Terror de farda

Dossiê identifica militares em acampamento golpista e compartilhando ameaças a Lula 

Documento do Ministério da Justiça prova que ao menos oito militares da ativa, a maioria lotada no GSI, do general Heleno, frequentaram grupo em frente ao QG do Exército

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O documento aponta que alguns militares também trocavam e compartilhavam mensagens antidemocráticas e ameaças ao presidente Lula

São Paulo – Um relatório em posse do Ministério da Justiça e Segurança Pública comprova que pelo menos oito militares da ativa, lotados na Presidência da República, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), frequentavam o acampamento golpista instalado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. A maior parte deles, de acordo com o documento, estavam alocados no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandando à época pelo general Augusto Heleno. 

Alguns deles, integrantes da própria segurança pessoal do então presidente Bolsonaro aparecem, sem farda e geralmente com a camisa da seleção brasileira de futebol, em fotos no acampamento. O relatório, produzido durante a transição de governo, foi divulgado na noite desta quinta-feira (19) pelo jornal Folha de S. Paulo. Foram analisadas conversas obtidas de grupos de WhatsApp que mostram os militares encorajando outros colegas a irem com suas famílias, após o expediente, para o local. 

Desde a derrota de Bolsonaro para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no final de outubro, a área se transformou em uma base para bolsonaristas inconformados com o resultado eleitoral. Do acampamento, eles pediam intervenção militar contra a posse de Lula. Foi de lá que saíram os terroristas que tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram veículos em 12 de dezembro. E onde posteriormente foi instalada uma bomba em um caminhão-tanque que ia para o aeroporto de Brasília, na véspera de natal. O acampamento também abrigou os que atacaram as sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro. 

Segundo o dossiê, várias trocas de mensagens, áudios, vídeos e fotos mostram que esses militares encorpavam os atos antidemocráticos em frente ao QG do Exército. O documento aponta que alguns também trocavam e compartilhavam mensagens antidemocráticas e ameaças ao presidente Lula.

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Ameaças de morte a Lula 

Um vídeo curto postado em um grupo coloca a imagem de Lula discursando sob a mira de um atirador de elite, sugerindo que o presidente fosse abatido na data da posse. 

Entre as fotos que circulavam nesses grupos extremistas, o Ministério da Justiça identificou diretamente o major Alexandre Nunes, apontado como sendo do Exército, Márcio Valverde, sargento da Marinha, e um homem identificado apenas como sargento Azevedo, que seria da Aeronáutica. Os dois primeiros foram confirmados como agentes do GSI. Sobre Nunes, o dossiê indica a existência de informes sobre sua atuação com representantes diplomáticos. Ele teria dito a essas pessoas que Lula “não subiria a rampa” do Palácio do Planalto. 

Também é citado o militar da Marinha Ronaldo Ribeiro Travasso. Ele estava no GSI quando foi aos atos no acampamento. Travasso já estava em evidência na mídia quando uma reportagem da Folha revelou sua afirmação de que “daria um tiro na cabeça” do próprio irmão se ele fizesse o L”. Da Marinha, foram citados ainda no documento Estevão Soares, Thiago Cardoso, Marcos Chiele e Fernando Carneiro Filho. 

Em resposta a uma mensagem postada e depois apagada por Estevão, Travasso também diz que “não tô falando isso de brincadeirinha, não, é sério. Quem faz o L é terrorista. Tem que morrer mesmo, ou mudar ou morrer, porque não tem jeito uma pessoa dessa”, completa o militar. Nesta quinta, o Diário Oficial da União confirmou a dispensa de Chiele e Valverde. Procurados, alguns desses militares justificaram que iam ao acampamento, mas “sem farda” e “sem se manifestar politicamente” e “sem apoiar pautas antidemocráticas”. 

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