Encontro no Jaburu

Centrais dizem a Temer que não aceitarão perda de direitos

Para representantes da Força Sindical, NCST, UGT e CSB, documento ‘Ponte para o Futuro’, do PMDB, precisa rever pontos, pois ‘governo precisa cortar na própria carne, sem prejudicar trabalhadores’

Reprodução/Facebook

Sindicalistas propõem que as políticas de ajuste levem em conta a redução da taxa de juros voltados ao consumo

Brasília – Diante de tantas especulações sobre a crise política e a formação em curso de um governo de Michel Temer, o vice-presidente recebeu hoje (26), no Palácio do Jaburu, representantes de quatro centrais sindicais, tendo entre eles alguns favoráveis ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Os dirigentes dessas entidades, no entanto, apresentaram a Temer um documento com cobranças diversas e destacaram a necessidade de se evitar perda de direitos para os trabalhadores. Para muitos políticos, a iniciativa foi vista como “estratégia” do grupo do vice contra afirmações de que, na hipótese de um novo governo, serão implementadas medidas que reduzirão ou acabarão com programas sociais e mudarão políticas públicas voltadas para essa área.

O encontro teve participação do presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), o secretário-geral da entidade, João Carlos Gonçalves, o Juruna, além dos presidentes da NCST, José Calixto Ramos, da UGT, Ricardo Patah, e da CSB, Antonio Neto, que é do mesmo partido de Temer, e do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres. Também estavam lá o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha e o ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

No documento, os sindicalistas propõem que as políticas de ajuste a serem adotadas em um possível governo Temer levem em conta redução da taxa de juros voltados ao consumo e aos investimentos no comércio e na indústria, bem como correção da tabela do Imposto de Renda. E, também, medidas que combatam o desemprego.

As centrais destacam no texto que os trabalhadores menos favorecidos “estão cansados do desajuste da economia” e que “o eventual governo Temer deve se comprometer com uma agenda que esteja voltada para o desenvolvimento e o crescimento econômico e também para a distribuição de renda”. “Nós, trabalhadores, destacamos a necessidade da imediata retomada do crescimento econômico, da geração de emprego, de renda e da preservação e ampliação dos direitos trabalhistas e das conquistas sociais”, enfatizam.

Reforma previdenciária

Tendo o tema Previdência Social como um dos pontos principais a serem avaliados pelo vice-presidente, caso venha a substituir Dilma, as centrais citam ainda a renegociação da dívida interna do país. Elas pedem o que chamam de “fortalecimento e retomada do protagonismo histórico do Ministério do Trabalho” e a inclusão de representantes do capital e do trabalho no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

“O Brasil está numa crise profunda e a gente não pode ver alguns setores quererem se livrar do problema, jogando a crise econômica nas costas dos trabalhadores. Vamos discutir aqui como o Brasil pode voltar a crescer e a se desenvolver sem que os trabalhadores paguem a conta”, afirmou o presidente da Força, um dos principais líderes do movimento pró-impeachment.

De acordo com Paulinho, o encontro consistiu em um pedido, pelas entidades, de uma agenda de ações que levem ao que ele destacou ser “uma nova política de desenvolvimento nacional, baseada na mudança e redirecionamento na política econômica”.

Segundo assessores, a reunião não foi tão branda como se tentou demonstrar. Mesmo lembrando que apoiam Temer, representantes das quatro entidades que sentaram à mesa com o vice-presidente disseram que uma reforma previdenciária a ser tratada por ele precisa ser feita com o compromisso de que não altere direitos dos trabalhadores.

Eles acentuaram que não vão apoiar qualquer proposta que estabeleça itens como idade mínima para aposentadoria – uma das questões discutidas pelo Congresso nos últimos 12 meses, durante discussão de alterações nas regras previdenciárias. Até porque, lembraram, essa sugestão está incluída no programa intitulado Uma Ponte para o Futuro, lançado no final do ano passado pelo PMDB. “Os dirigentes sindicais foram taxativos no sentido de que para ter o apoio dessas quatro centrais, tal ponto precisa ser revisto pelo vice-presidente”, contou um assessor da vice-presidência.

Fechamento de fábricas

Os dirigentes sindicais também lembraram de questões como aumento dos juros e fechamento de fábricas como pontos que precisam ser avaliados na estruturação das políticas públicas da equipe de Temer. “O Brasil que queremos é resultado de uma agenda que dê mais atenção para a implantação urgente de uma política de desenvolvimento nacional, para mudanças e redirecionamento da política econômica e para retomada, ampliação e adoção de políticas de geração de empregos, renda e direitos sociais”, afirmou Patah.

Ele acrescentou uma outra queixa como fator que levou o grupo a procurar o vice-presidente: as constantes idas do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ao Palácio do Jaburu, nos últimos dias. “O Skaf não sai do Jaburu. Estamos preocupados com a defesa de temas como a flexibilização genérica na área trabalhista num novo governo”, acentuou.

O dirigente da UGT também lembrou a questão do projeto de terceirização, que tramita no Senado, e cujo teor aprovado pela Câmara é considerado pelas centrais como prejudicial aos trabalhadores. Segundo ele, esse projeto, da forma como passou na Câmara, conta com o apoio de boa parte dos parlamentares e setores do empresariado, que têm feito contatos com Temer.

“O documento Uma Ponte para o Futuro tem colocações que nos fazem crer que há um generalismo sobre estes temas. Precisamos ter certeza que o governo vai cortar na própria carne sem prejudicar os trabalhadores”, acrescentou Patah.

Já o secretário-geral da Força disse que o encontro foi uma forma de os trabalhadores mostrarem que “querem e devem ser ouvidos” nessas negociações e acertos para um futuro governo. “Tanto do ponto de vista trabalhista como também em relação às questões econômicas e sociais”, disse Juruna.