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Governo de SP é alvo, e debate marca disputa de Garcia e Tarcísio por vaga em 2º turno contra Haddad

Primeiro debate após início da propaganda eleitoral não deve ter mudado cenário da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes

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Poit, Elvis, Garcia, Haddad e Tarcísio: ataques ao governo paulista e 'nacionalização' do debate

São Paulo – O primeiro debate de candidatos ao governo paulista após o início da propaganda eleitoral terminou já nos primeiros minutos desta quarta-feira (14) com os cinco participantes buscando delimitar suas campanhas. Tarcísio Freitas (Republicanos) se apresentou como fazedor de obras e defendeu atuação de Jair Bolsonaro na pandemia. Fernando Haddad (PT) falou em projeto de reconstrução e citou experiências na área da educação, mobilidade e combate à corrupção. Rodrigo Garcia (PSDB) criticou a “guerra ideológica”, valorizou aspectos da gestão tucana em São Paulo e tentou se descolar de João Doria. Elvis Cezar (PDT) enfatizou ações contra a desigualdade e sua gestão como prefeito de Santana do Parnaíba. E Vinícius Poit (Novo) repetiu que era o único sem “rabo preso” ou padrinho político.

O governador Rodrigo Garcia, embora seja o terceiro colocado nas pesquisas, foi mais atacado. Briga com o segundo, Tarcísio, para ver quem vai para o segundo turno, possivelmente com Haddad, na disputa pelos votos de quase 35 milhões de paulistas, 22% do eleitorado brasileiro. Assim, em vários momentos o debate foi tomado por questões nacionais.

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A transmissão foi feita pela TV Cultura e pelo portal UOL, além das plataformas digitais do jornal Folha de S.Paulo e dos veículos do pool. As rádios Cultura FM e Cultura Brasil também transmitiram.

No primeiro bloco, foi feita uma pergunta sobre programa de governo (temas sorteados) e houve confronto direto entre os candidatos. No segundo, perguntas de jornalistas e novo confronto. O terceiro e último teve mais perguntas de jornalistas. O debate, no Memorial da América Latina, foi apresentado por Leão Serva (TV Cultura) e Fabíola Cidral (UOL).

Pesquisas põem petista à frente

As pesquisas de intenção de voto têm mostrado o ex-prefeito e ex-ministro Haddad na liderança. O ex-ministro (governo Bolsonaro) Tarcísio e o atual governador disputam o segundo lugar, em situação no limite do empate técnico. À primeira vista, o comportamento dos cinco candidatos no debate não parece ter sido suficiente para alterações do quadro. O próprio formato do evento engessa discussões mais aprofundadas entre os principais postulantes.

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O que não impediu ocorrências mais graves: a jornalista Vera Magalhães, da Cultura, apresentadora do programa Roda Viva, escreveu no Twitter à 0h20 que teria de sair escoltada do Memorial por seguranças “porque fui agredida pelo deputado (estadual) Douglas Garcia“, do Republicanos. E disse que iria registrar um boletim de ocorrência. Vera já fora alvo de ataque de Jair Bolsonaro no debate entre presidenciáveis. O deputado foi expulso do local.

Além do ataque ao governo federal, o candidato do PT centrou críticas ao Executivo estadual, citando o atual governador e seu antecessor, João Doria. “Vocês cortaram o passe do idoso. Vocês não têm nenhuma simpatia pelo povo que mais precisa”, disse Haddad a Garcia.

Ao responder uma pergunta irônica feita por Marcelo Tas (Cultura) sobre um suposto súbito “amor” do PT pelo ex-tucano Geraldo Alckmin, hoje no PSB, Haddad disse ter relação de amizade com Alckmin (e Gabriel Chalita) há muitos anos e destacou que, independente da questão partidária, fizeram várias coisas juntos, inclusive quando ele era ministro da Educação.

Candidato contra a “polarização”

Poit enfatizou seu lado “empreendedor” e atacou Haddad e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Reservou alguns minutos para fustigar o ex-ministro bolsonarista, ao perguntar a Tarcísio se ele continuaria fazendo tudo o que o atual presidente mandar. E também tentou se posicionar como uma espécie de terceira via estadual: “Não é hora de ‘nós e eles'”, afirmou. O deputado disse que não é contra cotas raciais, mas que é preciso pensar em um modelo de transição, proporcionando igualdade de oportunidades.

Garcia às vezes defendia o governo tucano, falando em investimentos e obras, em outras procurava se desvencilhar de João Doria. Rejeitou o bordão “Bolsodoria” da eleição de 2018 porque, a exemplo de Poit, disse não ter padrinhos políticos.

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Ação na pandemia

Tarcísio defendeu a política do governo Bolsonaro para a vacinação contra a covid-19, afirmando se tratar de um case de sucesso. Mas, como anotou o UOL, confundiu o Covax Facility, consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para compra de vacinas, com o imunizante Covaxin, objeto de denúncias na CPI da Covid.

Poit também falou em “bandidos” e corrupção em governos petistas. Haddad lembrou que nenhum partido teve mais iniciativas de transparência e combate ao crime organizado. Em indiretas a Bolsonaro, afirmou que na gestão do PT na Presidência a Polícia Federal não foi usada para “defender família”, nem houve indicação de ministro do Supremo Tribunal Federal “para depois pedir favor”. Citou a criação da Controladoria Geral do Município em São Paulo – inspirada na criação da Controladoria Geral da União por Lula. Observou que o órgão “desbaratou” cinco quadrilhas. “Pena que você (Poit) tenta cultivar um tipo de postura que não contribui para a boa política no nosso país”, devolveu.

Governo estadual “trava” desenvolvimento

Elvis afirmou que o estado paulista deveria ser “fomentador” da economia, mas o atual governo aumentou impostos, acumulou obras paradas, tem construção de estações do Metrô “com velocidade de tartaruga”. Além disso, o que considerou abusiva cobrança de pedágio funciona como trava ao desenvolvimento. Garcia respondeu que os investimentos vão “desengargalar” a economia.

O atual governador também procurou se distanciar do caso do irmão Marco Aurélio Garcia, condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS na prefeitura de São Paulo. “Somos responsáveis pelos nossos atos. Eu respondo pelos meus atos. Se ele fez algo de errado, ele que pague”, reagiu.

Na questão do transporte público, Haddad não falou diretamente sobre a questão da tarifa. Lembrou que o Metrô teve queda expressiva de passageiros durante a pandemia e disse que é preciso fazer uma campanha para estimular o uso do modal. Além disso, enfatizou a proposta de criação de bilhete único metropolitano, prometeu expansão da linhas e disse que a Cide (imposto federal) deveria ser municipalizada para subsidiar o transporte público, evitando reajuste de tarifas.

Assista à íntegra do debate