alerta

Paulo Pimenta diz que invasão não pode justificar restrição ao Congresso

Deputado petista afirmou que fatos devem ser esclarecidos, até pelo 'caráter fascista' do episódio, mas que acesso à Casa por representantes de movimentos sociais e trabalhadores “precisa ser respeitado”

agência câmara

Paulo Pimenta: “O que vimos ontem foi uma tentativa de golpe, por parte de uma extrema-direita fascista”

Brasília – O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHM) e ainda integrante do colegiado, fez um alerta aos colegas e à mesa diretora da Casa sobre o episódio de ontem (16), de invasão do plenário. Pimenta afirmou que as bancadas partidárias precisam evitar fazer confusão entre iniciativas que possuem caráter agressivo e de desrespeito ao parlamento brasileiro, como foi essa invasão, e a livre manifestação de representantes de movimentos sociais e trabalhadores que tentam entrar no Congresso para acompanhar votações e audiências.

O deputado também cobrou providências da presidência da Câmara no sentido de impedir que novos episódios se repitam e disse que é preciso saber “quem são estas pessoas”, assim como “quem está por trás do grupo”.

“O que vimos ontem foi uma tentativa de golpe, por parte de uma extrema-direita fascista, um movimento de caráter altamente reacionário. Estou no meu quarto mandato como deputado federal e já vivi muitas situações difíceis no plenário, mas nunca vi nem imaginei uma cena como essa invasão”, afirmou.

Paulo Pimenta pediu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que sejam tomadas providências, nos próximos dias, no sentido de que os fatos sejam devidamente esclarecidos. Ele também corrobora o entendimento de muitos deputados de que algum parlamentar ou assessor legislativo pode ter facilitado a entrada irregular dessas pessoas.

“É muito estranho que enquanto trabalhadores, donas de casa, estudantes e tantos grupos encontrem dificuldade de entrar nesta Casa para acompanhar os trabalhos legislativos nos últimos tempos, cerca de 50 pessoas tenham conseguido entrar e ainda invadir o plenário sem problemas, agredindo assessores e seguranças e até depredando o patrimônio, com a quebra de uma porta de vidro que chegou a fazer vítimas”, disse Pimenta.

Incitação ao ódio

O deputado também lembrou que, apesar das exigências para acesso das pessoas à Câmara e ao Senado, é importante que o episódio não contribua para proibir ainda mais a entrada dos grupos que tentam assistir às votações pelas galerias ou falar com os deputados, de forma pacífica. “O que precisamos é esclarecer os fatos e tentar ver os motivos que levaram a essa invasão, descobrir qual foi a falha observada em relação a isso”, disse, do plenário, ao destacar que tem sido dado tratamento diferente à liberação de acesso aos vários grupos que procuram entrar no Congresso.

Pimenta avaliou a situação e as agressões proferidas pelos manifestantes de ontem como consequência do discurso do ódio que tem sido alimentado no país nos últimos meses. E que, a seu ver, levam a inversões de valores entre as pessoas e as fazem, até, desvalorizarem a democracia. “Foi algo absolutamente inaceitável. Precisamos saber como este grupo conseguiu entrar no plenário, porque o que houve foi uma tentativa de golpe no parlamento”, acrescentou.

A deputada Erika Kokay (PT-DF), que também integra a Comissão de Direitos Humanos, afirmou que é preciso pesquisar se não houve uma ação orquestrada com o intuito de financiar esses manifestantes, já que são pessoas vindas de vários estados. “Precisamos investigar, inclusive porque dificilmente teríamos uma manifestação com pessoas de todos os lugares do Brasil se não tivesse sido feita uma articulação prévia, com alguém ou uma entidade bancando o transporte destas pessoas”, ressaltou.

‘Discurso também mata’

A deputada ainda qualificou o episódio como expressão de uma “fascistização” que estava contida pelo peso da democracia”. “A ruptura democrática faz com que ela venha com esta expressão de ódio, e o discurso não é inocente. Discurso também mata. Alguns achavam que o golpe impetrado no país ficaria circundado, mas não fica. Ele vai corroendo o tecido da democracia e o tecido dos direitos. É o que nós estamos vendo neste país”, acrescentou.

De acordo com Erika, o que se viu na invasão do plenário “foi um profundo ódio, ódio com o diferente, ódio com os partidos de esquerda”. “Não é apenas ato de invadir, de quebrar uma porta, mas, fundamentalmente, é a fala. A fala foi de fechamento do Parlamento”, disse.

Logo cedo, durante entrevista à Rádio Estadão, Rodrigo Maia afirmou que a Câmara vai rever todos os seus procedimentos de entrada na Casa. Segundo as primeiras informações apuradas pelo departamento de segurança legislativa repassadas por ele, o grupo conseguiu entrar no plenário porque se dividiu em portas diferentes, para dificultar o trabalho dos seguranças.

Maia também confirmou que os detectores de metais falharam e que alguns dos manifestantes estavam armados – notícia que chegou a ser confirmada, mas depois foi negada pela mesa diretora da Casa.

Agressão e surpresa

A invasão dos manifestantes ao plenário ocorreu ontem, por volta de 15h30, por um grupo de 50 pessoas. Eles quebraram uma das portas de vidro, o que feriu três pessoas, proibiram a continuação dos discursos na tribuna, levaram a sessão a ser suspensa e chegaram a subir na mesa onde sentam o presidente e integrantes da secretaria-geral.

O grupo defendeu uma intervenção militar no país, gritou vivas para o juiz federal Sérgio Moro, disse que estava protestando contra mudanças a serem feitas no projeto de leis anticorrupção que tramita no Legislativo e pediu a ida de generais ao Congresso – num movimento que aparentou não ter liderança e demonstrou incoerência nas reivindicações.

Todos foram retirados do local em grupos de três e quatro pessoas ao longo da tarde e ficaram detidos na área de segurança legislativa da Casa até por volta das 22h. Depois, foram encaminhados para a sede da Polícia Federal, onde foram indiciados pelo crime de depredação de patrimônio público. Eles podem ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

O grupo só foi liberado pela PF por volta das 3h desta quinta-feira. Até o fim, eles reiteraram a argumentação de que o movimento foi organizado por meio de conversas em redes sociais e que não houve nenhuma articulação, entidade e nem movimento político por trás da iniciativa.