Bloco de Ciro ‘atravessa’ articulações paulistas

Oposição tenta finalizar comissão de frente que vai desafiar velha-guarda tucana em São Paulo

O deputado Ciro Gomes, que planeja se candidatar à presidência da república (Foto: Wilson Dias/ABr)

O próximo dia 24 pode ser o divisor de águas na sucessão para o governo estadual paulista. Nesse dia, partidos que fazem oposição ao atual chefe do Palácio dos Bandeirantes, José Serra, vão se reunir com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), para tentar bater o martelo em relação à participação do parlamentares nas eleições em São Paulo. Caso ele confirme que não disputará o governo estadual – cenário mais do que provável -, começa o processo de definição da candidatura que vai desafiar a hegemonia tucana, há quatro mandatos no poder.

“Queremos definir esse nome (do candidato) até o final de fevereiro, início de março, no máximo”, diz o presidente estadual do PT, Edinho Silva. Ele não esconde a pressa para finalizar esse processo, destacando a importância de reforçar a campanha presidencial.

“A ausência de uma liderança que esteja à frente da articulação do programa de governo e da política de alianças começa a criar problemas para a construção do palanque da Dilma (a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff)”, afirma.

Sobre Ciro Gomes, ele lembra que o PT vê o nome com “respeito e simpatia”, mas a presença – ou não – do parlamentar do PSB não interrompe o processo de consolidação de nomes e estratégias de campanha. “O PT tem dado continuidade ao processo de construção dos nossos nomes para apresentar à base aliada. Não estamos com o processo paralisado ou esperando definições de outros partidos para definir a tática eleitoral”, diz Edinho, acrescentando que o objetivo é manter “a todo custo” a aliança entre os nove partidos da base aliada.

Na quarta-feira (10), a nova direção estadual do PT aprovou resolução na qual defende “a unificação de um campo de forças políticas progressistas para a disputa do governo do estado de São Paulo, construindo um programa de governo e uma ação política que responda às necessidades do povo paulista”, priorizar “a construção de aliança com os partidos que dão sustentação política ao governo Lula e “preparar o encontro estadual que definirá o programa de governo, a tática eleitoral e a chapa majoritária e proporcional para a disputa eleitoral de 2010”. A executiva estabeleceu o próximo dia 26 para aprovar um calendário que será submetido à reunião do diretório estadual marcada para 6 de março.

“Temos compromisso com o presidente Lula e com o Ciro para esperar até março”, conta o presidente do PDT em São Paulo, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também presidente da Força Sindical. “A nossa ideia é construir uma candidatura única”, acrescenta Paulinho, citando nomes como do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, e do senador Aloizio Mercadante como possíveis encabeçadores da chapa. O PDT, que em 2006 lançou candidato próprio (Carlos Apolinário), reivindica o cargo de vice-governador.

Polarização

Já o PMDB paulista aguarda uma definição em nível nacional para saber se terá ou não candidato em São Paulo, diz o vice-presidente estadual do partido, o deputado Jorge Caruso. Mas ele lembra que “essa tese (candidatura própria) não é bem vista hoje pelo partido”, até para não comprometer as candidaturas de deputados estaduais.

A tendência é de que o PMDB, em São Paulo, apóie a candidatura tucana – Caruso prefere não falar em nomes. O objetivo do partido no estado é concentrar esforços na candidatura do ex-governador Orestes Quércia ao Senado.

Quanto à presença de Ciro Gomes, o deputado peemedebista avalia que só haveria uma alteração significativa de cenário em um eventual segundo turno. Ele vê hoje como hipótese mais provável uma polarização entre e o PT e a aliança que inclui PSDB, PMDB e DEM, diferente do cenário federal, no qual PT e PMDB devem manter a aliança construída no atual governo.

A subprefeita da Lapa (zona oeste de São Paulo), Sonia Francine, a Soninha, vê nessa polarização simbolizada por PT e PSDB um certo “empobrecimento” da política. “A polarização é uma simplificação, o plebiscito também”, afirma, referindo-se à comparação de gestões, conforme têm falado petistas e tucanos. “É importante oferecer outras visões às pessoas além da guerra. Muita gente não veste camisa de torcida organizada ou mesmo de um time. No eleitorado é a mesma coisa.”

