cooperação e amizade

‘Brasil e França estão decididos a trabalhar juntos’, diz Lula ao lado de Macron

Lula destacou que compromisso com o meio ambiente “não é retórico”. Francês citou a tentativa de golpe bolsonarista e destacou a força da democracia brasileira

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Macron recebeu a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira estrangeiros

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira (28) que “o Brasil e a França estão decididos a trabalhar juntos para promover, pelo debate democrático, uma visão compartilhada de mundo”. Em cerimônia no Palácio do Planalto, Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, assinaram mais de 20 acordos de cooperação entre os países, em áreas como meio ambiente, inteligência artificial, direitos humanos e igualdade de gênero.

Nesse sentido, Lula afirmou que, dentre as potências tradicionais, nenhuma é mais próxima do Brasil do que a França. De acordo com o líder brasileiro, a relação entre os dois países representa “uma ponte entre o Sul Global e o mundo desenvolvido, em favor da superação de desigualdades estruturais e de um planeta mais sustentável”.

Lula disse que que Macron pôde constatar pessoalmente que o compromisso brasileiro com a proteção ambiental “não é retórico”. “No último ano, reduzimos o desmatamento ilegal da Amazônia em 50%, e temos o compromisso de zerá-lo até 2030”.

Destacou ainda que ambos os países compartilham da visão fundamentada na prioridade da produção sobre a finança improdutiva, da solidariedade sobre o egoísmo, da democracia sobre o totalitarismo, da sustentabilidade sobre a exploração predatória”.

Outro ponto em comum, segundo Lula, é a reforma da governança global e o fortalecimento do multilateralismo. “Também coincidimos que é hora de os super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos”. Classificou como “alarmante e inexplicável” a “paralisia” do Conselho de Segurança da ONU frente à guerra da Ucrânia e em Gaza. E ressaltou que o Brasil “rechaça categoricamente todas as manifestações de antissemitismo e islamofobia”.

Macron cita 8/1 e destaca “força” da democracia brasileira

Macron disse que se sentiu “extremamente honrado” em estar ao lado de Lula, destacando a amizade entre os dois países. Ao mesmo tempo, citou a tentativa de golpe bolsonarista em 8 de Janeiro do ano passado. E elogiou então as atitudes do governo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para “restaurar” a democracia brasileira.

“A praça dos Três Poderes foi destruída e bastante maltratada pelos inimigos da democracia”, ressaltou. “Ninguém está a salvo de forças muito extremas que vem estremer a democracia e o Brasil resistiu a isso. Nós discutidos longamente sobre isso e quero conseguir avançar sobre isso a nível internacional. Quero agradecer pelo espírito de resistência e a força para restaurar a democracia”. Disse ainda que a França “ama” o Brasil e destacou os quase dois séculos de relações diplomáticas entre os dois países.

Assim, o encontro bilateral marcou o fim da visita oficial de três dias do líder francês ao Brasil. Foi a sua primeira visita desde que assumiu como chefe de Estado em 2017. Macron recebeu de Lula o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração brasileira atribuída a cidadãos estrangeiros.

Divergências sobre a guerra

Após os pronunciamentos, Lula e Macron falaram brevemente aos jornalistas. Lula foi questionado sobre Macron não descartar enviar tropas para a guerra na Ucrânia. Já Macron respondeu sobre a posição de Lula, de não vetar a participação do presidente russo, Vladimir Putin, à reunião do G20, que ocorrerá no Brasil, neste ano.

“Tivemos uma discussão muito franca e completa sobre esse tema”, ressaltou o francês. “Eu recordei aqui que a discussão refletiu claramente o fato que o Brasil desde o início, sem margem de dúvida, condenou a agressão da Ucrânia pela Rússia. Mas o importante é saber o que cada um pensa, que as coisas sejam claras. Estamos do mesmo lado. Direito internacional, soberania dos povos, quando um país é atacado por uma potência nas suas fronteiras, nós condenamos. A seguir, tomamos decisões que podem ser diferentes”.

Lula, por outro lado, afirmou que não tem o mesmo “nervosismo” dos europeus em relação à guerra. “Seria tão bom se a gente tivesse pergunta para falar da relação Brasil e França. Estou a tantos mil quilômetros de distância da Ucrânia que eu não sou obrigado a ter o mesmo nervosismo que tem o povo francês que está mais próximo, o povo alemão, o povo europeu”. Por fim, disse que Rússia e Ucrânia vão ter que se entender, chegando a conclusão que não valeu a pena tudo o que fizeram até agora.