefeito da capital mineira é cotado para disputar o governo do estado, o PSB ainda possui certo relacionamento com o PT. Mesmo em Minas Gerais, o presidente estadual do PSB, Walfrido dos Mares Guia, é ex-ministro da gestão de Lula e aliado histórico do ex-presidente.

O próprio governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, também possui história com os petistas. Em 2010, no final de seu mandato, Lula assinou a Medida Provisória 512, que prorrogou benefícios fiscais para montadoras no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, possibilitando, assim, o investimento de R$ 3 bilhões na construção da fábrica da FIAT, em Goiana, em Pernambuco. Na época, Eduardo Campos a decisão do governo federal foi duramente criticada pelo senador Aécio Neves, que possui o desafio de manter a influência conquistada dos tucanos no Estado e manejar alianças em âmbito nacional até 2014.