Com elogios a Serra e Lula, Marina defende isenção fiscal para economia verde

Tentando desfazer caráter plebiscitário da disputa presidencial, pré-candidata defende potencial de o país se desenvolver em áreas de baixa emissão de carbono

Marina Silva: campanha não deve ser plebiscitária (Foto: Olga Vlahou/Carta Capital)

São Paulo – A senadora Marina Silva (PV), pré-candidata à Presidência da República, defendeu políticas de incentivo fiscal e de crédito a empresas de baixa emissão de carbono. Em debate na manhã desta segunda-feira (12) na capital paulista, ela afirmou que tenta tirar o caráter plebiscitário da disputa eleitoral e sinalizou que defende ações como controle da inflação e superávit primário.

As declarações foram feitas durante o debate “O Brasil e a transição para uma economia de baixo carbono”, promovido pelas revistas CartaCapital e Envolverde. O evento no Teatro da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (Tuca) marcou o lançamento do suplemento “CartaVerde”, publicado nesta semana.

Para Marina, o Brasil pode sofrer impactos graves das mudanças climáticas, especialmente em regiões mais pobres, como o semiárido, no Nordeste. “Já teve incentivo para muita coisa, pra derrubar, para poluir”, lembrou. “Sem aumentar a carga tributária, precisamos redistribuir a carga para haver isenção de impostos para a economia de baixo carbono”, defendeu.

“Precisamos de políticas de crédito para que se fortaleça a economia de baixo carbono”, prosseguiu. Ela comparou sua proposta com as marchas de representantes da agropecuária em defesa de renegociações e até perdão de dívidas. Nesses casos, o governo historicamente atende às demandas sem exigir contrapartidas, como planos de recuperação de áreas degradadas, averbação de áreas de conservação ambiental etc.

Para se alcançar esse tipo de política, ela defendeu a necessidade de um acordo social entre empresários, governo e sociedade civil para garantir a sustentabilidade. “Esse tema é o desafio do século, não há como continuar colocando como oposição meio ambiente e desenvolvimento. É como desenvolver protegendo, e como proteger desenvolvendo”, explicou.

Seminário Carta Capital

As críticas à pecuária basearam-se na ampliação da participação do setor no total das emissões de carbono na atmosfera nas últimas duas décadas. Ela defendeu o desenvolvimento de tecnologias para diminuir as quantidades de metano provenientes da fermentação do gado, usando organismos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para isso.

Eleições

Após o seminário, Marina atendeu os jornalistas em uma entrevista coletiva de 12 minutos. Apesar de tentar desfazer a polarização da campanha, todas as perguntas feitas a respeito da campanha eleitoral diziam respeito a declarações e posicionamentos dos pré-candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).

“Tenho lutado para que essa campanha não seja plebiscitária e acho que o povo brasileiro não vai deixar (que seja)”, defendeu. Ainda sobre campanha eleitoral, Marina criticou a dinâmica de “embate” que caracteriza as disputas políticas. Ela diferenciou ainda o debate político do que ela acredita ser a forma adequada de as lideranças atuais se comportarem, buscando o diálogo.

“(Tenho lutado para) que a campanha não seja uma guerra, que seja um debate e, de preferência, um diálogo. Entre os candidatos, talvez haja o debate, talvez não tenhamos amadurecido para o diálogo. Agora, com a sociedade, vamos fazer o diálogo, estamos vivendo um momento de crise social e ambiental muito grave no mundo inteiro. O que se espera das lideranças é uma nova atitude”, sustentou.

Um exemplo do que a senadora considera como falta de diálogo foi a forma como o governo federal e a administração paulista apresentaram suas metas de redução de emissões de carbono em dezembro, semanas antes da Conferência das Partes (COP-15) sobre mudança climática.

“São políticas relevantes e que, infelizmente, em função das divergências políticas ou ideológicas, acabam não conversando nem institucionalmente, o que é um prejuízo para a sociedade”, explicou. “Como a gente potencializa a decisão correta de São Paulo de ter metas e a decisão correta da União de ter metas”, elogiou.

Além disso, ela criticou o padrão da cobertura de eleições promovida pelos veículos de comunicação, buscando ataques entre as partes. “Cada vez que a gente dá uma alfinetada uns nos outros, a gente diminui a possibilidade do debate. Quando faço a minha crítica, faço porque acho que é relevante para que se reposicionem algumas questões”, sustentou.

Dizendo-se em cruzada pelo debate entre candidatos, ela considera uma conquista de sua candidatura a inclusão do tema desenvolvimento sustentável no programa e a defesa feita por Dilma a respeito da educação. “Estamos indo no caminho da proposta. Vamos todos nos revelar nesse processo”, completou.

Para ela, há princípios éticos que exigem alianças pontuais que promovam um resultado melhor. “Não conversar é uma perda. O princípio ético é que precisamos reduzir a emissão de CO2, o que vai exigir um compromisso para os próximos 20 ou 40 anos de empresários, governo federal, estadual, sociedade; todo mundo ao mesmo tempo agora”, analisou.

Sobre a falta de carisma de Dilma e de Serra, Marina brincou, dizendo que “ainda bem” que Lula não é candidato, o que “dá chance a nós, os carrancudos”.

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