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Demissão de chefe da Receita revela falta de projeto e planejamento do governo Bolsonaro

Marcos Cintra foi derrubado por declarar apoio à recriação da CPMF, proposta criticada pelos apoiadores do presidente nas redes sociais

Valter Campanato/Ag. Brasil
Valter Campanato/Ag. Brasil
Cintra defendia imposto permanente sobre movimentações financeiras, aos moldes da antiga CPMF

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta quarta-feira (11) a demissão do secretário da Receita Federal, Marcos Cintra. O motivo para a “derrubada” do secretário, segundo o próprio presidente, seria a tentativa de recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A proposta foi divulgada, nesta semana, pelo secretário-adjunto da Receita, Marcelo Silva.

O episódio revela, mais uma vez, as contradições e ambiguidades do governo Bolsonaro, segundo o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política Paulo Silvino. “Se um subordinado se posiciona de forma que o presidente fica sabendo somente depois, tem também alguma coisa errada do ponto de vista hierárquico”, afirmou ele, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabãnas e Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (12).

“Evidentemente é um traço de quem não tem projeto, nem planejamento. Se, porventura tem, não deixa claro. A forma como ele lida com o seu próprio staff, com seus quadros técnicos e políticos, é quase que passional”, aponta Silvino, lembrando que, em nove meses de governo Bolsonaro, figuras de peso já foram demitidas, como o ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Gustavo Bebbiano, que foi um dos coordenadores da campanha do ex-capitão.

“Uma república na qual o filho do presidente, vereador no Rio de Janeiro, dá palpites, demite ministro e faz postagens contra a democracia. (Tudo isso) É simbólico para entender que há algo errado em termos internos do próprio poder”, destaca Silvino. “Bolsonaro, como todo homem quando é inseguro, quando é frágil, usa da força, demite e execra as pessoas publicamente, interna e externamente. Lamentavelmente, é um traço desse governo”, ressalta o professor.

Recentemente, Bolsonaro atacou o presidente da França, Emannuel Macron, após este fazer um alerta internacional para o aumento das queimadas na Amazônia. Também hostilizou a alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, após alerta sobre o aumento da violência policial no Brasil. Ele mencionou o pai de Bachelet, morto e torturado pela ditadura chilena, assim como já havia feito com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, que também teve a memória do pai morto pela ditadura brasileira usada em ataques verbais pelo presidente.

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