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Associação que tentou acabar com Mais Médicos declara voto em Aécio Neves

Por 'desrespeito e a vulgarização do exercício da medicina', Associação Medica Brasileira assina carta em que retoma críticas ao governo petista que faz desde 2013 e pede votos para Aécio

Jarbas Oliveira/Folhapress

Em agosto, médico cubano foi hostilizado por profissionais da AMB contrários ao Mais Médicos

São Paulo A Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou esta semana uma carta de apoio à candidatura presidencial do tucano Aécio Neves, convocando a classe médica a “retirar do poder” o atual governo, que acusa de “desmando, abandono e sucateamento da saúde”. Os termos e o tom da carta são os mesmos utilizados por um grupo de médicos de elite de Minas Gerais que enviou mensagem pelo correio a colegas no estado, provocando desconforto entre a categoria.

“Consternados”, os integrantes da entidade apontam ainda “a vulgarização do exercício da medicina por parte de gestores de saúde” como motivo para a tomada de posição, e ressaltam que o momento não comporta “fraquezas”. O documento explicita a disputa ideológica com o PT: para a AMB, o que eles consideram erros do governo federal na área são “fruto de um ideário político-partidário que nunca teve, na sua essência, a legítima e real preocupação com a saúde no Brasil”.

A disputa da AMB contra o governo federal não é novidade. A entidade entrou em conflito aberto com Dilma Rousseff (PT) após a criação do programa Mais Médicos, no segundo semestre do ano passado, iniciativa que contratou médicos brasileiros e estrangeiros para reforçar a atenção básica à saúde nos municípios do interior do Brasil e nas periferias das grandes cidades. A entidade é refratária especialmente ao convênio com a Organização Panamericana de Saúde (Opas), que trouxe médicos cubanos para atuar no país.

Com cerca de 15 mil profissionais em atuação, o Mais Médicos levou saúde básica a 50 milhões de brasileiros que não tinham acesso a esse serviço. Os médicos cubanos representam quase 80% do total de profissionais, e 2,7 mil cidades, quase a metade dos municípios brasileiros, são atendidas exclusivamente por eles. Os estrangeiros foram chamados para preencher vagas que médicos brasileiros ignoraram ou abandonaram, apesar do valor elevado da bolsa paga aos participantes do programa (mais de R$ 10 mil mensais).

Ainda antes da implementação do Mais Médicos, a AMB foi às ruas contra a chegada dos médicos cubanos, e manteve manifestações de rua até o desembarque dos primeiros profissionais no país. A entidade participou, por meio de sua sede regional, do protesto em Fortaleza, no Ceará, em que médicos cubanos negros foram chamados de “escravos” por suas contrapartes brasileiras.

A AMB agiu ainda judicialmente contra o programa, e, em duas oportunidades, moveu ações para tentar derrubar a medida provisória que instituiu o Mais Médicos, buscando, assim, anular sua implantação. Médicos ligados à entidade abandonaram também os fóruns e conselhos públicos de saúde ligados ao governo federal.

O candidato da entidade, Aécio Neves, tem posição similar ao Mais Médicos: em 2013, quando ele foi criado, afirmou que o programa era “uma violência sem tamanho”, e, por diversas vezes, repetiu que se tratava de “80% propaganda, 20% de efetividade”. Embora não defenda mais publicamente o fim do programa, aprovado por 85% da população, de acordo com pesquisa Datafolha, Aécio promete tomar medida que pode significar o fim do Mais Médicos: quer retirar do programa os cubanos, que têm expertise em missões humanitárias de saúde e são a maioria dos contratados.