Segundo ela, o PPS já está “razoavelmente decidido” a ter candidatura própria. “O nosso interesse é de participar para valer, apresentar propostas, como enxergamos a política e como enxergamos o estado”, diz Soninha, que disputou a prefeitura paulistana em 2008. Pelo menos um partido, dos chamados pequenos, procurou o PPS no final do ano passado, para uma conversa inicial.

O presidente estadual do PSDB, deputado federal Antonio Carlos de Mendes Thame, afirma que o partido é “absolutamente indiferente” à participação – ou não – de Ciro Gomes. “O nosso concorrente tradicional é o PT. Se o PT vai abrir mão disso para ter um candidato ´importado´, neopaulista, o problema é do PT, não nosso”, diz Mendes Thame. “Não nos cabe mudar nossa estratégia por causa disso.”

Segundo ele, uma definição em relação a candidaturas deve sair até o final do primeiro trimestre. Atrelada, claro, ao provável anúncio da candidatura do governador José Serra à Presidência da República. O parlamentar vê um “falso debate” na polêmica sobre a comparação de gestões. “À medida que aumenta a conscientização política, as comparações são inevitáveis.”

Amplitude

O PC do B aprovou resolução no último final de semana, em reunião do comitê central, defendendo a formação de uma chapa “forte e competitiva” em São Paulo, a fim de rivalizar com a coligação PSDB/DEM. “As eleições majoritárias em São Paulo estão diretamente relacionadas à disputa presidencial. O estado é o principal centro da oposição conservadora nacional e é daqui que partem as articulações e a candidatura mais forte dos setores que pretendem interromper as mudanças positivas iniciadas com o governo do presidente Lula”, diz a resolução.

O presidente nacional do PC do B, Renato Rabelo, avalia que uma chapa unitária de oposição, liderada por Ciro Gomes, teria mais “amplitude política” e mais chances de tirar os tucanos do poder. “Se o Ciro definir-se pela candidatura dele em São Paulo, talvez fosse a que tivesse melhores condições de ter uma base ampla de apoio”, afirma. “Se o Ciro não sair candidato, aí ficaríamos em torno de dois candidatos, do PT ou do PSB. Nesse caso, teríamos de trabalhar para uma unir forças e por uma só candidatura”, acrescenta.

Para Edinho Silva, o PT e aliados têm chances concretas na eleição deste ano. “Na nossa avaliação, existe um esgotamento do projeto do PSDB e do DEM em São Paulo”, afirma, citando fatores como o aumento da violência, a falta de um projeto para a saúde, o sucateamento da educação e o problema das enchentes. “Em vez de aumentar o investimento, Serra cortou R$ 100 milhões.”

Um dos cotados para a disputa, o senador Eduardo Suplicy já está em campo, iniciando o processo de coleta de assinaturas para a indicação de seu nome – são necessárias aproximadamente 2.970 assinaturas de filiados no estado de São Paulo (1% do total).

“Dada a receptividade positiva, creio que até o final de fevereiro será atingido o número necessário”, afirmou o senador, em carta dirigida ao presidente estadual do PT. “Reitero o meu compromisso de apoiar, com entusiasmo, a pessoa que for a escolhida num processo transparente, democrático e bem conduzido pela direção do partido, seja por consenso ou por prévia, precedida por debates.”

Entre os outros nomes, o ministro da Educação, Fernando Haddad, já descartou a sua candidatura. E declarou, em entrevista recente, que o PT errou ao lançar sempre candidatos diferentes em cada eleição.

Como foi em 2006

Na última eleição para governador de São Paulo, José Serra – à frente do bloco PSDB, PFL (atual DEM), PTB e PPS – ganhou no primeiro turno, com 12.381.038 votos (57,9%). O segundo colocado, o senador Aloizio Mercadante (PT/PRB/PLP/PC do B) recebeu 6.771.582 votos (31,68%).

Mercadante saiu-se um pouco melhor na capital, onde ganhou 34,24% dos votos, contra 53,08% de Serra.

Entre os demais candidatos, Orestes Quércia (PMDB/PP) teve 977.695 votos (4,57%), seguido por Plínio de Arruda Sampaio (PSOL/PSTU/PCB), com 532.470 (2,49%), e Carlos Apolinário (PDT), com 430.847 (2,02%).

No total, 14 candidatos disputaram a eleição ao governo paulista.