Contradições

Cunha reabre galerias da Câmara para votar MPs impopulares de Dilma

Votações polêmicas, como o ajuste fiscal defendido pelo governo, entram em pauta e presidente volta a cumprir regimento, que ignorou para votar terceirização, em gesto disfarçado de 'boa vontade'

Nilson Bastian / Câmara dos Deputados / Fotos Públicas

Cunha ‘redescobre’ a democracia e libera presença de público nas galerias da Câmara para votar MPs de Dilma

Brasília – Depois de proibir, no início de abril, a entrada de manifestantes à casa em meio a protestos e reclamações de vários colegas, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), avisou que na votação de hoje (5) as galerias estarão abertas normalmente. Por trás do anúncio há também a intenção política de deixar livres os protestos já antecipados pelos trabalhadores contra as Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665 a serem votadas esta semana. “Como se fosse um gesto de boa vontade dele e não uma regra regimental”, afirmou um deputado também do PMDB que pediu para o nome ser mantido em sigilo.

Referentes às medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo, as MPs são alvo de críticas e consideradas impopulares pelas centrais sindicais, porque alteram regras para concessão de direitos trabalhistas e previdenciários.

O estímulo aos representantes dos trabalhadores para ocuparem as galerias do plenário durante as votações das MPs é vista como mais uma manobra de Cunha em sua ofensiva ao governo federal e à presidenta Dilma. Mesmo que atendendo à solicitação de várias legendas, que entendem que a presença popular dentro da Câmara é condição essencial da democracia, o gesto de Cunha é considerado uma forma de reverter o desgaste sofrido pelos deputados durante a votação do PL da Terceirização – quando votaram com os setores patronais – agora se posicionando contra o governo.

A mobilização nacional contra o PL mostrou que boa parte dos deputados que aprovaram o PL 4.330, muitos deles do PMDB, atua como”inimigos” dos trabalhadores, por apoiar a terceirização irrestrita em todas os níveis das empresas, numa clara ameaça a direitos históricos conquistados em décadas de lutas da classe trabalhadora.

A expectativa na Câmara, principalmente entre deputados do DEM, PMDB e PP, é de que possam, agora, capitalizar apoio popular, aproveitando as MPs do Executivo, que por sua vez e a seu modo, impõem sacrifícios pelo ajuste fiscal – as centrais sindicais e os movimentos sociais defendem uma reforma tributária que aumente a contribuição dos mais ricos para a redução dos déficits do Tesouro.

‘Morde e assopra’

O presidente da Câmara compareceu a um ato público pela passagem do Dia do Trabalho, na última sexta-feira (1º), em São Paulo – apesar de sua base eleitoral ser o Rio de Janeiro. O ato, organizado pela Força Sindical, central que apoiou o PL 4.330, transcorreu sem que o tema terceirização fosse abordado pelos oradores, Cunha inclusive.

Em contraponto, a presidenta Dilma Rousseff, via redes sociais, além das centrais CUT, CTB e Intersindical, fizeram críticas ao projeto, em manifestações que tiveram inclusive o reforço do ex-presidente Lula, igualmente em São Paulo.

Um estilo que não deixa dúvidas sobre Cunha: ele está disposto a abrir as galerias, mas também está disposto a fechá-las e até reprimir manifestantes com violência, quando a situação for inconveniente para seus interesses políticos e pessoais. “Eduardo Cunha não manda no Brasil. É bom todos nós lembrarmos disso sempre, antes das pessoas aqui dentro o temerem e agirem a seu serviço”, lembrou um colega peemedebista, ao lembrar frase dita pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, durante as manifestações do 1º de Maio.