Analista entende que Serra nunca teve começo de eleição tão ruim

Marcos Coimbra, do Vox Populi, aponta que alta rejeição, falta de novo repertório e alto índice de conhecimento pintam cenário ruim para o tucano na disputa paulistana

O candidato tucano à prefeitura paulistana, José Serra, ainda com pouca expectativa de vitória (Fábio R. Pozzebom/ABr/Arquivo)

São Paulo – Conhecido por quase todos, rejeitado por muitos e votado por poucos: José Serra (PSDB) nunca teve um início de disputa eleitoral tão desfavorável. Ao mesmo tempo em que é, de longe, o pré-candidato mais conhecido entre os que disputarão em agosto a prefeitura de São Paulo, o tucano tem poucos instrumentos na mão para mudar o cenário. 

Vindo de uma derrota na eleição presidencial de 2010 e desgastado junto ao partido, Serra é um dos nomes com maior rejeição até agora. Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populi, entende que este nem é o maior obstáculo. “Ele é 100% conhecido e tem, digamos, entre 25% e 30% da intenção de voto, significa inversamente que 70% a 75% da cidade em princípio não vota nele. Esse que é o problema do Serra.”

Na segunda parte da entrevista à Rede Brasil Atual, Coimbra aponta que a imposição da candidatura de Serra é emblemática do momento do PSDB, com dificuldade de renovar quadros e discurso, e sempre se baseando em pesquisas em vez de apostar na formação partidária para o futuro.

Confira a seguir a segunda parte da entrevista à Rede Brasil Atual.

A tendência com o passar dos meses é que a candidatura do Serra veja crescer a rejeição ou consiga superar de alguma maneira essa rejeição?

O problema do Serra não é que a rejeição aumente, pode até acontecer. Do modo como ele conduziu a campanha de 2010, por exemplo, não seria surpreendente se ele voltasse a usar estratégias que possam provocar um aumento de rejeição.  Eu não acho que esse seja o problema. O problema do Serra é que a candidatura dele, a imagem dele já chegou num teto em matéria de conhecimento da cidade. Quando pega qualquer pesquisa feita há mais tempo e outra agora, é conhecido por praticamente 100%. E uma maioria diz que conhece muito bem. Então, se é verdade que ele tem poucas chances de que a rejeição aumente, ele também tem poucas chances de que a simpatia por ele aumente. 

Ele já formou uma imagem quase que integralmente repertoriada. Ele não tem nada que possa dizer para o eleitor – pelo menos ao que parece – que faça com que o eleitor melhore a imagem que tem dele. Também tem pouca coisa a dizer que provoque rejeição porque todo mundo já sabe o que ele tem de bom e o que ele tem de ruim. É nesse balanço de coisas boas e ruins que a candidatura dele tem uma grande dificuldade. Ele é 100% conhecido e tem, digamos, entre 25% e 30% da intenção de voto, significa inversamente que 70% a 75% da cidade em princípio não vota nele. Esse que é o problema do Serra. Não é que tenha uma rejeição, é que ele não parece convencer uma parcela majoritária da opinião pública da cidade. Quer dizer que ele não vai ganhar? Claro que não. Em última instância, a eleição se resolve numa comparação entre dois candidatos, provavelmente no segundo turno. O que o adversário dele fizer também vai ser importante. O fato é que o Serra está começando a candidatura a prefeito nas piores condições da vida dele. Ele nunca teve esse conjunto de elementos tão desfavoráveis, com um conhecimento tão grande, uma rejeição tão alta e uma intenção de votos tão baixa. 

O fato de o PSDB apostar num candidato que já se candidatou uma série de outras vezes, não só em São Paulo, no estado, como na presidência, é emblemático do momento do partido?

Integralmente. E representa um recuo. Uma parcela grande do PSDB de São Paulo não queria que a eleição ficasse dessa forma. Queria avançar com as prévias, queria fazer com que elas permitissem, pelo menos começassem uma vida partidária real dentro do PSDB e pelos integrantes das instâncias mais capilares e que efetivamente tivessem voto e influência na decisão do partido. Isso que não aconteceu, essa é a frustração que marcou a candidatura do Serra desde o nascimento e que se traduziu na vitória apertada que ele teve no que acabou ficando como prévia. Então as prévias de verdade foram suspensas, os candidatos de renovação tiveram que recuar e ao invés de dar o passo adiante, que parecia que iria dar, deram dois passos para trás. 

É claro que isso é sintomático dos impasses da oposição, mas não é a primeira vez que isso acontece. A própria ideia de lançar um candidato que estava à frente das pesquisas é recorrente na história do PSDB, especialmente em São Paulo. No fundo, a candidatura do Serra, em 2007, foi justificada por ele estar à frente das pesquisas. Agora ele foi lançado porque não tinha nenhum nome do PSDB que estava bem nas pesquisas, como se a pesquisa fosse o critério. De outro lado, você tem o Lula mostrando que pesquisa não é para ser obedecida. Pesquisa é para ser analisada politicamente. Se Lula tivesse se baseado em pesquisa, não teria lançado a Dilma nunca, e nem tinha lançado o Fernando Haddad. O Lula está pensando na frente e o PSDB está pensando para trás, essa que é a diferença.   

Uma vitória em São Paulo para o PT cria de fato um cenário tão favorável para 2014 ou uma coisa não se conecta com a outra? 

O cenário de favoritismo para o PT em 2014 é tão expressivo que ganhar ou não ganhar a eleição de prefeito de São Paulo tem pouca importância real. É simbólico, mas a importância eleitoral concreta para 2014 é secundária. Hoje, o Lula, em todas as pesquisas, independente do  adversário, faz cerca de 70%. A Dilma faz cerca de 60%. Na verdade, os dois são tão favoritos, tanto um quanto o outro. A diferença de 10 pontos é irrelevante. Então, hoje o PT tem dois candidatos fortíssimos para 2014. E se o Haddad ganha em São Paulo, o Lula não vai passar de 70%, e nem precisa, e a Dilma não vai passar de 60% e nem precisa. 

O fato é que o PT tem no horizonte uma eleição presidencial com grandes favoritos e a eleição de São Paulo é importante para o jogo estadual porque, se o Haddad ganha, passa a ser um candidato natural para a sucessão estadual, não agora do Alckmin porque eu acho que seria maluco se ele ganhasse a prefeitura e saísse para disputar contra o Alckmin. Ele completa o período dele e aí, sim, está pronto para representar um novo PT no estado. Já estaria na posição e se projetaria para o estado. Essa que é a importância da eleição, não é o impasse em 2014. 

A aposta que foi feita após as eleições de 2010, de que Aécio Neves seria o grande nome da oposição, está vivendo frustrada constantemente?

A candidatura do PSDB está praticamente resolvida. Para ganhar – ou, mais provavelmente, não para ganhar – o Aécio Neves é o candidato natural.  A não ser que surja qualquer problema de imagem dele. Ele está pronto para ser candidato, não sei se ele está pronto para ganhar a eleição, isso é outra questão, que depende desse fator de grande importância que é como é que vem o PT. O que era problema para Dilma em 2010, que era ser pouco conhecida, agora está resolvido. Isso não quer dizer que não seja racional para o PSDB finalmente se apresentar com uma cara diferente da turma do PSDB de São Paulo, que ofereceu todos os candidatos à Presidência. Covas, Fernando Henrique, Serra e Alckmin. Sempre foi assim.  Está na hora de deixar de ser.