doce vingança

Bolsonaro edita MP para fragilizar finanças de jornais impressos

“Eu espero que o 'Valor Econômico' sobreviva à medida provisória de ontem, espero”, afirmou, durante abertura do congresso da Fenabrave em São Paulo. Discurso é tido como vingança contra o jornal, que será o mais afetado com a decisão

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Bolsonaro: "A nossa medida provisória faz com que o empresário possa publicar os seus balanços a custo zero nos sites da CVM ou do Diário Oficial da União"

São Paulo – A guerra entre o governo Bolsonaro e a imprensa ganha mais um capítulo com a publicação hoje (6) da Medida Provisória (MP) 892, que altera a lei das SAs, de 1976, e desobriga as empresas de capital aberto a publicar seus balanços em jornais impressos. “Assinei uma Medida Provisória que fala sobre a publicação de balanços referentes às empresas de capital aberto. Quantas vezes nós abrimos os jornais e temos ali balanços de grandes empresas, como a Petrobras, por exemplo, dezenas de páginas, bem como outras empresas, não estatais, também com algumas páginas, publicando seu balanço”, disse o presidente, ao participar na manhã desta terça (6), da abertura do congresso da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em São Paulo.

Bolsonaro comentou em seguida, em tom de ironia: “Então, para ajudar a imprensa de papel, e para facilitar a vida de quem produz também, a nossa medida provisória faz com que o empresário possa publicar os seus balanços a custo zero nos sites da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou do Diário Oficial da União”.

“As grandes empresas gastavam com jornais em média R$ 900 mil por ano e vão deixar de gastar isso aí”, destacou ainda, para arrematar: “Eu tenho certeza que a imprensa vai apoiar essa medida”.

“O que eu quero, o que eu preciso é a verdade, eu quero que a imprensa venda a verdade para o povo brasileiro, e não faça política partidária, como vêm fazendo alguns órgãos de imprensa. Eu espero que o Valor Econômico sobreviva à medida provisória de ontem, espero”, disse referindo-se à publicação controlada pelo grupo Globo.

O presidente lembrou que o Valor o entrevistou duas vezes durante a pré-campanha eleitoral, e na segunda a manchete era “Bolsonaro tem a política econômica igual à da Dilma”. “Pelo amor de Deus, pô, eu não sou o Dilmo de calça comprida. O que a gente quer é a verdade, o empenho, a dedicação, a fé, a confiança”, afirmou, dando margem para que a edição da medida seja interpretada como vingança contra o jornal, cuja receita depende da publicação desses balanços.