Arruda rompe silêncio e ataca clã Roriz

Ex-governador dá primeira entrevista depois de sair da prisão para não ser 'acusado de omissão'. Ele não declara apoio a Agnelo, mas promete votar 'contra Roriz'

Arruda na saída da prisão por tentativa de suborno. Agora, ex-governador vê disputa plebiscitária (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Rio de Janeiro – Pela primeira vez, José Roberto Arrua rompeu o silêncio que se impôs desde que saiu da prisão, em abril. O ex-governador do Distrito Federal, que ficou preso por 60 dias por tentativa de suborno, afirma que decidiu conceder uma entrevista ao jornal Correio Braziliense porque não queria ser acusado de se omitir. “Ou falo agora ou mais tarde poderei ser acusado do pior dos atos, a omissão. A vitória do clã Roriz significa dizer: o crime compensa”, afirmou.

Arruda diz que, para não perder a chance de voltar ao poder, Roriz decidiu praticar o nepotismo. “É triste ver pessoas que sempre tiveram o meu respeito naquela imagem melancólica, fraudulenta, tão bem traduzida pela filha do casal: ‘Meu pai indicou minha mãe’. É a oligarquia consciente, o contrabando da candidatura, o abuso da confiança dos cidadãos, o desrespeito à Justiça. Mas, vindo do Roriz, nada mais assusta, pela sua capacidade infinita de trapacear, de jogar sujo”, declarou.

Mesmo investindo contra Roriz, Arruda não declarou voto em Agnelo Queiroz (PT). Ao ser questionado sobre quem encarnaria os ideais mais adequados ao Distrito Federal, ele contemporizou. “O Agnelo está longe de ser o candidato dos meus sonhos. Mas a eleição é plebiscitária. Depois de toda a tristeza que se abateu sobre a cidade, e eu sou em grande parte responsável por isso, não tenho o direito de induzir ou pedir voto para ninguém, mas tenho a obrigação moral de dizer o meu: eu voto contra Roriz”.

Apesar de estar envolvido em um caso de corrupção que também tem Roriz como participante – conhecido como “mensalão” do Distrito Federal ou do DEM – Arruda afirma que em seu governo não houve pagamentos a deputados. “O grande erro do meu governo foi ter permitido que alguns rorizistas, que vinham no poder há 20 anos, (…) pularem para o meu barco na última hora, e eu, ingenuamente, os mantive depois no governo”, disse.

Ele garante que o pagamento a deputados ocorreu antes de seu governo. “Parece evidente que houve mensalão em Brasília, mas foi o mensalão do Roriz, e não meu. As imagens (dos vídeos) são todas anteriores ao meu governo”, acusa. Entre os rorizistas que participaram do governo Arruda está Durval Barbosa, acusado de desviar quase meio bilhão de reais dos cofres públicos durante as duas gestões Roriz, quando foi presidente da Companhia de Planejamento do Distrito Federal.

Ao se defender, Arruda ataca Roriz. Ele afirma que foi alvo de uma armação do ex-governador e ex-candidato para ser destituído do cargo de governador. “Você acha que é por acaso que, na única vez em que eu fui ao gabinete desse Durval, em 2005 (…) o Roriz ter me ligado? Exatamente naquela hora? (em que o vídeo foi gravado)”, questiona Arruda. “Essas pessoas que se dedicaram a arquitetar o mal o fizeram com tal competência que convenceram a sociedade, através da mídia, com aquele bombardeio de imagens agressivas, que toda aquela corrupção que se passou no governo Roriz na verdade teria sido no meu governo. Porque não aparecia a data (nos vídeos)”.

O ex-governador disse que pretende voltar a ser engenheiro. “Estou me preparando para isso,
devagar, me reciclando. A partir do ano que vem quero retomar minha vida de engenheiro. Quero
viver de maneira mais simples, mais tranquila, longe do poder”, disse.

A partir de novembro de 2009, quando foi deflagrada a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, foram divulgados uma série de vídeos em que Durval Barbosa coordenava uma distribuição de recursos a deputados distritais e secretários de governo. Segundo a investigação, havia um esquema de compra de votos de parlamentares. No mais recente dos vídeos divulgados, Arruda aparece explicando justamente que os recursos seriam para Roriz subornar magistrados no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).   

Arruda foi cassado em março de 2010 pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Distrito Federal depois de anunciar sua desfiliação ao DEM. Ele foi preso em fevereiro e, para evitar a expulsão da legenda, decidiu desligar-se voluntariamente. Sem vínculo com o partido no qual se elegeu, o Arruda (que havia se licenciado da função para evitar uma intervenção federal) perdeu o mandato.

Reação

Pelo Twitter, o atual governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, reagiu à entrevista de Arruda. Ele chamou o ex-governador de “psicótico”. Respondendo a um internauta que dizia que Arruda teria “detonado”o governador na entrevista, Rosso postou, por volta das 10 da manhã, a segunte mensagem: “O problema dele é psicótico odir! Eu voto na weslian e o Arruda no Agnelo!”

Apesar da convicção de Rosso, o apoio a Roriz causou uma baixa no governo. O secretário de Educação do Distrito Federal, Marcelo Aguiar, pediu demissão no final da manhã desta segunda-feira (28). Aguiar havia assumido o cargo em abril deste ano e faz parte do grupo de Cristovam Buarque (PDT), candidato ao Senado.

Em entrevista ao Correio Braziliense, ele declarou que não concorda com o posicionamento de Rosso. “O governador mantinha até domingo uma posição de neutralidade. Com a decisão de declarar apoio a Roriz, não acho que convém ficar no governo. Respeito a opinião dele, mas apresento a minha divergência”, disse Aguiar.

“Tenho uma história política na cidade, uma ligação forte com o Cristovam (senador Cristovam Buarque) e o meu apoio é para o Agnelo (Queiroz).” O secretário-adjunto da pasta, Jacy Braga rodrigues, também deixou o cargo.