Mimetizando Bolsonaro

Bolsonarista ameaça autor de reportagem da Agência Pública sobre incentivo a crimes no Telegram

Jornalista da Agência Pública recebeu ameaças de evangélico e líder de motociata após publicar reportagem sobre grupo intitulado ‘Nova Direita 70 Milhões’

Reprodução / Redes Sociais
Reprodução / Redes Sociais
Villar em dois momentos: ao lado de Tarcísio e de Bolsonaro

São Paulo – O diretor e editor da Agência Pública Thiago Domenici recebeu ofensas e ameaças do evangélico bolsonarista e líder de motociata Jackson Villar da Silva. A manifestação de Villar ocorreu depois que a agência publicou, nessa quinta-feira (27), reportagem de autoria de Domenici sobre a atuação do bolsonarista em um grupo do Telegram chamado “Nova Direita 70 Milhões”.

Com o título Matar e quebrar urnas: evangélico líder de motociata incentiva crimes no Telegram, a reportagem mostra as gravações de Villar no grupo em que ele incentiva crimes diante do cenário eleitoral desfavorável ao seu candidato, Jair Bolsonaro (PL). Após as ameaças, a agência divulgou nota.

Confira a íntegra

Nesta quinta-feira, 27 de outubro, a Agência Pública veiculou em seu site a reportagem intitulada “Matar e quebrar urnas”: evangélico líder de motociata incentiva crimes no Telegram”, na qual reproduziu diálogos realizados em chats do Telegram “Nova Direita 70 Milhões”, entre os dias 3 e 23 de outubro, de autoria de Jackson Villar da Silva, evangélico que se intitula comerciante, radialista, conservador, presidente do “Acelera Para Cristo” e organizador da motociata com o presidente Jair Bolsonaro em junho de 2021, que percorreu 130 km da cidade de São Paulo até Americana.⁠

Nas gravações analisadas pela Agência Pública, Villar propõe uma espécie de “eleição paralela”, em que diz que vai provar “fraude nas urnas”. Também insinua a necessidade de cometer crimes diante do cenário desfavorável ao seu candidato, Jair Bolsonaro (PL); fala sobre a necessidade de “quebrar esquerdistas no cacete”, conclama seus seguidores a “quebrar a urna eletrônica no pau” e afirma que “cientista político tem que apanhar”.⁠

De acordo com a apuração da reportagem, Villar também teria cometido discriminação e preconceito contra o povo baiano, a quem se referiu como “descarados e vagabundos” por terem votado em sua maioria no candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. “Baiano é gente boa, mas ele é meio descarado. É falso. Eu conheço a natureza do baiano, o negócio dele é se requebrar”, diz o comerciante.

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As falas violentas de Villar sugerem ainda a um bolsonarista como lidar com quem vota em Lula: “Você tem que falar assim: ‘Os cara vão te ‘passar’ [expressão para matar], ‘os cara vão caçar todo mundo que é petista’. Você vai convencer uma alma sebosa com o medo, entendeu? Ele só respeita o cacete”.

A reportagem é assinada por Thiago Domenici, diretor e editor da Agência Pública, e foi republicada por outros veículos de comunicação, tais como Uol, Carta Capital e Brasil 247.

Hoje, após a publicação da reportagem, uma fonte encaminhou à Pública novos áudios postados no chat do Telegram “Nova Direita 70 milhões“, alertando sobre ameaças de violência física e ofensas ao jornalista e uma ação orquestrada para derrubar os perfis da Agência Pública nas redes sociais.

Conforme a transcrição dos áudios obtidos, Villar fez ameaças e ofensas diretas ao jornalista subscritor da reportagem:

“Ah, então é você pilantra. Olha a cara desse safado rapaz. Cabra desse tem que ir atrás dele. Olha a cara desse mano, olha a cara desse cretino. Vou mandar pra um amigo meu aqui, (inaudível) Praia Grande, né? Serginho, você conhece esse cara aí? Serginho, você conhece esse cara, aí? Conhece esse vagabundo aí, Serginho? Vai ver o cara desse se encontrar comigo pessoalmente, pra ver se ele é esse cabra mesmo, mostrar pra ele como é que se dá uma pisa num cabra safado. Tava com medo, né? Vai engolir seu celular, seu vagabundo. Como tem gente sem vergonha, rapaz”.

Leia a reportagem da Pública


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